Caros Amigos, Esta coluna deveria ter sido publicada na semana passada, mas precisei passar alguns dias em repouso dada a minha condição de saúde um tanto quanto precária desde o acidente sofrido há 10 anos. Retomando de onde parou meu raciocínio, o escritor inglês William Shakespeare certamente é um personagem da história de fácil conhecimento por uma parte considerável dos meus estimados leitores. Dentre as inúmeras obras que ele escreveu, Hamlet talvez seja a mais conhecida do público em geral, especialmente pela expressão “ser ou não ser? Eis a questão”, onde o príncipe da Dinamarca se questiona sobre a aceitação da existência. O assunto desta nossa interação também pode ser relacionado ao reino animal. Uma curiosidade dos pássaros Cuco é que a fêmea coloca seu ovo em ninhos de outros pássaros. O filhote de Cuco cresce mais rápido, domina o ninho, devora os outros filhotes e usufrui de tudo que os pássaros adultos provém. Tivemos há cerca de 10 dias a abertura oficial do novo autódromo de Minas Gerais para o automobilismo nacional: o Potenza. Esta nova praça para o esporte a motor recebeu a Copa Truck, a Copa HB20 e a GT Sprint Race, mostrando que tem capacidade para colocar em um mesmo evento mais de 80 veículos, incluindo caminhões, o que mostra ter espaço para outros eventos de grande porte, mais do que alguns dos nossos atuais autódromos possuem. A relação entre o Potenza, Shakespeare e o pássaro Cuco pode não fazer sentido, mas é facilmente explicável. Eu recebi de alguns dos meus estimados leitores um texto que estava em nome do Sr. Johnny Bonilla, responsável pelo projeto e construção do novo autódromo. Neste texto ele diz que para pequenas cidades como Lima Duarte conseguirem se fazer visíveis e ganhar recursos além dos seus orçamentos, investir na construção de autódromos é um caminho para isso. Esta é uma meia verdade. É preciso vermos o que há além do olhar do construtor de autódromos e ver quantos e quais benefícios podem ser colhidos. O novo autódromo mineiro fica em uma pequena cidade chamada Lima Duarte, de menos de 20 mil habitantes, um pouco menor que Guaporé. Diferente de Guaporé, onde o autódromo fica no final da cidade, bem próximo do centro, o Potenza fica a cerca de 12 km do centro de Lima Duarte, uma cidade que não tem uma infraestrutura para receber um fluxo de pessoas para eventos sazonais como os ligados ao esporte a motor. É inegável que vá haver um incremento nas receitas geradas ao município, mas a cidade de Juiz de Fora, localizada a pouco mais de 20 km do autódromo. Uma cidade com infraestrutura hoteleira, de restaurantes e em condições de hospedar pilotos, equipes, caravanas de torcedores, etc. Quando foi construído, em meados dos anos 60, o AIC, hoje localizado dentro da área urbana da grande Curitiba e no município de Pinhais, era distante dos centros urbanos como hoje é o Potenza. Pinhais era um distrito e só foi emancipada como cidade nos anos 90. Mesmo se tornando um município – muito maior do que Lima Duarte – não conseguiu se tornar um polo hoteleiro ou gastronômico para segurar o público e os profissionais que iam trabalhar no autódromo em seus limites. Eles iam (e vão) para Curitiba, usar as redes hoteleiras e gastronômicas de lá. Então porque manter um autódromo em seu município se eles geram muito mais renda para outros municípios do que para eles mesmos? Cascavel, no Paraná, é um bom exemplo da boa – e rentável – relação entre um autódromo e uma cidade de médio porte, com alguma infraestrutura e que tenha, paralelamente ao potencial espaço para um autódromo, um parque industrial de porte compatível, uma rede hoteleira, uma rede gastronômica e de entretenimento. Um autódromo para ser viável para quem o constrói, para quem o administra e para o município onde ele vier a ser instalado precisa estar integrado ao que a cidade tem e pode oferecer. A premissa do Sr. Bonilla é válida e pode ser aplicada em alguns municípios do país, desde o Nordeste, onde a recuperação do autódromo de Caruaru-PE seria um excelente exemplo do que expus acima como também o interior paulista e algumas cidades de Santa Catarina. Com três anos de mandato pela frente, os prefeitos deveriam estar atentos a isso. Um abraço e até a próxima, Fernando Paiva |