E aê Galera... agora é comigo! O primeiro final de semana do ano ainda estou em ritmo de férias e, depois de alguns dias no Jalapão com a família, vamos falar um pouco sobre automobilismo e recordar algumas passagens da história pra darmos umas risadas. As férias deveriam ser mais longas, mas como o calendário das categorias brasileiras que vou fazer a cobertura vai ter o início em janeiro, com a primeira etapa da Fórmula Truck e ainda em fevereiro já teremos a abertura do calendário da Turismo Nacional, a folga vai ser mais curta. A história desta semana que resgato das minhas antigas colunas tem a ver com uma passagem – sem faltar o respeito à Emerson Fittipaldi – mas que mostra como o tempo é impiedoso, mas também mostra que faltou pouco para que a equipe dos irmãos Fittipaldi desse certo e se estabelecesse na Fórmula 1. Faltou investimento, faltou confiança no trabalho da equipe e faltou respeito por parte da imprensa nacional e da sociedade brasileira. O dia que o Keijo assustou o Rato! (Link da publicação original) No final da temporada de 1979, Walter Wolf, proprietário da equipe que levava seu sobrenome na F1 e que chegou a conquistar três vitórias na sua primeira temporada e o vice-campeonato de pilotos com Jody Scheckter – que venceu logo na estreia – depois de uma temporada sem pontuar (1979) decidiu desistir da Formula 1. Wolf encerrou as atividades vendendo a sua equipe pelo melhor preço que conseguiu e quem comprou o “pacote” foi Wilson Fittipaldi, que com dificuldades de trabalhar um projeto do zero depois do fracasso do F6, ficou com os ativos da Wolf. No “pacote” veio o projetista Harvey Postletwaithe, acompa-nhado de um jovem assistente, um tal de Adrian Newey. Além de um piloto. Um baixinho bigodudo chamado Keke Keijo Rosberg. Os F7 foram construídos sobre a base do Wolf WR8/9. Emerson Fittipaldi continuava a ser o piloto principal e Keke Rosberg parecia um daqueles alunos nerds, que nem pisca os olhos na sala de aula para não perder nada. O finlandês começou na F1 em 1978, na pequena Teodore, que usava chassis defasados da Wolf. Fez as duas últimas corridas do ano pela ATS, mas em 1979, foi substituir Jody Scheckter na Wolf, mas esta já não era a mesma. Foram duas temporadas sem nenhum ponto. Quando a equipe Fittipaldi chegou na Argentina e os carros – sem a pintura da Coopersucar, mas da Skol – foram para a pista, o Keijo assustou o Rato. Keke Rosberg cravara um tempo quase dois segundos mais rápido do que o que Émerson conseguiu fazer. O problema é que, no final do treino, o finlandês perdeu o carro numa das curvas e destruiu o seu F7. Nos boxes, depois dos treinos, os Fittipaldi conversavam e Emerson chegou a questionar se não era uma questão de motor. Wilsinho logo disse que não, que os dois motores estavam testados no dinamômetro e a diferença entre eles era de míseros três cavalos em quase 500 cv. O novo piloto do time parecia ser um fenômeno! Na pré-temporada, Keke Rosberg mostrou-se um atento ouvinte das palavras do bicampeão do mundo, Emerson Fittipaldi. No sábado, no treino seguinte (naquela época tinha treino livre e treino oficial na sexta e no sábado). Enquanto Emerson sofria para tentar classificar o carro, sendo 5,25 segundos mais lento que o pole position, Keke Rosberg marcava o 13º tempo usando aquele que era o carro reserva da equipe, que teoricamente estava reservado para Emerson Fittipaldi, sendo quase dois segundos e meio mais rápido que o bicampeão do mundo. Só que, tentando melhorar seu tempo, Keke Rosberg sai da pista novamente e destrói o carro reserva! Emerson estava furioso nos boxes e argumentava: “de que adianta ser rápido se não consegue manter o carro na pista e os destrói?” Wilsinho teve que conteporizar... e tentar fazer uma mágica entre o cair da tarde do sábado e o amanhecer do domingo. Wilsinho designou dois mecânicos da equipe para revisar o carro de Emerson Fittipaldi e reuniu o restante da equipe com uma missão: tentar fazer do que sobrou dos dois carros que Keke Rosberg destruiu na sexta-feira e no sábado um carro para o finlandês correr no domingo. Era quase impossível. Mas brasileiro é aquele tipo de gente que é capaz de fazer o impossível e a equipe era muito boa. Eram 5 horas da manhã quando o motor do carro número 21 virou nos boxes da equipe Fittipaldi. Cansados, todos foram tomar um banho, um café e tirar um cochilo antes do warm up. Nos treinos, Keke andou forte... e também bateu forte! Destruiu um carro na sexta-feira e outro no sábado. Quando Keke Rosberg chegou no autódromo não acreditou no que viu: ele teria um carro para correr! No warm up, treino da manhã, o finlandês “pegou leve”, mas testou o carro para ver se estava tudo bem. Terminado o treino, Keke Rosberg saltou do carro e deu um abraço daqueles de irmão em Wilsinho Fittipaldi, dizendo que o carro estava perfeito e que ele não tinha como agradecer. Na corrida, ainda na primeira volta, Keke Rosberg deixou quatro adversários para trás, passando em 9º pela linha de chegada, para euforia dos boxes da equipe brasileira, que também viu Emerson ganhar 6 posições na primeira passagem. Na volta seguinte, Keke Rosberg superou a McLaren de um estreante e promissor piloto francês chamado Alain Prost e partiu par a briga contra as Ferrari, campeãs do ano anterior, com Jody Scheckter e Gilles Villeneuve, que o ultrapassou na sétima volta. O ritmo de corrida do F7 era bom e as Ferrari não conseguiam abrir distância. Quando a Williams de Carlos Reutemann começou a ter problemas e perder terreno, o trio superou o argentino e o carro brasileiro estava entre os seis primeiros no início de uma corrida, e não no final, por não quebrar, como costumava acontecer. Na corrida, Keke Rosberg acompanha de perto a Ferrari do vice-campeão Gilles Villeneuve. Foi justamente a resistência que fez a segunda parte do feito. Apesar de ter sido superado por Ricardo Patrese com sua Arrows na 13ª volta, o carro amarelo continuava próximo e na segunda metade da corrida, os abandonos de Ricardo Patrese na 28ª volta, de Jaques Laffite na 31ª, de Gilles Villeneuve na 37ª e de Jody Scheckter na 46ª levaram Keke Rosberg e o carro da Fittipaldi ao terceiro lugar. Uma colocação que nem o mais otimista dos membros da equipe poderia esperar. Se no início dos anos 70, um certo Rato rugiu alto no mundo da Fórmula 1, depois de duas temporadas sem muita exposição, no início dos anos dos anos 80, era a vez do Keijo começar a mostrar ao que veio. Ficou dois anos na equipe brasileira e, no segundo ano, com Emerson Fittipaldi fora do carro e fazendo o trabalho de chefe de equipe, Rosberg foi para a Williams no ano de 1982 para tornar-se campeão do mundo! Sessão Rivotril. Seguindo meu mestre inspirador, está na hora de receitar as pílulas da semana. - Não bastasse a dura perda de Gil de Ferran, na noite de natal o Tigrão, Wilson Fittipaldi Jr., comemorando 80 anos de idade naquele dia, engasgou na hora do almoço e com as vias aéreas bloqueadas, precisou de socorro médico. Ele chegou a ter uma parada cardíaca, mas foi reanimado e está hospitalizado. Força, Tigrão. Felicidades e velocidade, Paulo Alencar Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. |