A cópia, o custo e o bom senso Print
Written by Administrator   
Wednesday, 15 July 2020 20:45

Caros Amigos, desde que comecei a assistir a Fórmula 1 sempre me encantou a criatividade dos projetistas e meu primeiro grande ídolo foi Colin Chapman. Além de ter “inventado o carro-asa”, algo que vim saber mais detalhes anos depois, o inglês tinha ideias geniais.

 

As ideias de Colin Chapman eram frequentemente “copiadas” pelas equipes adversárias em uma época que os regulamentos técnicos permitiam que os carros da categoria não tivessem “a mesma cara”, como tiveram nos final dos anos 90 e início dos anos 2000.

 

Ao longo da história da categoria não foram poucos os protestos contra coisas que uma ou outra equipe fez e que uma ou mais equipes protestou junto a FOM e a FIA. O caso que primeiro chamou minha atenção nesse sentido foi justamente um carro de Colin Chapman, o Lotus 88, impedido de correr sob suspeita de estar burlando o regulamento.

 

Os regulamentos da Fórmula 1 são, provavelmente, os mais rígidos entre todas as categorias do automobilismo mundial e uma das coisas que passaram a ser combatidas foram as “cópias”. Cada equipe teria que apresentar um projeto original, com as partes do carro projetadas e produzidas pela equipe. Apesar disso, as lentes atentas de fotógrafos especialmente contratados por equipes para fotografar os detalhes dos carros adversários e, com as imagens, estudar como fazer soluções paras suas próprias equipes.

 

Em 2017 a Haas foi acusada de ser uma “cópia” da Ferrari quando esta equipe estreante, equipada com motores Ferrari, teve um bom desempenho nas primeiras apresentações, tanto na pré-temporada quanto nas primeiras provas. O VF18, carro da Haas daquele ano, incomodou times maiores. A ponto de McLaren, Red Bull e Force India pedirem uma investigação para se certificar de que o modelo não compartilha mais peças do que o permitido com o carro da Ferrari daquele ano. A Haas, além do motor, usava a mesma suspensão dianteira.

 

Mas nada se compara ao que se viu este ano na pré-temporada de 2020, quando a Racing Point apareceu em Barcelona com um carro que parecia ser uma réplica do W10, carro da Mercedes campeão em 2019. A semelhança era tamanha que ele foi apelidado de “a Mercedes cor de rosa”, apesar da Racing Point insistir na época em que, embora eles seguissem a mesma filosofia de design da Mercedes – e até usassem fotografias para tentar imitar algumas partes do carro – o RP20 foi projetado internamente, e não haviam infringido nenhuma regra.

 

No entanto, houve inquietação entre as outras equipes, e isso veio à tona no domingo, quando a Renault apresentou seu protesto com os comissários, depois que Sergio Perez e Lance Stroll terminaram em sexto e sétimo na corrida à frente de Daniel Ricciardo no oitavo. Especificamente, a Renault protestou contra os dutos de freio dianteiro e traseiro do Racing Point RP20, alegando que eles parecem idênticos aos do Mercedes W10 do ano passado.

 

No regulamento de 2020, que devido ao coronavírus e a pandemia que assola o mundo não será modificado para 2021, os dutos de freio são classificados como peças listadas, o que significa que eles devem ter sido desenvolvidos pela equipe do carro em que estiverem instalados (ou comprados de um fornecedor externo, e não de uma equipe de F1 existente). O protesto foi inicialmente admitido e isso pode implicar em uma cobrança à Mercedes que terá que apresentar os projetos para uma comparação.

 

É importante lembrar que os dutos de freio não apenas esfriam os freios. Eles formam uma parte crucial do fluxo aerodinâmico ao redor de todo o carro. Como todo o projeto do RP20 foi fortemente baseado no Mercedes W10, seria particularmente difícil conceber dutos que fossem diferentes, mas que não tivessem um efeito adverso no desempenho aerodinâmico do carro. Os dutos e a carroceria são desenvolvidos como um só, por isso, se o Racing Point for forçada a mudar seu design, isso pode ter implicações no desempenho do conjunto.

 

Além disso, as duas versões do duto traseiro, pode-se ver que a entrada e o tambor parecem idênticos. Eles também compartilham um winglet montado à direita da entrada. O ar de refrigeração entra na entrada e é então dividido. Parte é direcionada para resfriar o disco de freio, parte tem como função auxiliar o resfriamento do aro da roda e ajudar a controlar a temperatura crítica do pneu traseiro, um problema que os projetistas do W10 trabalhou ao longo do ano para resolver.

 

Por seu lado, a A Racing Point sustenta que o protesto da Renault é “mal concebido e mal informado”, como seu carro no ano passado e em momento assim, vejo a Dallara, projetistas dos carros da Fórmula Indy, uma categoria muito competitiva, com carros iguais nas mãos de equipes diferentes. Algo que, em parte, a Fórmula 1, que quer baixar seus custos, não só poderia com deveria adotar, não como o carro inteiro, mas uma parte considerável dos componentes.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva