A relatividade na sucessão de Chase Carey Print
Written by Administrator   
Wednesday, 23 September 2020 21:03

Caros Amigos, em qualquer seguimento das relações corporativas mundiais, as articulações – e pressões – que acontecem nos bastidores muitas vezes são mais importantes e mais decisivas do que aquelas que são tratadas em reuniões e plenárias.

 

Quando olhamos para o automobilismo, nós, os fãs, os apaixonados, vemos os campeonatos que acontecem pelo mundo ou mesmo no Brasil como o esporte que nos cativa. Contudo, ele não aconteceria, ele não existiria se não fosse um empreendimento muito bem administrado. Não podemos ser puristas e achar que o nome e/ou a fama ou tradição sustentam ou sustentariam qualquer negócio nos dias de hoje.

 

Quando falamos sobre os chamo de “bastidores”, isso nem sempre implica que os assuntos tratados são mantidos em segredo. Muitas vezes, a divulgação – intencional e planejada – do que poderia ou iria acontecer é divulgada para que outras formas de interferência possam acontecer. É uma das muitas artimanhas do mundo corporativo praticadas por pessoas ou grupos na defesa dos seus próprios interesses, que não obrigatoriamente venha a ser o melhor cenário para o coletivo.

 

No final do ano passado escrevi sobre a sucessão de Chase Carey, CEO do Grupo Liberty Media que, em junho de 2019, através do Sr. Tamas Rohonyi, nosso entrevistado, recebemos a informação da aposentadoria. Como é comum em empresas deste porte, a transição de posições como esta não são processos simples. Levam tempo e necessitam de um bom planejamento para garantir a excelência dos processos de gestão e qualidade. Estes processos precisam ocorrer de forma o mais suave e harmônica possível.

 

Quando as conversas sobre a sucessão de Chase Carey vieram à tona no seguimento da mídia (o aspecto “divulgação” se deu de uma forma heterodoxa) veio com uma ameaça de “veto” (instrumento que a Ferrari tem com o ainda em vigor Pato da Concórdia e que foi mantido na nova versão, que valerá até 2025): a equipe italiana posicionou-se contrária à possibilidade de Toto Wolff, diretor geral da equipe Mercedes na F1, viesse a assumir a posição em 2021, após um processo de transição.

 

A Ferrari tratou de colocar freios em qualquer ambição que Wolff possa ter, com o então CEO Louis Camilleri dizendo que tal mudança não cairia bem com a equipe mais famosa do esporte, alegando que isso poderiam haver “conflitos de interesse” e que isso seria ruim para a categoria. Estranhamente, a Ferrari jamais se posicionou contra, por exemplo, a candidatura de seu ex-diretor, Jean Todt, à presidência da FIA, cargo que está ocupando pelo terceiro mandato e há uma década.

 

A decisão final deste processo está sendo conduzida por Greg Maffei, o “General Chairman” do Grupo Liberty Media e a Ferrari foi “direto a fonte” para se posicionar antes que o processo tomasse um poder de inércia que nem mesmo ela e seu poder de veto conseguiria frear sem gerar consequências. Isso fez todo o processo ser reavaliado e nos últimos dias – novamente divulgado, mas desta vez de forma planejada – chegou o comunicado de quem seria o sucessor de Chase Carey: Stefano Domenicali!

 

Domenicali teve uma longa carreira na Ferrari, que incluiu uma breve passagem pelo circuito de Mugello, e ocupou o papel de chefe de equipe após a saída de Jean Todt – agora presidente da FIA – em 2007. Sob sua gestão vieram o o título de construtores mais recente da Ferrari em 2008, mas foi demitido no início de 2014 na sequência do lento início de temporada da equipe com novos motores híbridos. A decisão de nomear Domenicali já foi comunicada aos dirigentes da equipe.

 

Depois de deixar a Ferrari, o italiano assumiu um cargo dentro do Grupo Volkswagen e em 2016 se tornou o CEO da Lamborghini. No seguimento esportivo, chefiou a Comissão de Acesso nas categorias de monopostos da FIA, a divisão do órgão regulador do esporte que se concentra nas categorias de juniores abaixo da Fórmula 1. Entre suas ações vieram o retorno do nome Fórmula 2, para substituir a Série GP2, enquanto a categoria GP3 foi renomeada como Fórmula 3 em 2019, após a negociação com os promotores da categoria que passou a se chamar “Fórmula Regional Européia”. Atualmente Domenicali dirige a Lamborghini e também é o presidente da comissão de monopostos da FIA.

 

Até o momento não vi, ouvi ou li nenhum posicionamento da Mercedes (equipe na F1 ou fábrica) sob o fato de que ao longo do próximo ano a FIA e a FOM estarão sob controle de dois homens que fizeram carreira na Ferrari. Resta saber se este virá e caso venha, qual será.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva