Faz muito tempo mesmo. Foi na década de 90 e não me recordo se ele já tinha chegado ou faltavam detalhes para acertar com a Jordan, sua primeira equipe na Fórmula 1, mas tenho uma historinha interessante sobre Rubens Barrichello, que disputa a Stock Car e até hoje é o recordista de corridas na F1. Acompanhei boa parte da carreira dele em todas as várias categorias preparatórias durante a década de 90. Eu sabia, e meus editores no Globo também tinham certeza, que ele chegaria lá, como chegou. Nossa amizade vem daquela época em que ele era um piloto praticamente desconhecido a ponto de ir na escola Nossa Senhora da Glória, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, falar com os alunos, entregar seus cards, dar autógrafos e tirar foto com a molecada. Tudo bem ciceroneado pela sua então assessoria, comandada pelos amigos Dinho Leme e aos cuidados da Fátima Paiva. Rubinho fazia de tudo para dar retorno aos seus patrocinadores. Nada além do que todos os pilotos profissionais devem fazer. Certo que alguns, quando chegam lá em cima, param de tratar o assunto com tanta preocupação, mas isso é outra história. Um dia, do nada, liguei para o pai dele, o Rubão, para ver o que o filhote promissor fazia e descobri que estava correndo a pé num parque da Zona Sul da capital paulista, onde ele morava. E ele me disse que depois de dar voltas e voltas no local, ao voltarem para o carro iam sair quando algo chamou a atenção dele e viram que as porcas da roda traseira tinham sido afrouxadas. Isso faria com que todo o conjunto se soltasse depois de algum tempo andando e poderia provocar um acidente. Rubens Barrichello na F. Opel em Jerez de la Frontera. Em 1990, o brasileiro não era uma promessa, era uma certeza a caminho da F1. Atentado? Inveja? Não acredito em nada disso. O que me passou pela cabeça foi que alguém queria furtar as belas rodas e, assim que começou a gatunagem, viu que eles estavam retornando e parou. Fugiu, claro, sem se preocupar em reapertar as porcas. Rubão me contou essa história e, imediatamente, repassei para o Álvaro Oliveira, meu grande editor de esportes que não futebol, no Globo. Alvinho achou boa a matéria e, já pela hora do almoço, reservou espaço para meu texto. Claro que não tínhamos foto do furto, mas o fato em si já era notícia. Afinal, o cara estava às portas da Fórmula 1. Quando liguei para o Rubão para tentar pegar mais uns detalhezinhos sobre a muvuca, ele me pediu para não publicar nada. Confesso que ainda tentei, mas a chefia já estava sabendo do que eu tinha em mãos e, claro, recusou o pedido. Coisas da vida. O texto saiu, ninguém criou qualquer teoria da conspiração/atentado e Rubinho continuou sua vida. Claro que depois dessa, com um pouco mais de cuidado onde deixava o carro para treinar. Milton Alves |