Você por algum acaso já ouviu de falar de Macau? Bom, pergunte isso para pessoas que não acompanham automobilismo e provavelmente a resposta Não (em uns 70% dos casos) seja dominante. Esta pequena cidade, atualmente Região Administrativa Especial, conta com quase 600.000 mil habitantes vivendo em seus menos de 30 Km². Algo comum para uma zona urbana chinesa, em pleno desenvolvimento alavancado com a inclusão na República Popular da China, a partir de 1999. O crescimento é tanto que as autoridades locais cada dia avançam mais o território, produzindo aterros, para comportar as necessidades econômicas e habitacionais. Qualquer um que esteja por dentro das notícias internacionais, e não criogenizado nos últimos 30 anos, sabe bem que a China cresce a galopes largos, não entrando no mérito político e econômico para conseguir tal feito, e um pouco mais lento desenvolve sua sociedade também. Hoje a RPC (não confundir com RDB ou RPM) é considerado um país com Índice de Desenvolvimento Humano médio (101°), um pouco atrás do nosso país. Logo, poder-se-ia imaginar os mesmos problemas sociais em Macau. Ledo engano! Possui IDH dos mais altos, entre os 20 melhores do mundo, uma Mônaco de olhos puxados! Os belos e grandiosos cassinos de Macau (ao centro o Casino Lisboa). Os setores mais badalados são o turismo e os jogos, o que pode nos fazer imaginar Macau como uma “Las Vegas Oriental”, porém é possível distinguir duas coisas com a “original”: Macau está praticamente cerca pelas águas do Mar da China e se fala português. Ora pois pois!!! Sim, ta aí um local onde se usa o nosso conhecido idioma, a quase 400 anos, e está entranhado por onde quer que se ande na região. Já que o forte é o turismo e o jogo, que tal passar as férias por lá? Diria uma época ótima para tal viagem: Novembro. E tem relação direta com o final do primeiro parágrafo: Mônaco.
GP Macau 2008, diversos F3 disputando posições na curva Ferreira do Amaral. A antiga colônia portuguesa é reconhecida mundialmente por seu grande evento, GP Macau, que desde 1954 reúne pilotos de fórmulas, motos, turismo, stock e etc. para disputarem as atenções do mundo do esporte motor. O Circuito da Guia possui 6.120 metros, percorrendo trechos com largura confortável (14 metros) e outros apertados (7 metros no hairpin da curva Melco), além de 19 curvas exigindo atenção dos pilotos para evitar os muros e tirar o máximo do carro. O recorde da F3 pertence ao italiano Edoardo Mortara, estabelecido em 2009 com a marca de 2:10.732, conduzindo o carro da Signature-Volkswagen. Circuito da Guia em imagem aérea. Idealizado como um evento para os amantes do automobilismo do outro lado do globo. De fato, um início com necessidade de muitos trabalhos para os anos seguintes, como relatado pelos comissários: “a parte interior do circuito era muito má - muito suja e com areia solta”. Tirando isso, vale ressaltar o primeiro a triunfar neste circuito urbano, Eddie Carvalho (Triumph TR2) completando 51 voltas em 4 horas de corrida, a melhor volta marcada por Gordon Bell (Morgan) 4:12:000 e 15 participantes do evento. GP Macau 1958, no contorno do hairpin da Melco (retirado de: www.cronicasmacaenses.com) A luta destes pioneiros seguiu-se firme, apesar de acidentes graves, até seu reconhecimento internacional pela FIA, marcando o ano de 1960 como início do processo de grande desenvolvimento do evento, atraindo principalmente pilotos europeus. Neste ano, o recorde de volta já caira para 3:17.200, marca do americano Grant Wolfkill (Porsche Spyder). Em 1968 os primeiros monopostos disputaram o GP, com destaque para os Brabham F2 e Mitsubishi Colt F2. A partir daí, os fórmulas começaram a marcar grande presença e atenção, sendo guiados por jovens e promissores talentos pelo Circuito da Guia. Entre os vencedores, vale ressaltar nomes de Ricardo Patrese (77-78), Roberto Pupi Moreno (82), Ayrton Senna (83), Maurício Gugelmin (85), David Brabham (89 - filho do tricampeão Jack Brabham), Michael Schumacher (90), David Coulthard (91), Ralf Schumacher (95), Ralph Firman (96), Takuma Sato (01), Lucas de Grassi (05), todos com passagem pela F1. Um detalhe: Em 1990, Shcumacher triunfou após disputada acalorada e acidentada com Mika Hakkinen. Concentrando o foco nos brasileiros, o Super-Sub Moreno marcou seu nome na história como o primeiro gajo sul-americano a vencer nas ruas de Macau pilotando um Ralt RT4-Ford, no último ano da Formula Pacific no Circuito da Guia em 1982. O título ajudou Moreno a seguir no automobilismo internacional, disputando a F2 em 84 e F3000 International. Roberto Moreno e louros da vitória no GP Macau 82; Hakkinen/Schummy em 1990. O ano seguinte ficou marcado por duas situações importantes. Primeiro, a entrada da Formula 3 no portfólio de corridas do evento. Segundo, pela vitória de