Caros Amigos, sempre considerei meu pai uma pessoa muito sábia. Ao longo da minha vida vi o quanto ele era respeitado por seus alunos e seus colegas de trabalho. A forma como ele buscava transmitir até mesmo as coisas mais simples acabavam se tornando verdadeiras lições de vida, lições estas que me são úteis até hoje, na minha vida profissional e nas relações interpessoais. Meu pai nos deixou – penso eu – mais cedo do que devia, mas uma de suas últimas palavras para mim foi: “filho, o tempo é o senhor da razão. Eu tenho muito orgulho de vocês, muito amor por todos e sei que em qualquer lugar para onde eu vá, sempre estaremos juntos”. Ele nunca falou sobre isso, mas penso que talvez o fato de nenhum dos filhos ter seguido seus passos na medicina tenha sido motivo de alguma frustração. O tempo é uma coisa efêmera. O dia tem 24 horas, a semana tem 7 dias e o ano – exceção dos bisextos – 365 dias. Mesmo assim o tempo parece estar passando cada vez mais rápido, com os acontecimentos se precipitando de uma maneira avassaladora, com todos aparentemente correndo atrás de alguma coisa urgente, vital e virtualmente inalcançável. Acho que tem algo errado neste processo. Posso estar sendo repetitivo em minha linha de raciocínio, mas tenho visto uma condição de angustiada busca por algo diferente no automobilismo como um todo e na Fórmula 1 em particular. Por um lado as inesperadas mudanças no status de alguns pilotos foi algo que me chamou demasiadamente a atenção, especialmente o caso de Daniel Ricciardo, que foi tratado com a indiferença que não se deve dispensar a um ser humano. Quando o australiano chegou à equipe Red Bull, que dispensava um tratamento de capacho ao então segundo piloto, o também australiano Mark Webber, Sebastian Vettel era tetra campeão mundial, mas o regulamento da categoria passava por uma modificação profunda e Daniel Ricciardo soube não apenas se entender melhor com o equipamento que a equipe colocou nas mãos de seus pilotos como foi dominador ante o então coroado piloto da equipe. Sebastian Vettel foi para Ferrari levando na bagagem uma enorme desconfiança sobre suas reais capacidades, as quais jamais questionei. A questão da saída de Daniel Ricciardo para a Renault tem nuances mais suaves, mas mesmo assim, incômodos. A forma como Max Verstappen foi rasgando espaço na estrutura da Red Bull vem desde a Toro Rosso, quando um sonoro “não”, durante o GP de Singapura, mostrou a personalidade forte daquele adolescente de 17 anos ao volante de um carro de Fórmula 1 e desafiando o chefe da equipe – Franz Tost – descumprindo a solicitação de inversão de posição com o companheiro de equipe, Carlos Sainz Jr. É evidente que a Red Bull não vê – e eu considero isso um erro – mais em Daniel Ricciardo aquele piloto que vai fazer a diferença e conquistar títulos para a equipe. Eles estariam vendo isso em Max Verstappen? Para mim é uma aposta extremamente arriscada, dado o temperamento do, hoje, jovem piloto holandês que vai liderar o time – oficialmente – a partir da próxima temporada. Eu continuaria apostando em Ricciardo. Da mesma forma, com a saída de Fernando Alonso, a McLaren encaminha-se também para uma aposta arriscada: Trazendo Carlos Sainz Jr para vir a fazer dupla com o potencialmente astro da casa, Lando Norris fará com que, assim como a Red Bull, a McLaren tenha uma baixíssima faixa de idade entre seus pilotos, mas sem chegar ao extremo da equipe austríaca. O estimado leitor, que leu o meu perfil que prestou atenção nas vezes em que falei sobre minha formação acadêmica pode me questionar se eu não estou sendo incoerente, visto que muitos dos líderes na área de dados e tecnologia são muito jovens. Concordo, mas para se pilotar um carro de Fórmula 1 não basta apenas talento e arrojo. Campeões foram forjados so longo da história da categoria com seus erros, suas derrotas seu amadurecimento e seu sucesso. Será que estou sendo pessimista demais com estes jovens? Vejamos os casos de Pascal Wherlein, Esteban Ocon, Daniil Kvyat, Stoffel Vandoorne, Jholion Palmer, Felipe Nasr e tantos que, não tiveram tempo de se firmar na categoria e foram “descartados”. Convido-os a esperar e voltarmos a falar sobre o assunto. Afinal, o tempo é o senhor da razão! Um abraço e até a próxima, Fernando Paiva |