Vou começar a coluna deste mês citando uma música do Raul Seixas, que falava que na onda de todo mundo querer fazer música de protesto, coisa que ele fazia há tempos, ele também iria fazer.
O caixa de emails do site ficou abarrotado de mensagens contra a minha coluna do mês passado. Será que o certo então é mentir? Mentir sobre uma coisa que não existiu, mentir sobre fatos que não aconteceram e dizer que aquilo foi “baseado em fatos reais”? A velocidade da informação nestes tempos de hoje não dá margens para erros, mentiras, distorções e as pessoas repudiam o que é falso. Talvez este tenha sido um dos motivos do fracasso de bilheteria que foi o filme, Rush. Neste um mês em que está em cartaz, não arrecadou nem metade dos 38 milhões de dólares que custou. Não sou um mau caráter, destes que torcem pelo fracasso alheiro, mas confesso que o fato do filme não ter tido uma grande bilheteria me deixa aliviado no sentido que teremos menos pessoas que sairão por aí repetindo aquilo que viu na tela dizendo que era tudo verdade, pois o filme foi “baseado em fatos reais”. Mas a imagem da fórmula 1 pode ser recuperada depois do que aconteceu com Rush. Vou atacar de roteirista de cinema e mandar para ‘Roliúde’ um script para um filme sobre fórmula 1 emocionante, com uma rivalidade real, com disputas reais e momentos verdadeiramente épicos que marcaram a trajetória de dois dos maiores pilotos de todos os tempos. A primeira cena acontece em Kayalami, na África do Sul. Jackie Stewart estreava na Fórmula 1 em 1965, aos 25/26 anos na BRM, com o impressionante ‘handcap’ de 11 vitórias na temporada de Fórmula 3 inglesa. A equipe onde ele assinou seu primeiro contrato era a mesma em que novatos pagavam pra correr e que assim funcionou por décadas. O primeiro piloto da BRM era Graham Hill e a equipe tinha, além do campeão de 1962, Jackie e, eventualmente, Lucien Bianchi e Masten Gregor.
1965: o empolgado novato - Jackie Stewart - ao lado do experiente e paciente Graham Hill. Neste ano, Hill seria Bicampeão. A segunda cena do filme acontece em São Paulo, Brasil. Neste mesmo ano, um grid com cerca de duas dezenas de karts e um deles, com o número 7, partia para mais uma vitória. Era Emerson Fittipaldi, com 18 anos, que começava a correr de kart em São Paulo e que iria se sagrar campeão paulista naquele ano.
No mesmo ano, Emerson Fittipaldi pilotava o seu Kart Mini no campeonato paulista rumo ao primeiro título. Em sua corrida de estreia na Fórmula 1, Jackie Stewart conquistou o seu primeiro ponto, com um 6º lugar. No final da temporada, terminou com um impressionante 3º lugar na classificação geral, tendo ido 6 vezes ao pódio e ganho a 8ª etapa daquele ano, em Monza, e terminado apenas atrás de Jim Clark e de seu companheiro de equipe, Graham Hill. No final do mesmo ano, Emerson começava a correr as suas primeiras corridas com automóveis.
1966: Stewart vence pela primeira vez em Mônaco (Renier e Grace ao fundo). Em Interlagos, Emerson perde as 1000 milhas.
Mas vamos dar uma adiantada no nosso calendário, saltando do ano de 1965 para 1969, caso contrário, nosso filme ficará muito longo. Mas faremos uma cena com as páginas de um livro passando e mostrando a épica Mil Milhas Brasileiras de 1966, a primeira vitória de Jackie Stewart em Mônaco, Emerson dominando a Fórmula Vê em 1967, a mudança de Jackie Stewart, depois de três anos na BRM, para a equipe francesa Matra e a impressionante vitória no GP da Alemanha, em Nurburgring, 1968, ano em que Jackie Stewart reencontrou um velho conhecido: Kenneth Tyrrell, que o acompanhou no início da carreira, na Fórmula 3.
Entre 1967 e 1968, enquanto Jackie Stewart voava (literalmente) na F1, Emerson dominava a Fórmula Vê no Brasil.
