Um sonho real e muito além da pista Print
Written by Administrator   
Wednesday, 12 February 2020 21:25

Caros Amigos, na tarde de hoje, em meio a recuperação na bolsa de valores e a subida do dólar por mais um dia, talvez para tentarem me desestressar, algo que não me faz nada bem, um dos meus sócios aqui no nosso escritório perguntou se a minha “bola de cristal” só funcionava para o automobilismo ou se podíamos usar no trabalho.

 

Rir é algo que causa alguma dor no meu peito, mas ele chegou com o tablet e mostrou a noticia de que o Grupo Liberty Media havia anunciado o adiamento do GP da China de Fórmula 1, tema desta nossa coluna na semana passada. Honestamente, não seria necessário nenhum alto grau de vidência para prever o que foi anunciado nesta quarta-feira. Era a decisão mais sensata e os dirigentes da Fórmula 1 não iriam correr um risco destes. A dúvida agora recai sobre a capacidade de encontrar uma nova data com um calendário tão apertado.

 

Eu acreditava que a notícia do adiamento sairia ainda na semana passada, demonstrando que a minha capacidade de prever eventos ligados ao esporte a motor não é propriamente uma qualidade entre as coisas que faço, mas como algumas coisas são óbvias o bastante, tratar do assunto na última semana me fez postergar um assunto extremamente interessante: a convergência de regulamentos do WEC com o IMSA, algo que já deveria ter acontecido há muito tempo.

 

Os Presidentes do Automobile Club de l'Ouest (ACO) e IMSA chegaram a um acordo e anunciaram no final do último mês que ambos os campeonatos terão uma nova classe, a LMDh, comum ao Campeonato Mundial de Endurance da FIA e ao WeatherTech SportsCar Series, onde estarão os novos Hipercarros, projeto que substituirá – no caso do Mundial de Endurance – os LMP1, enquanto que nos Estados Unidos, o substituído serão os protótipos Dpi.

 

Efetivamente a mudança ainda levará um ano e meio para acontecer, mas o objetivo é que, a partir de setembro de 2021 no FIA WEC e de janeiro de 2022 no campeonato WeatherTech, os fabricantes possam entrar na categoria superior e competir nos dois principais campeonatos em corridas de endurance com este novo modelo de carro. Contudo, algumas respostas ainda não foram respondidas.

 

Não está claro se os LM Hypercars poderão competir na América do Norte: o presidente da IMSA, John Doonan, pareceu descartar isso, mas o presidente da ACO, Pierre Fillon, disse que essa possibilidade ainda é uma possibilidade. Os novos carros LMDh, como o atual DPis da série IMSA, serão baseados em máquinas LMP2 e incorporarão um sistema híbrido específico que aciona o eixo traseiro. Outros detalhes técnicos da classe LMDh serão anunciados no fim de semana de Super Sebring em março, quando a IMSA e o WEC correrão no mesmo final de semana. Entretanto, a princípio, vai ser necessário fazer um “Balance of Performance” entre os carros dos Estados Unidos e da Europa para poderem estar no mesmo grid.

 

Os dirigentes tem também um discurso afinado. O CEO do WEC, Gerard Neveu, afirmou que o maior vencedor hoje é a corrida de resistência, enquanto Doonan acrescentou que fornecer uma plataforma comum para protótipos de alto nível em todo o mundo tem sido uma meta para os promotores da categoria e criar meios para os fabricantes, além – claro – dos fãs de corridas de carros esportivos em todos os lugares vai ser extremamente positivo. Pierre Fillon, disse que essa possibilidade ainda é uma possibilidade, mas que este anúncio hoje é o ponto de partida crucial para um futuro conjunto de corridas de resistência, apoiado pela ACO e pela IMSA.

 

A melhor parte deste processo é que muitos construtores de carros de competição como a Toyota, a McLaren, a Cadillac, a Mazda entre outros estão com projetos de hipercarros para serem lançados e que podem estar no grid dos campeonatos tanto no Mundial de Endurance como no IMSA nos Estados Unidos e essa nova perspectiva chamou a atenção de Roger Penske, que comprou recentemente o Indianapolis Motor Speedway, que declarou ver neste novo regulamento a possibilidade de voltar com uma equipe para as 24 Horas de Le Mans.

 

Apenas para lembrar, Penske correu duas vezes em Le Mans (uma vez como piloto em 1963, começando da pole position com o companheiro de equipe Pedro Rodriguez) e depois como proprietário de uma equipe em 1971. Ambas as oportunidades foram com Ferraris. Com a convergência haverá a possibilidade de se poder disputar as 24 Horas de Le Mans sem investimentos de centenas de milhões de dólares e ter condições de vencer.

 

Será que uma mudança de regulamento com esta dimensão poderia atingir a Fórmula 1 e derrubar os valores que hoje são investidos por temporada pelas grandes equipes? As vezes não custa sonhar.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva