Caros amigos, tem horas em que começo a escrever minha coluna e, depois de algumas linhas, fico com a sensação de que estou sendo redundante. Pior: repetitivo. Especialmente quando o assunto escolhido é a ação (ou a falta dela) por parte dos dirigentes do automobilismo de uma forma geral e nos da Fórmula 1 em particular. Desde que se estabeleceu o “Grupo de Estratégia” para trabalhar e decidir pelas propostas e planejamento do futuro da Fórmula 1, aquilo que parecia ser um avanço, uma ideia moderna de gestão e algo para ser seguido, tem se mostrado justamente um dos mais complexos problemas da categoria, devido a disparidade de interesses entre os envolvidos. No final do mês passado, o Conselho Mundial do Esporte a Motor da FIA ratificou a proposta elaborada e discutida pela Comissão de Fórmula 1 sobre as novas regras para os motores a partir da temporada 2017. Os membros do “Grupo de Estratégia”, que os donos (ou seus representantes) das equipes, o Presidente da FIA – Jean Todt – ou seu representante legal e o representante da FOM, que é comandada por Bernie Ecclestone, juntamente com representantes dos patrocinadores e promotores, finalmente, entraram em um acordo sobre o regulamento técnico, que tinha como pontos críticos a necessidade de redução dos preços das unidades motrizes, incrementar o desempenho das mesmas (aumento de potência) e fazer com que os mesmos produzam um som “mais adequado” ao nome da categoria e aos anseios dos fãs de corridas. As alterações serão incluídas no regulamento técnico de 2017, devendo ser mantida para 2018. Decisões complexas sobre assuntos polêmicos quando envolvem gente demais pode ser algo extremamente complicado, especialmente se houver conflito de interesses entre as partes no caso destas estarem ganhando ou perdendo com a presente situação, o que foi o tema central da coluna da semana passada. Afinal, quem quer ver sua vantagem diminuir ou desaparecer diante da concorrência? Nestas horas há que se ponderar se não faz um certo sentido as polêmicas declarações de Bernie Ecclestone sobre os “saudosos” tempos em que ele era um “ditador” na Fórmula 1 ou que o [Wladimir] Putin é um exemplo a ser seguido. Quem vem acompanhando minhas colunas ao longo destes anos já percebeu que tenho um certo olho crítico a politização do esporte, especialmente quando dois dirigentes colocam suas atribuições (e vaidades) acima do interesse do esporte e a guerra não declarada, contudo explícita, entre Jean Todt e Bernie Ecclestone tem feito um grande mal à Fórmula 1. Um dos maiores problemas está sendo justamente esta “unidade motriz”, que envolve dois sistemas de recuperação de energia, um turbocompressor e um motor de combustão interna. Se este propulsor é algo ecologicamente mais afinado com os dias de hoje, esportivamente falando, ele foi “um tiro no pé”... e em diversos sentidos. Além do “silêncio” dos motores, que tirou uma das mais singulares características da categoria. Mas a pior parte para alguns foi que se o nível de decibéis era baixo na pista, nos bastidores era altíssimo, puxado pelo tom das reclamações daqueles que precisaram pagar – e caro – pelos tais unidades motrizes, que custaram caro para serem desenvolvidas. Com a crise batendo cada vez mais forte na porta das equipes-clientes, a FIA precisou interferir para tentar consertar o problema que ela criou e passou a buscar uma maneira de assegurar, sobretudo para as equipes de menor poder financeiro, custos menores na aquisição das unidades de potência. A expectativa da entidade é que o valor dos motores seja reduzido em cerca de 1 milhão de Euros em relação ao que tem sido cobrado em 2016. Outro avanço que este acordo fez está no “sistema de fichas” para que se faça o desenvolvimento das unidades motrizes, que está abolido, passando a ser feita a adoção de limites adicionais no que diz respeito a peso, tamanho e pressão do turbo dentro de dois anos. Este ponto pode dar margem para muitas manobras para se usar o poderio técnico e criar motores mais potentes do que os de seus concorrentes. Algo que pode ser inibido com o compromisso de baratear os motores para os anos de 2018/2019/2020. Nestas horas sinto uma certa melancolia quando vejo os carros da NASCAR correndo em círculos pelos ovais norte americanos, com motores mais simples,mais livres e vendo aqueles pesados sedans top de linha das marcas ali representadas e desenvolvendo mais de 300 Km/h, com restrições e um regulamento que vem se preocupando em “segurar” a velocidade da categoria. Se eles conseguem fazer uma categoria competitiva, equilibrada, com as equipes podendo trabalhar cada uma delas as particularidades dos seus motores, mesmo que de da mesma marca dos vizinhos de boxes, cada equipe trabalha seus motores e busca “fazer a diferença”. Bem que as pessoas da Fórmula 1 podiam encontrar uma forma de criar regras mais simples. Um abraço e até a próxima, Fernando Paiva |