No ano de 1969, Jackie Stewart conquistava de forma incontestável e avassaladora o campeonato mundial de fórmula 1, com 6 vitórias, 7 pódios (um segundo lugar) em 11 corridas, marcando e quase o dobro dos pontos conquistados pelo segundo colocado no campeonato, Jacky Ickx. Naquele mesmo ano, Emerson Fittipaldi, consagrado aqui no Brasil, cruzava o oceano para iniciar sua carreira na Europa. Inicialmente na Fórmula Ford, venceu 4 das 6 corridas que disputou, chamando a atenção de ninguém menos do que Colin Chapman, dono da Equipe Lotus, e que tinha carros tanto na Fórmula 1, como nas Fórmulas 2 e 3. Foi então convidado pelo famoso dono de equipe para correr na Fórmula 3, cujo campeonato já havia se iniciado. Apesar disso, Emerson Fittipaldi, ao final do ano, sagrou-se campeão da categoria.
1969: Ken Tyrrell (na Matra), conversa com Stewart. O 1º dos 3 títulos. Na Inglaterra, Fittipaldi assombra na FFord e vence a F3. 
A perfeita sintonia entre Ken Tyrrell e Jackie Stewart incentivaram a ambos num ambicioso projeto: Ken Tyrrell comprou um chassi March e Jackie Stewart deixou a Matra para correr na então recém montada equipe Tyrrell a temporada de 1970. Foi um ano difícil, com 4 pódios, 1 vitória e muitas quebras, mas mesmo assim ambos acreditavam que conseguiriam ter sucesso na Fórmula 1 juntos. Em 1970, já correndo na Fórmula 2, pela Lotus, no tempo em que vários pilotos da Fórmula 1 também corriam nela para ganhar mais algum dinheiro, uma vez que os salários milionários de hoje não existiam, Emerson continuou andando na frente e isso lhe rendeu um convite do diretor da equipe e braço direito de Chapman, Richard Scamell, para testar um Fórmula 1, um Lotus 49C no dia 8 de junho daquele ano, em Silverstone.
1970: A Tyrrell começa sua trajetória com um chassi March. Emerson Fittipaldi faz seu primeiro teste na F1 e estreia na Inglaterra.
5 semanas depois, Emerson estreava no GP da Inglaterra, em Brands Hatch, largando em antipenúltimo e terminando em 8º. Na corrida seguinte, na Alemanha, Emerson marcava seus primeiros pontos, chegando em 4º lugar depois de largar na 13ª posição. Ele ainda faria mais uma corrida com o Lotus 49C, na Áustria, uma corrida muito ruim para a equipe, onde só ele terminou, em 15º e último lugar. No final de semana em que iria finalmente estrear um carro Lotus 72C, no GP da Itália, aconteceu a tragédia da morte de Jochen Rindt e a equipe retirou-se desta e da prova seguinte, no Canadá. O 2º piloto do time, John Milles, decidiu se retirar das corridas e Colin Chapman chamou Emerson Fittipaldi para assumir a condição de 1º piloto da equipe no GP dos EUA. Emerson pilotou em corrida pela primeira vez o Lotus 72C... e venceu!
Em seu 4º Grande Prêmio, o primeiro ao volante de um Lotus 72C, Emerson vence o GP dos EUA e garante o título de Jochen Rindt. Em 1971, já com um projeto próprio, o Tyrrell 001, Jackie Stewart dava início a mais uma avassaladora conquista, quase repetindo o feito de 1969. Foram novamente 6 vitórias e 1 segundo lugar, com 62 pontos, praticamente o dobro em relação ao segundo colocado, o sueco Ronnie Peterson.
1971: Com seu primeiro carro, a Tyrrell e Jackie Stewart dominaram a temporada. A Lotus teve problemas e um projeto novo.
A Lotus enfrentou muitos problemas de confiabilidade na versão “D” do Lotus 72 e ainda teve o projeto do Lotus 56B, o carro turbina, que tomou tempo demasiado de Colin Chapman. Com isso, Emerson Fittipaldi marcou apenas 16 pontos na temporada, com um se |