Há 20 anos atrás, quando Suzane Carvalho decidiu dar uma radical guinada na sua vida, nem a sua mãe – Lia Farrel – esperava que a mais nova de suas filhas fosse tão longe. Nas fotos acima, diversos momentos da vida artística de Suzane Carvalho, desde seu primeiro comercial, ainda criança. Assim como a irmã – Simone – Suzane enveredou pelo caminho da arte dramática, seguindo a escola da mãe. O que poucos sabiam é que aquela menina espevitada tinha um desejo incontido: Ser piloto de corridas! Ela acompanhava tudo pela TV, lia tudo que podia, era como qualquer garoto que viu o Fittipaldi ser campeão do mundo e queria ser como ele. Estando em uma família de artistas, logo a nossa Ás do volante decolou na carreira... dos palcos! Tendo começado a fazer comerciais ainda criança, estreou no teatro com apenas 13 anos. No cinema com 14! Aos 18 anos Suzane estava na televisão, meio de consumo de massa e sua carreira parecia ter tomado o rumo natural que consagrou as outras mulheres da casa. Suzane tinha uma carreira de sucesso. Era sempre requisitada para fotos, promoções publicitárias (a primeira foi com dois anos e meio!), novelas, especiais de televisão, filmes, teatro... e esta parecia ser a vida a qual ela estava destinada... No mosaico acima, diversos momentos do início da carreira como piloto. Do Kart à escola Alpie e a iniciação nos monopostos. Até que um dia ela viu um anúncio: “Escola de Pilotagem de Kart” A curiosidade foi imediata e lá foi a nossa atriz e modelo em busca do seu sonho. Naquele dia os palcos, estúdios e passarelas começaram a perder Suzane para as pistas! Após a primeira aula, sua primeira pergunta para o instrutor foi: “Quando é a próxima corrida?” Definitivamente os camarins e a maquiagem foram substituidas pelo box e pela graxa. No primeiro campeonato, o primeiro título. Em Julho de 1989, em Ipatinga-MG, Suzane alinhava para seu primeiro campeonato... e como primeiro desafio ela escolheu nada menos que o Brasileiro de Kart! Largando em meio a um pelotão com 40 karts , Suzane se viu realizando seu grande sonho: Ser uma piloto de corridas! Mais do que isso, seu sonho tornou-se um verdadeiro conto de fadas. Quiseram os Deuses da velocidade que a habilidade natural da piloto recebesse a benção do destino e, em sua primeira competição oficial, Suzane Carvalho conquistava, de forma consagradora, o Campeonato Brasileiro de Kart! O caminho estava traçado, Cabia a Suzane honrar nas pistas a saga heróica de grandes mulheres da história do automobilismo brasileiro como Graziela Fernandes e Maria Cristina Rosito. Suzane mostrou-se à altura da história das nossas mulheres nas pistas como Graziela Fernandes e Maria Cristina Rosito. No ano seguinte, na competição seguinte, outro título: O Campeonato Carioca! Além deste, diversos torneios importantes em todo o país chamavam a atenção da mídia... muitos se perguntavam o que aquela atriz, modelo, fotógrafa (além de hobby e paixão, Suzane é uma exímia fotógrafa) estava fazendo ali. “É marketing! Ela quer só chamar a atenção!” falavam as línguas ferinas. “Lugar de mulher é na cozinha, pilotando o fogão”, falavam os enciumados que não conseguiam acompanhar a forte tocada – nas pistas e na vida. O kart é o princípio de tudo, a referência maior na formação de um piloto. É com ele que se descobre as habilidades, como saber dosar o pé entre o freio e o acelerador... e este tem que ir o mais fundo possível para um piloto poder crescer. Este crescimento – claro – implica em novos desafios, desafios maiores, “karts maiores”. Mas não existem “karts maiores”, existem categorias com monopostos, carros de turismo, Rallys e até caminhões. O kart, a grande escola, ficara pequeno para os sonhos de Suzane. Ainda em 1990, Suzane fez o curso da escola do piloto Aldo Piedade, com os primeiros monopostos (Fórmula Ford 1600). De lá partiu para o