Caros Amigos, o dom da adivinhação não é, definitivamente, uma das minhas habilidades e mesmo para aqueles que se apresentam como portadores deste dom, eu reservo-me o direito de questionar a mesma, por convicções. Esta semana não deve estar sendo fácil para os dirigentes da Fórmula 1 e seus proprietários, o Grupo Liberty Media, que além de lidar com toda a celeuma em torno da punição de Sebastian Vettel no GP do Canadá, tem agendada para esta sexta-feira, dia 14, mais uma reunião sobre o futuro da categoria. Como opiniões não se tratam de adivinhações, eu não creio que teremos todos os membros desta nova rodada de negociações saindo da sala de reunião com um sorriso no rosto. São muitos pontos polêmicos e questões que confrontarão interesses, especialmente das grandes equipes, mas não posso deixar de louvar o trabalho de Ross Brawn, que sendo – talvez – o único integrante da alta cúpula da gestão da categoria a realmente entender o que é a Fórmula 1, vem buscando soluções para atender ao máximo todas as partes. A busca por um carro “mais standard”, que aproxime as equipes é um sonho desde o princípio do Grupo Liberty Media e o carro da temporada de 2011 que eles buscam partiria de princípios como ter uma distância entreeixos menor, um efeito de turbilhonamento de ar na saída do carro menor, um motor – ou unidade de força – menos complexa (talvez, por conseguinte, mais barata) e mesmo o uso de um combustível sintético, para reduzir as emissões de carbono. A questão que tem o potencial de causar reações pouco conciliatórias é o falado há tempos “limite orçamentário”. Motivo de conflitos em um passado não muito distante, a discussão sobre quanto dinheiro cada equipe tem disponível para gastar e a diferença de valores entre elas sendo a principal causa da distância de performance entre as equipes quase desencadeou uma “greve” em 2014. As equipes menores como Sauber, Caterham, Marussia e Force India chegaram a ameaçar não correr no GP dos Estados Unidos, o que seria um desastre mercadológico no país em que a categoria trabalha há décadas para se estabelecer. Não há a menor chance de uma proposta radical, como tentou Max Mosley, ex-presidente da FIA em 2009, por isso que a apresentação de Ross Brawn vai ser feita em um tom mais ameno, estabelecendo um limite de gastos, mas deixando algumas coisas de fora, algo que se não é o mundo perfeito, ao menos pode, efetivamente, provocar uma aproximação entre as equipes competidoras... na teoria. O valor que deve ser apresentado como teto orçamentário seria de 175 milhões de dólares, mas não entrariam nesta conta os salários dos pilotos (Os grandes times pagam alto para ter pilotos. Lewis Hamilton, estima-se, ganha mais de 35 milhões por ano), além dos seus diretores. Não entram nesta conta o desenvolvimento das unidades motrizes (que as equipes menores compram), além dos investimentos em publicidade, deslocamentos, hotéis, alimentação. Abatidas estas despesas e investimentos, o que as grandes equipes terão que reduzir em termos de valores aplicados para uma temporada na categoria sofrerá uma redução, evidentemente, mas não transformará por completo o grid, tornando uma Mercedes em uma Racing Point, por exemplo, contudo, pode ser capaz de reduzir a diferença entre elas e, quem sabe, criar uma competição mais justa. Justiça é um ponto que me remete de volta ao que aconteceu em Montreal no último domingo. Estabeleceu-se uma divisão entre prós e contra a punição de Sebastian Vettel com o acréscimo de 5 segundos ao seu tempo de prova. Muitos, inclusive, usaram imagens de um episódio com alguma semelhança ocorrido em 2016 entre Lewis Hamilton e Daniel Ricciardo, onde o piloto inglês não foi punido. Não serei eu mais um a emitir opiniões em sites e ver esta sendo reverberada, aceita ou não, pelas redes sociais. Muitos já fizeram isso pelo mundo inteiro nos últimos dias. Vou apenas colocar uma situação que temos visto com mais frequência, devido a exposição que o futebol tem nas mídias em geral – principalmente na televisão – que há alguns anos recebeu a “ferramenta” do VAR, ou “árbitro de vídeo”. Mesmo com tal recurso, que deveria ser o “resolvedor de problemas”, o “dirimidor de dúvidas”, as mesmas questões, mesmo sendo vistas e revistas, ainda tem causado polêmicas e discussões entre os próprios responsáveis pelo sistema (os árbitros). Tudo isso está ligado ao fato de que o componente humano e sua interpretação ainda tem o peso e a palavra final. A conclusão que chego – e que meus estimados leitores podem concordar ou não – é que vão questionar se a punição foi correta ou não, se mudar a F1 é bom ou não, se o teto orçamentário deve ser aprovado ou não, se vai haver mais competitividade ou não... enquanto houver subjetividade, sempre haverá questionamentos. Um abraço e até a próxima, Fernando Paiva |