Caros Amigos, nestes últimos 10/11 dias o Brasil e (quase) todos seus habitantes passaram por uma situação que, até onde tenho informação, sem precedentes em sua história devido à greve dos caminhoneiros que paralisou o país, desabasteceu os mercados consumidores e – ainda – está gerando prejuízos bilionários em tod cadeia produtiva. Desde o agro negócio até as indústrias de alta tecnologia. Quem está acompanhando o movimento de paralisação desde antes do seu início, cerca de duas semanas antes de sua deflagração, acompanhando os noticiários dos principais portais de informação e todos os grandes veículos de mídia do país vinham noticiando protestos isolados em algumas localidades do país e um profundo sentimento de reprovação por parte dos profissionais transportadores de cargas rodoviárias, algo pouco superior a 61% do transporte de cargas no Brasil. Uma categoria de trabalhadores que detém um poder tão grande e que, como estamos vendo, tem a capacidade de, através de comunicação por redes sociais, mobilizar-se por todo o território nacional em um país com as dimensões do Brasil não pode nem deve ser negligenciada ou ignorada como foi antes do início da greve que parou o país. É evidente que faltou visão gerencial ao governo em todos os seus níveis para enxergar a tempestade que se formava diante dos seus olhos. Usado este parâmetro de força, vejamos a “tempestade” que se aproxima com o andar da temporada de 2018 na Fórmula 1. Há algumas semanas eu publiquei aqui neste espaço que me reservo um texto elogiando o Grupo Liberty Media e a FIA por terem conseguido quebrar o bloqueio imposto há anos pelas equipes nas reuniões deliberativas do “Grupo de Estratégia”. Não restam dúvidas que as mudanças que estão sendo propostas pelo grupo de engenheiros liderados por Ross Brawn estão corretas no sentido de buscar aumentar a competitividade entre as equipes e aumentar as disputas na pista para as corridas serem mis interessantes, mais emocionantes, com ultrapassagens e assim despertar mais interesse em um público cujo o interesse pelo espetáculo (atenção para a referência: espetáculo e não esporte) que cai pouco a pouco de uma forma geral e cuja a faixa etária dos fãs vem subindo, apontando para uma perda de interesse das gerações mais novas. O problema reside na outra ponta da corda deste cabo de guerra, exatamente onde estão as duas equipes mais poderosas da categoria: Mercedes Benz e Ferrari. Como seria natural, quem tem um poder criado por uma determinada situação ou conjunto de circunstâncias não quer nunca abrir mão deste benefício, que proporciona a estes uma melhor condição de conquista de objetivos. Quando houve a mudança na regra dos motores, esta beneficiou tremendamente à Mercedes Benz, que já vinha trabalhando neste tipo de tecnologia há algum tempo e a vantagem foi tamanha que sua “equipe satélite”, que recebeu motores similares – a Williams – conseguiu um grande desempenho naquele primeiro ano da nova regra, em 2014. Se até então a categoria tinha uma força hegemônica onde a grande virtude era a construção do carro, passou-se a ter uma nova força cujo o maior trunfo era o poder do seu motor. Entre as equipes da categoria, há apenas uma que tem em seu princípio – desde o princípio – aliada a sua estrutura de fabricante de veículos: a Ferrari. Com o combustível financeiro que tem para alimentar a sua performance como equipe de competição, a alocação de investimentos faz com que a equipe italiana sempre consiga, mesmo depois de passar algum tempo encontrar o caminho, diminuir a distância para seus adversários. Foi assim com o domínio da Red Bull, onde em alguns momentos eles conseguiram desafiar a liderança dos taurinos austríacos e mais recentemente, quando no ano passado endureceram a disputa pelo título e este ano pareciam ter realmente largado na frente para quebrar a hegemonia alemã. O que vimos desde o anúncio no final do mês passado de que as coisas iriam começar a mudar já em 2019 para uma mudança ainda maior a partir de 2021 tem levado as duas potências, a fazer seu jogo de pressão cada vez mais duro junto à FIA e ao Grupo Liberty Media com a ameaça de deixarem a categoria mais importante do automobilismo mundial. A questão é: até onde Mercedes e Ferrari vão “esticar a corda”. A Mercedes já tem dado passos em um outra direção desde que anunciou sua saída do Campeonato Alemão de Turismo (o DTM), categoria que foram os maiores fomentadores em seu início e ao longo de muito tempo, e já deixou claro que tem os olhos – e os euros – voltados para o investimento na tecnologia dos carros elétricos, usando a Fórmula E, inicialmente em uma parceria com uma equipe já estabelecida, para depois desembarcar com toda força. Foi assim na Fórmula 1, para quem não se lembra. Primeiro veio a parceria como fornecedora de motores para a McLaren. Por outro lado, desafio meus estimados leitores e mesmo os profissionais da mídia especializada a conjecturar sobre uma Ferrari movida por baterias ao invés de um portentoso motor de combustão interna. Apesar de que, durante décadas Ferrari foi sinônimo de verdadeiras “sinfônicas” de 12 cilindros, mas que depois, por necessidade de manter-se competitiva, desenvolveu seus motores de 8 cilindros e hoje investe pesadamente nesta “unidade de potência” de 6 cilindros e particularidades que apenas a Fórmula 1 possui. A minha esperança é que em se tratando de pessoas melhor preparadas e interessadas no sucesso de um projeto como é a Fórmula 1, o Grupo Liberty Media saberá negociar melhor do que os nossos políticos a forma de como lidar com este jogo de pressão e assim evitar uma saída de Mercedes e Ferrari da categoria. Mas que a pressão sobre eles será enorme, disso não creio que alguém duvide. Um abraço e até a próxima, Fernando Paiva |