Canadá, para fazer o curso de Fórmula 2000, com Spenard David, chegando a disputar e vencer algumas provas. Em 1991 a nossa piloto seguiu para a Itália onde foi disputar o competitivo campeonato da Fórmula 2000 na Itália. Com poucos recursos, comparado aos esquemas de alguns pilotos, a jovem brasileira deu muito trabalho e chamou a atenção da imprensa italiana, que tem publicações semanais e quinzenais inteiramente dedicadas ao automobilismo. Nenhuma mulher foi tão longe. Em 1992, de volta ao Brasil, Suzane subia mais um degrau, uma categoria ainda mais forte, entrava nos campeonatos brasileiro e sulamenricano de Fõrmula 3-B (a categoria tinha esta denominação por usar os modelos antigos do carro ao invés do modelo introduzido naquele ano). O resultado foi – para alguns, surpreendente – uma nova consagração. Correndo contra pilotos de todos os países do MERCOSUL Suzane sagrava-se Campeã Sulamericana de Fórmula 3, ganhava também o brasileiro da categoria e conquistava um troféu (de papel) muito maior do que todos (de metal) que já havia conquistado: A “superlicença”! O documento que permite a um piloto poder disputar o campeonato mundial de Fórmula 1! Monopostos de Suzane (de cima para baixo): Fórmula 2000; Fórmula 3 Sudam, Fórmula Indy Lights e Fórmula Palmer Audi 3000. Tal feito fez com que Suzane Carvalho entrasse para o Guinness Book e ser título na Enciclopédia Barsa. Nem mesmo as mulheres que eventualmente chegaram a pilotar um Fórmula 1, como Lella Lombardi ou Giovanna Amati, conquistaram um título como o conquistado por Suzane. Entre 1993 e 1997 Suzane disputou tudo que apareceu pela frente: Das Mil Milhas Brasileiras ao Campeonato Pernambucano de Kart. De provas de Rally pelas estradas do Brasil até a Copa Nissan-Sentra, na Argentina. Nesta última competição, sem poder computar os pontos conquistados, Suzane foi “declarada pelos organizadores como a ‘campeã moral’” do torneio, tamanha a superioridade que ela mostrou sobre os demais competidores... na verdade, as outras competidoras, uma vez que foi um torneio disputado apenas por mulheres. Acostumada as disputas contra os homens, que normalmente se acham os melhores motoristas do mundo (e pilotos também), disputar de igual para igual – e vencer – era algo normal (para ela) e inadmissível (para alguns deles). Foi neste cenário que Suzane disputou o campeonato carioca de carros de turismo, em que terminou em 3º lugar depois de ser atingida e colocada para fora da pista nas duas etapas finais. Ledo engano daqueles que achavam que este tipo de atitude a intimidaria... Em 1998 Suzane partiu novamente para o exterior e disputou os campeonatos da Fórmula Palmer-Audi 3000, organizada pelo ex piloto de Fórmula 1, Jonathan Palmer, e do Vectra Challenge na Inglaterra. Correu depois no campeonato panamericano da Indy Lights, com monopostos de 495 cv e apenas 650 Kg, andando sempre entre o segundo e o quinto lugares nas corridas realizadas no México e nos Estados Unidos entre 1999 e 2000. Se nas pistas todos os adversários eram “batíveis”, fora delas Suzane enfrentava o mais duro de todos eles... não apenas para ela, mas para a grande maioria dos pilotos: Patrocínio! Por mais retorno que a sua imagem e a sua competência nas pistas pudessem proporcionar, Suzane sofreu com a escassez de recursos para investir em sua carreira no exterior e mesmo no Brasil, o cenário apresentava-se pouco animador. Em 2002, Suzane partiu para a disputa da Copa Clio, com uma previsão de orçamento inicial relativamente viável... contudo, os custos reais eram algumas vezes maiores e a nossa piloto encostou o carro nos boxes após quatro etapas. Acima, Sabrina Kuronuma e Bia Figueiredo. Abaixo Luana Pedrosa e Marina Hutzler... Além da já consagrada Bia, das revelações Sabrina e Luana e da admiradora (por enquanto) Marina, temos atualmente várias outras meninas jovens interessadas em seguir no automobilismo. Ao longo destes anos correndo, foram 160 corridas, mais de 80 troféus, alguns acidentes e o reconhecimento por parte de todo o meio automobilístico de sua capacidade, habilidade e tenacidade. O “efeito Suzane” pode ser visto facilmente nas pistas: Nas categorias de kart é sempre possível encontrar uma ou duas meninas disputando de igual para igual provas com os garotos. Já há algum tempo estamos acostumados a ver Ana Beatriz Figueiredo fazendo sucesso nas pistas e assim como ela, outras estão trilhando o mesmo caminho. Passando a experiência adiante. Suzane continuou no meio das pistas... mas com outro foco: Transmitir aquilo que aprendeu àqueles que – como ela – quisessem correr atrás dos seus sonhos e um dia poder se tornar um piloto de competição. Nascia o Centro de Treinamento de Pilotos Suzane Carvalho, no Rio de Janeiro (hoje instalado ao lado do Via Parque) onde ministra até hoje, pessoalmente, cursos de pilotagem de kart, fórmula, turismo e direção defensiva. No seu Centro de Treinamento e Formação, Suzane não fica em uma sala refrigerada, apenas mostrando a teoria... Em 2004 esta vivência nas pistas fez nascer o primeiro “filho” de Suzane Carvalho: O livro “Curso de Pilotagem de Kart”, trazendo detalhadamente todos os aspectos de conhecimento técnico da categoria escola, seus regulamentos, como se preparar como preparar o kart para competição... um livro completo! Ela e seus alunos vão juntos para a pista! Fazer o trabalho do piloto, do mecânico, do ajudante... tem que ralar prá dar valor. Este ano, em 2009, Suzane resolveu comemorar seus 20 anos de automobilismo da melhor forma que achou que poderia fazer: correndo! E foi assim, voltando às origens, que ela foi disputar o 44º Campeonato Brasileiro de Kart, em Pinhais – PR, com o apoio do próprio kartódromo que abrigava a competição. Junto a esta volta, veio o lançamento da segunda edição de seu livro, “Curso de Pilotagem de Kart”, em um formato mais completo e mais rico em fotos e dados técnicos. Afinal, o kartismo evoluiu como todo o automobilismo. Raceland: o melhor lugar para a volta as pistas. Com este nome, não restam dúvidas de que era o melhor lugar não só para voltar às pistas, mas também para o lançamento da segunda edição do livro, no dia 23 de julho, com a presença de amigos, pilotos, imprensa e fans que compareceram ao coquetel de lançamento.
Na sexta-feira, 23 de Julho de 2009, Suzane lançou oficialmente a segunda edição de seu livro e comemorou 20 anos de automobilismo. Entre as diversas entrevistas, não faltaram a simpatia e a satisfação de ver aquelas pessoas que sempre a incentivaram a dedicar-se cada vez mais aos seus objetivos. O Camarote VIP do Kartódromo Raceland, um dos patrocinadores do retorno de Suzane estava cheio de amigos... Se o campeonato de kart não rendeu o resultado almejado (uma batida por trás – acidente de corrida – na bateria final tirou as chances de Suzane conseguir um resultado melhor), mostrou apenas que ela está de volta. Pessonalidades e "figuras" da imprensa especializada e "amadora" estiveram presentes para cobrir o evento e prestigiar a piloto. Planos para o futuro? Muitos! Desde continuar investindo na carreira literária, com o lançamento de outros livros, existem planos para as pistas... Pilotos de diversas categorias também estiveram no coquetel, apesar da temperatura quase glacial daquela noite de sexta-feira. Até o fechamento deste artigo, Suzane estava conversando com Maria Cristina Rosito para juntas formarem dupla no campeonato brasileiro de Fórmula GT3. Mesmo com o frio (la fora) do lado de dentro não faltou calor humano, boas lembranças, histórias impagáveis e muito alto astral! Senhores pilotos, preparem-se: A Mulher-Maravilha está de volta! Fontes: Site pessoal de Suzane Carvalho, Revista Playboy, Revista Autoesporte, CDO. |