O limite do arrojo, da competitividade e do bom senso Print
Written by Administrator   
Wednesday, 15 September 2021 19:25

Caros Amigos, entrando em uma área onde contamos com uma especialista, na última terça-feira conversei com a nossa editora-chefe, a Dra. Catarina Soares, sobre os aspectos psicológicos que estariam envolvidos no confronto entre Lewis Hamilton e Max Verstappen para encontrar uma forma esportivamente e psicologicamente racional capaz de descrever o que vimos no último domingo no Autódromo de Monza, na Itália.

 

É evidente que precisamos nos lembrar que a Fórmula 1 trata-se de um esporte – e um negócio – de altíssimos níveis de competitividade e competitividade e interesses financeiros. Uma disputa com o grau de rivalidade que se estabeleceu nesta temporada entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, mercadologicamente falando, é tudo o que o Grupo Liberty Media precisava para atrair não apenas a atenção do público que seguia a categoria “de forma quase automática”, anestesiados com o domínio da equipe Mercedes nas últimas temporadas, mas também um novo público, empolgado pela disputa entre os dois protagonistas da temporada.

 

Lembro-me de certa vez, Nelson Piquet – em uma de suas típicas colocações em entrevistas e declarações – dizer que o público não gosta de corrida morna, que gosta de ver o circo pegar fogo... e referia-se a isso falando sobre os acidentes que aconteciam, especialmente nas largadas. É notório que “o circo está pegando fogo” e as chamas ganharam um volume considerável depois do ocorrido em Silverstone, que a meu ver houve um excesso de arrojo da parte do piloto inglês ao fazer o movimento de ataque na curva Copse e um excesso de confiança do piloto holandês de que seu adversário não iria até o fim com a manobra (cabe lembrar que ele fez a mesma manobra sobre Arthur Leclerc, na mesma curva e não houve toque entre os carros).

 

Desde então declarações de parte a parte passaram a ter um tom mais provocativo e – eventualmente – ríspidos e, na pista, isso também se refletiu em defesas mais duras de posição quando houve confronto. Entretanto, foi em Monza que tivemos o primeiro momento de carros efetivamente lado a lado pra defesa de posição e tentativa de ultrapassagem... e ninguém cedeu um só milímetro!

 

As consequências da batida na chicane no final da reta dos boxes, em baixa velocidade, poderiam ter sido piores do que a que aconteceu no GP da Inglaterra. As imagens em super câmera lenta mostraram a roda traseira direita do carro da Red Bull deslizando sobre o halo do carro da Mercedes, assim como o assoalho, o que seria no passado uma potencial tragédia. Uma coluna do meu primo, Mauricio Paiva, aqui no site mostra um incidente semelhante entre Ayrton Senna e Martin Brundle em 1983, quando os dois eram os protagonistas da disputa pelo título da Fórmula 3 inglesa. O carro do brasileiro ficou apoiado no 'santo antônio' do carro do inglês e os carros da época não tinham halo.

 

Aos críticos de plantão que buscam em um posicionamento das autoridades desportivas uma ação para coibir potenciais situações como essa, mas o que podem fazer os dirigentes se não punir as infrações. Se as penas são duras ou brandas demais, talvez o critério esteja mais relacionado com a paixão do torcedor por um dos pilotos do que pela letra fria dos regulamentos. Eles não podem, tampouco, obrigar os pilotos a “tirarem o pé”. A questão passa, necessariamente pela conduta das equipes, particularmente Christian Horner e Toto wolf, na condução das possíveis situações futuras.

 

Que o automobilismo é um esporte de risco todos sabemos, mas estes não precisam ser extrapolados do limiar de uma tragédia.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva 
Last Updated ( Thursday, 16 September 2021 14:19 )