um jovem promissor, de nome Ayrton Senna da Silva. Senna já demonstrara seu talento na Europa, onde conquistou a Formula Ford 1600 em 81 e neste ano de 1983 levou o título da Formula 3 britânica, superando Martin Brundell em disputa ferrenha até a última etapa. Senna chegou ao enclave português trazido por Teddy Yip, dono da Theodore Racing e principal apoiador do evento. A vitória se deu no desenrolar da estratégia que se mostrou comum a Senna, simplesmente largar forte e abrir o máximo possível de vantagem para os adversários. E assim deixou o colombiano Roberto Guerrero e o austríaco Gerhard Berger para trás. Outra marca do brasileiro foi deixada em Macau, porém na barreia de pneus, logo em seu primeiro treino, afinal o Silva não era de andar amaciando e sentindo carro e pista, mas sim de ir ao limite desde o início. Berger, comentando sobre a prova, certa vez disse que“Eu os estava observando e em cada curva Ayrton se distanciava alguns metros e aos poucos foi capaz de se afastar. Guerrero estava lutando para segui-lo, e eu estava lutando para seguir Guerrero”. Senna em ação, já correndo com patrocínio da Marlboro – uma premonição? Pulando a cronologia histórica para 1985, Maurício Gugelmin desembarca na possessão portuguesa (com certeza) para pilotar um dos Ralt-Volkswagen de Teddy Yip e patrocinado pela Marlboro, da mesma forma como em 1983. Campeão da Formula Ford 1600 (82), vice da versão 2000 (83) e campeão na 2000 européia (84). O ano de 85 já era de glória para Gugelmin, já com o caneco da F3 Britânica na mala, mas ele queria mais. E desejava vencer em um circuito de rua, tal qual nunca havia pilotado em um antes. Além deste debute a superar, teve de duelar contra bons pilotos, como Martin Brundell, René Arnoux e Jan Lammers, estes que já possuíam experiência com bólidos da Fórmula 1. Apesar das circunstâncias, um bom carro nas mãos de um bom piloto sempre se faz a diferença. Gugelmin cravou a pole em 2:23.190, quase 1 segundo mais rápido frente a Emanuelle Pirro. A corrida atribulada por acidente envolvendo Arnoux e Matsuda forçou os organizadores a reduzir a prova de 15 para 12 voltas, na primeira bateria. Nas duas baterias, Gugelmin liderou e abriu vantagem, ganhando de forma indiscutível o GP e demonstrando a maturidade e preparo necessário para chegar a F1. Gugelmin na ponta, em 1985 (retirada www.scuderiabrazil.blogspot.com) Os anos se passaram, e a vitória brasileira em solo chinês voltou a ocorrer apenas em 2005, com Lucas di Grassi. Nesta época, Macau já estava incorporada a República Popular da China. Vice campeão da F3 Sulamericana (falecida, agora será F3 Brasil a partir de 2014) e terceiro colocado do GP Macau em 2003, di Grassi volta ao Circutio da Guia após um ano de 2005 no qual não pode superar o domínio de um tal de Lewis Hamilton na F3 européia, querendo mostrar serviço no tradicional evento. Sem Hamilton na disputa oriental, as coisas não ficariam fáceis de qualquer forma, uma vez estavam na disputa: Kubica (campeão da World Series em 2005), Loïc Duval (Campeão da F Renault em 2002 e 2003), Mike Conway (3° na F3 Britânica em 2005), Charlie Kimball (vice da F3 Britânica), Kazuki Nakajima (vice da F3 japonesa), entre outros e um rapaz de nome Vettel. Com confiança e maturidade, di Grassi marcou a 2ª no grid de largada, atrás apenas de Duval. Na primeira bateria, foi batido pelo polonês voador (ou capotador). Na segunda, uma prova emocionante. Duval estava soberano na ponto, porém os comissários puniram com drive-through por ter queimado a largada. Kubica aproveitou e assumiu a dianteira, mas por pouco tempo, pois di Grassi ultrapassou por fora o líder, na curva Lisboa. Robert deu o troco da mesma curva, mas por dentro, na volta 10. A alegria da terra de João Paulo II durou pouco, até o 14° giro, quando o safety car entrou na pista, ajuntando todo mundo. Na última volta, sob bandeira verde, di Grassi calculou o ponto certo e fez a passagem na curva Mandarin, seguindo para cruzar a meros 6 décimos de segundo de vantagem para Kubica, que com sorriso amargo levou o troféu de vice mais uma vez (em 2004 também). E o garoto Vettel saiu em 12° para subir no pódio, deixando JP Oliveira em 4°. Kubica, di Grassi e Vettel no pódio do GP Macau de 2005 Diante de um público de causar inveja até mesmo na F1, a edição 2013 do GP Macau (60ª) contou com a singela marca de 111.000 pessoas acompanhando as diversas provas. Na pista, Alex Lynn venceu e completou a homenagem da Prema para Theodore Racing e ao 30° ano da conquista de Ayrton Senna neste circuito. Acompanhando inglês no pódio, o português Antônio Felix da Costa e brasileiro Pipo Derani. Saudações oriundas do estado sem autódromo, Rio de Janeiro Abraços e até a próxima. Fabiano Esteves
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