Caros amigos, acredito que uma parte considerável dos meus estimados leitores já tenham ao menos ouvido falar em “inteligência emocional”. Existem diversos livros sobre o assunto, alguns com visões antagônicas em alguns pontos, mas que de uma forma geral conduzem numa direção onde este conceito é colocado. No último final de semana quem tem acesso aos canais de televisão por assinatura pode assistir dois exemplos de como dois atletas, esportistas, expoentes de seus esportes não souberam usar desta “inteligência” diante das situações de disputa que se estão (ou estavam) envolvidos nas competições que disputavam. Quem se lembra do que foi a disputa pelo título da Fórmula 1 no ano passado? Era uma disputa entre o “impetuoso e instável” Lewis Hamilton contra o “equilibrado e cerebral” Nico Rosberg. Ao longo da temporada parecia que o piloto alemão da Mercedes era capaz de levar o seu companheiro de equipe inglês a cometer erros por pressioná-lo de forma a desconcentrá-lo e induzi-lo a cometer erros de pilotagem que acabavam prejudicando seu resultado final em corrida. Medidas que poderiam ir de uma “estratégica saída de pista”, provocando uma bandeira amarela no final de um treino classificatório e garantir assim a pole position, como foi o caso do GP de Mônaco, ou mesmo um sutil “toque acidental” em uma disputa de freada como aquela em Spa-Francorchamps. Quando chegaram na corrida final, com aquela esdrúxula pontuação dupla em Abu Dhabi, havia um questionamento (não aquele forçado pela emissora de televisão brasileira detentora dos direitos de transmissão) se Lewis Hamilton conseguiria manter a cabeça no lugar, mesmo estando à frente no campeonato. Este ano, parecia que os papeis haviam se invertido, com o inglês controlando, pressionando e abalando psicologicamente seu mais direto competidor pelo título de tal forma que Nico Rosberg, corrida após corrida, parecia acusar os golpes como um boxeador acuado no canto do ringue. Apesar de ter conseguido conquistar a pole position nas três últimas corridas, Nico Rosberg não conseguiu traduzir esta vantagem em vitórias e nas corridas do Japão e dos Estados Unidos, Lewis Hamilton, mesmo largando da posição (teoricamente) mais desfavorável, não apenas conseguiu tomar a ponta, como deixou o seu “companheiro” de equipe em uma situação complicada na saída da primeira curva... e nos Estados Unidos, a “espalhada” que jogou o alemão para o 5º lugar. Pior do que isso foi a indução ao erro na parte final da corrida, com Nico Rosberg com os pneus macios e com pouco uso sair da pista como saiu quando Lewis Hamilton se aproximava foi simplesmente emblemático... mas o pior ainda estava por vir. A transmissão da FOM, há algum tempo, vem transmitindo os momentos dos pilotos na sala de descanso antes da cerimônia do pódio. Em Austin, o que se viu foi um Nico Rosberg prostrado em uma poltrona enquanto Lewis Hamilton ajoelhava e depois, já de pé, jogou o boné da fabricante de pneus no colo do alemão. Duvido que algum dos leitores desta coluna esperaria a reação surpreendentemente intempestiva do derrotado em atirar o boné de volta da forma que ele atirou. Se aquilo não foi uma demonstração de desequilíbrio emocional, eu não sei definir o que vi nas imagens. Por um segundo, cheguei a ter pena dele e, diante disto, nem sei como pode ficar o futuro da relação dele com a equipe. Mas, uma hora antes do início da corrida, em reapresentação, quem observou a grade de programação do canal por assinatura teve a oportunidade de ver a corrida da Moto GP... mas no caso desta competição, o processo de ações emocionais explodiu como um vulcão dois dias antes, quando Valentino Rossi acusou o piloto espanhol da Honda, Marc Marquez, de estar ajudando seu compatriota, e companheiro de equipe do italiano na Yamaha, Jorge Lorenzo. A declaração surpreendeu, visto a expressão dos rostos dos pilotos espanhóis, a ambos, além de toda a sala de imprensa, especialmente depois da vitória de Marquez na corrida de Montegi, ultrapassando Jorge Lorenzo na penúltima curva, na última volta da corrida. Estranhamente, na corrida da Malásia, Jorge Lorenzo superou com uma certa facilidade por Marc Marquez para assumir a segunda posição na corrida e deixar o piloto da Honda entre ele e Valentino Rossi... e os dois protagonizaram uma das disputas mais duras que já vi em corridas da categoria. Em um dado momento, depois de superar o espanhol, Valentina Rossi, literalmente, usando a mão esquerda, “chamou Marc Marquez para a briga”... e ali eu pensei: isso não vai terminar bem... e não terminou. Todos viram o desfecho, com direito a “espalhada”, “coice” e queda! As consequências do que ocorreu na Malásia certamente refletirá na etapa final. Onde Valentino Rossi estava com a cabeça quando resolveu declarar guerra aos espanhóis com a corrida que decidirá o campeonato acontecendo na casa deles e dependendo dos resultados de diversos espanhóis? O italiano foi mais emotivo e mais explosivo do que jamais foi em toda a sua carreira (ou pelo menos que eu tenha conhecimento). Eu não duvido da capacidade de Valentino Rossi para ultrapassar todo o pelotão e chegar ao quarto lugar, atrás de Jorge Lorenzo e dos dois pilotos da Honda (todos espanhóis). Caso isto aconteça, o que poderemos esperar? Eu responderia, hoje, com uma só palavra: tudo! Um abraço e até a próxima, Fernando Paiva |