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A derrapagem com pneus de chuva na Stock Car PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 06 November 2024 22:09

No mundo das competições de automobilismo, desde sempre os concorrentes procuram encontrar uma maneira – nem sempre honesta – de levar vantagem sobre os adversários. Sempre que um piloto ou uma equipe “descobre algo capaz de fazer a diferença” e mesmo que não haja algo escrito sobre isso nas regras, haja uma lacuna que abra possibilidades.

 

Desde o ano passado corria pelos bastidores da Stock Car, uma categoria onde temos diferenças minúsculas entre os carros – as vezes com 20 carros ou mais virando no mesmo segundo nos treinos – encontrar uma vantagem que traga algum benefício. Na época, a suspeição era que algumas equipes estavam fazendo uso de um produto químico para melhorar a performance dos pneus. Conhecida como “meleca”, conseguiria aumentar a aderência dos pneus e com isso os carros com “pneus melecados”. Mas sendo este recurso conhecido de todos, porque não todos estarem usando. Afinal, a diferença entre os carros continuava igualmente pequena. Isso só leva a crer uma coisa: se algo estava ou está sendo feito, pelo menos com os pneus slick, todos estão fazendo... mas duvido que alguém admita.

 

 

Mas a suspeita ganhou força depois da surpreendente performance dos carros da Crown Racing e TMG nos treinos da etapa do Velopark, em Nova Santa Rita, com pneus de chuva em um circuito de 2,2 km, o desempenho dos carros de Felipe Massa (então líder do campeonato), Rafael Suzuki, Enzo Elias e Felipe Baptista (então 2° colocado) que em alguns momentos, chegou a ser até 2s mais rápido que o restante do pelotão, colocou todo mundo em alerta. Exceção feita a Felipe Fraga, os carros das duas equipes ocuparam 4 das 5 primeiras posições.

 

Apesar de visualmente não haver possibilidade de detecção de qualquer alteração nos pneus, a VICAR e a CBA estavam atentas e os pneus de chuva das duas equipes foram recolhidos e entregues à Hankook – fabricante sul coreana dos pneus da Stock Car – e estes foram enviados à sede da empresa na Coreia do Sul, onde os mesmos seriam submetidos a testes físicos e químicos, capazes de identificar alterações na estrutura do composto caso o mesmo tenha sofrido alguma.

 

 

Ao longo de um mês eu li muita coisa – algumas uteis outras não – sobre o assunto em diversos lugares e fui perguntar a quem entende do assunto. A nossa editora assistente, a Engenheira Mecânica Maria da Graça, que já escreveu sobre como são feitos os pneus em sua coluna aqui no site (leiam aqui), esclarece que a borracha dos pneus passam por um processo chamado ‘vulcanização’, nome dado ao processo químico que modifica as características naturais do látex. Através da combinação com uma porcentagem de enxofre, o material se torna mais resistente e pode ser usado para a fabricação de pneus. Essa mistura inusitada foi descoberta acidentalmente em 1836, por Charles Goodyear (sim, Goodyear), ao derramar enxofre e látex sobre um fogão. O resultado obtido foi uma borracha mais resistente e fácil de ser trabalhada do que a existente na época. O gênio que por muito tempo escreveu para o Nobres do Grid, o professor Luiz Mariano também nos deu uma aula sobre como foram desenvolvidos os pneus atuais (leiam aqui).

 

Todo fabricante de pneu passou a usar deste recurso na fabricação de seus pneus, que com diferentes proporções dos ingredientes, criam compostos mais duros, mais macios, mais resistentes, etc. Qualquer alteração na composição dos pneus, caso estes tenham sofrido alguma, poderá ser detectado e a suspeita é que os pneus tenham passado por um segundo processo de ‘vulcanização’, visando aumentar sua maciez, elasticidade e resistência.

 

 

Antes mesmo do resultado laboratorial feito pela Hankook na Coreia do Sul, a VICAR antecipou-se e estabeleceu a criação de um ‘Parque Fechado dos pneus’, com o intuito de limitar o tempo em que os compostos ficam com as equipes, diminuindo as chances de qualquer ação fraudulenta por parte dos times. As equipes vão receber os pneus minutos antes das atividades de pista e devolvê-los assim que tudo acabar.

 

Laudo deveria sair antes da etapa de El Pinar. Depois passou para 1° de novembro, mas todos estariam concentrados no Grande Prêmio de São Paulo da Fórmula 1. A notícia do resultado – e as consequências – vieram à mídia na terça-feira, dia 5, com constatação que as equipes alteraram os pneus para uso no piso molhado do circuito gaúcho. A Hankook detectou mudanças nas características, principalmente físicas (dureza e elasticidade), mas também químicas, o que iria contra o regulamento técnico. Foi constatado que a borracha estava cerca de 39% mais 'macia' que o normal.

 

 

O resultado imediato disso foi a desclassificação das equipes TMG Racing e Crown Racing da etapa do Velopark da Stock Car pela Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) por adulteração dos pneus, item não previsto no regulamento técnico da categoria, conforme a TMG tentou justificar logo após a etapa. Com isso os pilotos perderam os pontos conquistados nesta etapa e ainda disponibilizou todos os pneus – slicks e de chuva – utilizados na temporada. A equipe Crown Racing argumentou que o processo realizado nos pneus de chuva, usados apenas na classificação no Velopark, não é expressamente proibido pelo regulamento. As duas equipes já deixaram claro que irão recorrer no STJD.

 

A parte mais interessante do processo foi a posição enfática da TMG de que seus pilotos (Felipe Massa e Rafael Suzuki) não sabiam dos procedimentos feitos pela equipe. Isso lembrou-me, imediatamente, do escândalo do roubo dos projetos da Ferrari e entregues à McLaren em 2007 e do meticuloso planejamento para a batida proposital de Nelsinho Piquet no GP de Singapura em 2008 onde Fernando Alonso “não sabia de nada”.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. 

  
Last Updated ( Thursday, 07 November 2024 00:35 )