Um ídolo com pés de barro Print
Written by Administrator   
Wednesday, 28 October 2020 21:14

Caros Amigos, Desde a infância tenho paixão pela leitura e o leque de obras que me atraiam – e atraem até hoje – sempre teve uma crescente. Em todo caso, sempre tive minhas áreas favoritas e a história da arte é uma delas.

 

Na história antiga, muitas das narrativas foram registradas através de páginas religiosas, como a Bíblia e o Alcorão e a Mesopotâmia sempre me exerceu um grande fascínio, pelo grau de evolução atingido naquela época.

 

Uma das histórias mais conhecidas do Livro do Antigo Testamento é a interpretação de um sonho do rei da Babilônia Nabucodonosor II, assim traduzido pelo profeta Daniel: “Ó rei, tu tiveste uma visão. Eis que uma grande, uma enorme estátua se levantava diante de ti; era de um brilho extraordinário, mas de um aspecto terrível. Esta estátua tinha a cabeça de ouro fino, o peito e os braços de prata, o ventre e as ancas de bronze, as pernas de ferro, os pés metade de ferro e metade de barro”.

 

Nabucodonosor II contemplava a estátua quando uma pedra se desprendeu da montanha, sem intervenção de mão alguma, e esmigalhou os pés da estátua, porque a argila e o ferro nunca deram boa liga. “Então, na queda, com a mesma pancada foram feitos em pedaços o ferro, o barro, o bronze, a prata, o ouro”, que viraram pó e foram levados pelo vento sem que deixassem vestígios, uma óbvia analogia com a ascensão e queda dos impérios.

 

Essa analogia também aplica-se a pessoas ou grupos que na construção dos seu projetos, criam os mesmos em bases frágeis, sobre as quais o primeiro impacto colocará tudo por terra e esta semana estamos vendo a continuidade da construção de um projeto que caracteriza bem o “ídolo dos pés de barro” do sonho de Nabucodonosor II com a divulgação do calendário prévio da Fórmula 1 para o próximo ano.

 

O CEO da F1, Chase Carey, deixou claro que deseja que o próximo ano se assemelhe ao calendário originalmente planejado para 2020, que posteriormente passou por grandes mudanças na esteira do COVID-19, com início planejado em Melbourne em março e com 23 corridas, incluindo o GP Brasil... no Rio de Janeiro! Evidentemente com um “asterisco” enorme e uma lista de ressalvas.

 

No mesmo dia em que o calendário provisório da Fórmula 1 foi notícia em toda mídia europeia – e depois ganhando o mundo – foi notícia no Brasil que o Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA) publicou o parecer técnico em que aponta diversos problemas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pela Prefeitura do Rio de Janeiro para justificar a construção de um autódromo na área conhecida como Floresta do Camboatá, no bairro de Deodoro, zona oeste da capital fluminense. Dessa forma, ficando assim bloqueada a concessão da licença ambiental para a construção do autódromo onde o empresário JR Pereira, com apoio do CEO do Grupo Liberty Media pretendem sediar as futuras edições da etapa brasileira da categoria.

 

O documento, com mais de 190 páginas, foi enviado à Procuradoria do INEA e nele, o parecer da entidade jurídica do Instituto é o próximo passo do processo que visa à concessão ambiental. Contrariando a visão da Prefeitura do Rio, a equipe técnica do órgão ambiental considerou que a Floresta do Camboatá não é o melhor local para a realização da obra.

 

Além da área onde foi idealizado o projeto do autódromo, foram apontadas outras quatro áreas como opções citadas no EIA da prefeitura do Rio, todas localizadas na zona oeste da cidade: 1. Uma área usada como campo de instrução do Exército, no bairro de Gericinó. 2. Um espaço próximo à uma cervejaria no Campo Grande. 3) Uma área na Estrada Aterrado do Leme, ao lado da Avenida Brasil, em Santa Cruz;  Cidade das Crianças,  na Rodovia Rio-Santos. 4. O espaço do antigo Centro de Instrução de Operação Especial do Exército, em Deodoro.

 

Mesmo lidando com diversas alternativas ao local original, uma questão persiste: quem, como e com que recursos o autódromo do estado do Rio de Janeiro será construído? Além das questões ambientais, o empresário brasileiro que está à frente do projeto não possui as garantias financeiras para executar a obra e não existe nenhum autódromo no mundo que tenha sido construído ou financiado pela FOM (ao menos até hoje). Estando o país na condição financeira em que se encontra, seja o setor público, seja o setor privado, existe uma lista de prioridades para a recuperação, tanto do estado do Rio de Janeiro quanto o país como um todo.

 

O lamentável é ver que as questões entre o Grupo Liberty Media e a Interpub chegarem ao abismo que separa as empresas e onde o maior prejudicado é o público que é fã do automobilismo. Enquanto isso, Chase Carey constroi um ídolo com pés de barro, que tombará laconicamente possivelmente ainda no primeiro semestre de 2021.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva

  
Last Updated ( Wednesday, 28 October 2020 23:21 )