Os segredos da floresta negra Print
Written by Administrator   
Wednesday, 24 July 2019 20:52

Caros Amigos, até 2011, quando minha vida mudou dramaticamente, um dos meus maiores prazeres era viajar, pelo Brasil e por lugares interessantes pelo mundo. Metrópoles, praias, montanhas, sempre buscando experiências novas. Um dos lugares na Alemanha que mais me encantou foi a chamada “Floresta Negra”.

 

Localizada no estado alemão de Baden-Württemberg, a Floresta Negra (Schwarzwald) é uma cadeia montanhosa de baixa altitude coberta em grande parte por densa vegetação no sudoeste da Alemanha. Ela ganhou fama como terra dos relógios cuco; da torta de chocolate, cereja e chantilly que leva seu nome e por servir de cenário para contos de fadas como Chapeuzinho Vermelho e João e Maria.

 

Essa região de vales, florestas, cidades históricas e montanhas se estende por cerca de 200 quilômetros de norte a sul e 50 quilômetros de leste a oeste. Os romanos a chamavam de “silva nigra” ou Floresta Negra devido à penumbra em sua densa vegetação. Assentamentos só existiam em suas margens e, somente na Idade Média, ela passou a ser lentamente habitada.

 

Em 1970, em meio a esta floresta, foi construído o autódromo de Hockenheim, reformado em 2002, que tem sido desde sua construção, majoritariamente, o palco do GP da Alemanha de F1, com algumas exceções para o traçado curto de Nurburgring, configurado em 1994. Confesso sentir saudades daqueles longos trechos dentro da floresta, atualmente, pelas imagens de satélite, quase não mais visíveis.

 

A penumbra criada pela floresta e recentes fatos no meio da F1 inspiraram a coluna desta semana. Assim como nas fábulas e contos de fadas, nos dias de hoje podemos estar diante de mais alguém envolvido pelas sombras e dúvidas que uma floresta como aquela dos livros podem fazer nos dias reais – de forma metafórica, evidentemente.

 

A Alemanha é a “casa da Mercedes”, equipe que domina o campeonato mundial da categoria há meia década e, certamente, a “corrida de casa” tem um sabor especial, seja bom (em caso de vitória) ou ruim (em caso de derrota). Mas há uma outra corrida em disputa na F1 e o troféu desta corrida atende pelo nome de Max Verstappen. O jovem holandês de 21 anos é objeto de cobiça de qualquer dos times envolvidos no campeonato, apesar de apenas três deles terem condições de por as mãos no “prêmio”.

 

A situação é relativamente simples de ser explicada em seu início: Max Verstappen é um daqueles pilotos fora de série, mas com um “algo a mais”... pelo menos na visão de boa parte das pessoas envolvidas com a categoria e também com um “algo a menos” (para alguns ética, para outros prudência), caso visto por outro ângulo, por outras pessoas ou até mesmo por alguns que acham que ele tem um “algo a mais”.

 

O contrato de trabalho de Verstappen com a Red Bull (segundo consta, uma vez que nunca vi o mesmo), termina em 2020, mas haveria uma cláusula de performance que, caso o piloto não esteja obtendo resultados como deveria por falta de recursos técnicos, o mesmo pode ser rompido antes deste prazo sem multa rescisória. Mas para onde Verstappen poderia ir se decidir sair da Red Bull?

 

Se um piloto jovem está a procura de uma equipe vencedora, para ser campeão do mundo, a Mercedes – evidentemente – seria a primeira opção. Especialmente diante do cenário que se apresenta em relação aos pilotos da equipe: Valtteri Bottas está com seu contrato se encerrando no final desta temporada e, apesar de ter feito um surpreendente início de campeonato, já está colocado “em seu devido lugar”. Haveria então uma possibilidade concreta de este lugar ser seu.

 

O empecilho, no caso, tem nome, sobrenome e – no final do ano, pelo seguir do script – seis títulos mundiais: Lewis Hamilton. O inglês, caso tivesse que receber como seu novo companheiro de equipe o jovem Max Verstappen, estaria disposto a dividir as atenções da equipe com um piloto de 21 anos, extremamente rápido e de personalidade (coloquemos “forte” para evitar errar nos adjetivos)? Seria – possivelmente – reviver o ambiente competitivo e pesado dos anos de disputa com Nico Rosberg e neste aspecto, até onde a Mercedes administraria uma situação deste gênero?

 

O contrato de Lewis Hamilton vai até 2020 e, certamente, em seu planejamento, dentro das condições atuais, levando-o para um sétimo título ao final da temporada que vem, a quebra do recorde de vitórias de Michael Schumacher e, quem sabe, uma honrosa despedida das pistas como campeão às portas daquilo que se desenha como “uma grande revolução” na F1, com o regulamento que FIA e FOM querem homologar. Hamilton continuaria pilotando em 2021? Ninguém tem esta resposta.

 

Apesar de não ser um especialista em automobilismo, mas um sagaz observador dos movimentos do mercado mobiliário, com estes olhos eu não consigo ver uma projeção de mercado com Max Verstappen seguindo para um “plano B”. No caso, a Ferrari. Há uma década os italianos “correm atrás” do líder. Antes foi a Red Bull, agora é a Mercedes, sem conseguir alcançar seu objetivo, seja no campeonato de pilotos, seja no de construtores.

 

Uma ida do holandês para Maranello, neste caso, a maior possibilidade seria uma “troca” de cockpits com Sebastian Vettel “retornando pra casa” (ele e Helmut Marko tem conversado muito ao longo dos últimos meses, segundo fontes seguras) possivelmente faria a equipe explodir numa erupção equivalente a que destruiu Pompeia com Verstappen e Leclerc dentro do mesmo Box. O ‘modus operandi’ germânico teria – talvez – como administrar a situação. O italiano, pouco provável.

 

Em todo este contexto, há ainda a boa relação entre Toto Wolff e Jos Vertappen, o pai de Max, que antes mesmo de Max assinar com a Toro Rosso em 2015, já circulava nos boxes da estrela prateada um ano antes, “vendendo” a imagem do seu filho. Convenhamos que o produto exposto em 2014 talvez tenha superado as expectativas aos olhos do “público consumidor”, além da plateia, nas arquibancadas do outro lado da pista.

 

O relógio e a penumbra da floresta negra correm contra Toto Wolff no enredo desta fábula moderna, com toques bem mais realistas que os contos de fadas. Se tivemos duas ótimas corridas na pista recentemente, esta que pode ser travada nos bastidores de Hockenheim pode ter mais emoções do que as que assistiremos no domingo pela TV.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva 
Last Updated ( Thursday, 25 July 2019 11:10 )