Caros Amigos, acredito que uma parte considerável dos meus leitores já ouviu a expressão “o certo é o certo e o errado é o errado” (com uma ou outra possível variação), mesmo que em algumas situações o certo seja questionado em função de algo errado que agradou ou agrada mais do que aquilo que é certo. O fato é que o errado precisa ser considerado errado, mesmo que este ato esteja na moda, “todo mundo” esteja fazendo ou se tenha um bom motivo para fazê-lo, o ato errado precisa ser punido. Acredito que por maiores que sejam suas razões, “pensar estar certo não lhe dá o direito de fazer o errado”, principalmente se isto atender a sua conveniência. Porque só assim o certo continuará a ter sentido e os valores morais continuarão a reger a índole, o caráter e o respeito entre os seres humanos. Todo este preâmbulo sobre certo e errado é apenas a ponta da ponta do iceberg que caiu como uma bomba logo após o final do GP dos Estados Unidos de Fórmula 1, quando o mais audacioso e de mais personalidade entre os pilotos surgidos nos últimos anos – Max Verstappen – protagonizou uma ultrapassagem sensacional sobre Kimi Raikkonen e sua Ferrari... mas acabou punido dom 5 segundos em seu tempo de prova e voltou para o 4º lugar por ter excedido os limites da pista. Como diria aquele comentarista de arbitragem da televisão, “a regra é clara” e os regulamentos técnico e desportivo da Fórmula 1 procuram ser o mais claros, o mais precisos e buscam ao máximo não deixar “furos” (algo que há algum tempo não tem deixado). A regra, no caso, é o “limite da pista”, que tem suas faixas brancas de um lado e do outro do trecho asfaltado e aos olhos da lei, nua e crua, o piloto da Red Bull infringiu o artigo 27 parágrafo 3 do código desportivo, que diz que um piloto não pode ter as quatro rodas do carro fora da linha branca que delimita a pista e obter vantagem com isso. Em uma corrida no “padrão FIA” e seus associados, a mesma tem, além do Diretor de Prova, três Comissários Desportivos e há algum tempo, depois de muitos protestos por decisões que foram duramente questionadas no passado, a FIA passou a convidar um piloto experiente de conhecimento internacional para assessorar os comissários, que no caso da Fórmula e, não são nem um pouco inexperientes. A equipe formada por Mika Salo (piloto consultor), Gary Connelly, Radovan Novak e Dennis Dean decidiu pela punição do piloto. Contudo, a decisão foi mais comentada do que a praticamente ratificação do quarto título de Lewis Hamilton. Como mencionei anteriormente, o regulamento é muito estrito... e talvez estrito demais! Felizmente o diretor de imagens concentrou seu foco na batalha entre Kimi Raikkonen e Max Verstappen ao invés de acompanhar a volta final de Lewis Hamilton, mostrando apenas – por alguns segundos – quando o inglês cruzou a linha de chegada, voltando em seguida à disputa. As imagens não mentem: Max Verstappen moveu seu carro para dentro da curva, ultrapassando a linha branca do limite da pista com as quatro rodas, mas no primeiro momento para evitar o choque com Kimi Raikkonen. O finlandês foi – evidentemente – surpreendido, mesmo tendo visto-o pelo retrovisor como posteriormente confessou, quando percebeu o holandês estava com a Red Bull ao lado da Ferrari quando Kimi foi contornar a curva. O toque seria iminente e os dois pilotos “desviaram” os respectivos carros para não jogar fora a corrida na última volta. A Ferrari, para fora da curva. A Red Bull, para dentro! Definitivamente não foi um “crime doloso” da parte do jovem holandês... mas ele saiu da pista. Isso não tem como negar. Estes circuitos modernos tem um problema muito sério: asfalto demais! Observem como o COTA tem o limite da pista, uma faixa de asfalto pintada, quando não a zebra e depois asfalto pintado, algo que acaba propiciando que saídas de pista – que no caso do fato em questão foi, evidentemente, para evitar uma colisão – talvez não fosse uma manobra considerável se o piloto fosse enfrentar terra ou grama ao invés de asfalto. Faço um parênteses para citar que o último dos citados é norte americano e em 1996 uma ultrapassagem épica feita por Alessandro Zanardi sobre Bryan Herta em Laguna Seca, na F. Indy que, usou o asfalto além do limite da pista para consumar uma manobra de puro arrojo. Se o Grupo Liberty Media quer mudar a imagem da Fórmula 1, modernizá-la e atrair mais público, deveria usar o que aconteceu em Austin no último domingo para que o esporte e o talento de seus praticantes fosse mais importante e nisso não tenho como não lembrar as manobras arrojadas de Gilles Villeneuve, que por sua combatividade, arrojo e deliciosos flertes com o que parecia ser o limite do senso de responsabilidade. Nos dias de hoje ele já teria ganho algumas punições bem severas e por seus feitos, é lembrado até hoje. Se aos olhos do regulamento a decisão dos comissários foi a aplicação do certo, talvez no sentimento do esporte o certo tenha sido o errado. Um abraço e até a próxima, Fernando Paiva
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