O intrincado xadrez da Fórmula 1 Print
Written by Administrator   
Wednesday, 08 January 2020 20:59

Caros Amigos, eu tinha 7 anos de idade quando meu pai me convidou a descobrir um jogo que eu o via jogando com meu irmão mais velho. Era algo que muitas vezes durava horas e eu achava chato, por tirar sua atenção de mim e por não entender o que aquelas peças diferentes faziam no tabuleiro de damas.

 

Foi minha primeira experiência com o xadrez, um prazer e uma paixão que trago comigo até hoje e que, como meu pai, ensinei meus filhos a jogar. Meu filho, inclusive, é um exímio enxadrista e consegue fazer algo que nenhum dos irmãos (somos três) conseguiu: derrotar o meu pai em duas partidas seguidas!

 

O entendimento do xadrez vai muito além do tabuleiro e suas peças, com pesos, perfis e movimentos distintos. Para se obter sucesso no Xadrez, é indispensável o planejamento de uma boa estratégia, algo que vá fazer a diferença em relação ao seu adversário.

 

Muitos são os fatores para montar uma estratégia eficaz: levar em consideração o posicionamento das peças, tanto suas quanto a do seu adversário, o valor de cada peça, sacrifícios necessários a se fazer, momento de avançar, de recuar, a ocupação do centro do tabuleiro, que propicia ao jogador ter mais opções de ataque e defesa em determinado momento do jogo.

 

O intrincado jogo de xadrez da Fórmula 1 para 2020 teve início às vésperas do natal do ano passado, quando a Ferrari anunciou a renovação do contrato de seu piloto mais jovem, Charles Leclerc, até 2024, que apesar do valor ser relativamente (e na prática) baixo – de 9 milhões de dólares por ano – bem abaixo do salário dos principais pilotos da categoria, nada impede que este valor seja multiplicado em algumas vezes antes mesmo do seu final. É menos de um terço do então valor de contrato de seu maior potencial adversário, Max Verstappen, mas em vésperas de uma grande mudança na categoria com o regulamento de 2021, ter um contrato que vai 4 anos além desta data, é um movimento de ataque onde a outra peça do tabuleiro pode ser aquela a ser sacrificada em uma jogada próxima. No caso, Sebastian Vettel.

 

Do outro lado do tabuleiro, a Red Bull anunciou nesta terça-feira, dia 7, a renovação do contrato de sua principal estrela, Max Verstappen, valendo agora até o final de 2023. Ou seja, três temporadas sob as novas regras que entrarão em vigor a partir do próximo ano. Um movimento de defesa, garantindo por um considerável período aquele que pode ser o grande piloto da década que vai se iniciar, mas também uma preparação para um movimento ofensivo, com a aposta em seu projetista, Adrian Newey, para fazer um carro capaz de fazer a diferença em relação aos concorrentes.

 

Para quem, como eu, adorava jogos de tabuleiro na minha infância, um dos jogos mais difíceis que havia e que nunca consegui jogar direito era o chamado “xadrez chinês”. Na verdade, o jogo que vinha com aquele tabuleiro em formato de estrela com seis pontas era o “jogo de damas” dos orientais, e que podia ser jogado por até 6 participantes.

 

Neste tabuleiro complexo podemos colocar a McLaren, que a partir de 2021 vai voltar a usar motores Mercedes, que venceram os seis últimos campeonatos e são favoritos a continuar vencendo em 2020. A equipe inglesa mostrou uma grande evolução  na temporada de 2019 e se sua equipe de projetistas “acertar a mão” com o carro do próximo ano, poderemos ter um embate deveras interessante e um sonho para todos os expectadores. Afinal, potencialmente teríamos quatro equipes e oito competidores disputando em condições próximas os três lugares no pódio.

 

Entre os jogadores de xadrez existem os chamados “estilos”. Alguns são mais ousados, outros mais defensivos, todos são estratégicos e alguns – talvez todos – tenham suas excentricidades. Como os murros na mesa estrategicamente captados ante as câmeras de TV, Totó Wolff e a Mercedes não precisam fazer movimentos ousados no momento. Tem o melhor carro há mais de meia década, um piloto campeoníssimo e motivado (Lewis Hamilton) e um piloto que ou prova que pode ser um adversário mais constante e desafiador ao longo da temporada. Ambos tem seus contratos com encerramento ao final da temporada, mas a Mercedes tem uma peça preciosa para movimentar no tabuleiro que se desenha a partir de 2021: George Russell. O jovem piloto inglês que fará mais uma temporada pela Williams pode ser o próximo movimento da equipe no jogo da próxima década.

 

Não me surpreenderei se novos movimentos forem feitos nos próximos meses antes do início do campeonato, até mesmo uma renovação de contrato de Lewis Hamilton sendo antecipada, mas pouco provável. A única certeza neste tabuleiro é que todos os jogadores estão atentos aos movimentos e estratégias de seus oponentes.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva