Uma questão de perspectiva Print
Written by Administrator   
Wednesday, 21 November 2018 21:02

Caros Amigos, desde quando era aluno do que se chamou um dia de ginasial, depois de primeiro grau maior, uma matéria que me “perseguiu” até o básico de exatas na universidade foi o desenho.

 

Confesso que a minha habilidade em desenhar é pior do que a de uma criança de 10 anos de idade e pude constatar isso na prática, quando meus dois filhos foram crescendo e passara por este período da vida. A parte onde eu sempre pecava era não conseguir definir perspectivas, fazer um desenho parecer ter profundidade, dando o sentido de três dimensões. Na parte do cálculo, isso nunca foi problema. O difícil era quando tinha que colocar a régua e o papel em uma prancheta e transferir os cálculos para lá.

 

O termo “perspectiva” pode ser utilizado em diversas formas e seguimentos de nossas vidas e depois deste último final de semana, fiquei pensando sopre como a visão e as perspectivas das pessoas são diferentes sobre as coisas que as cercam. Em grande parte, isso é algo extremamente positivo, uma vez que estaríamos condenados a um mesmismo caso todos tivessem a mesma ótica que poderia não ser a melhor forma de se ver aquilo que se é mostrado.

 

A temporada da NASCAR terminou neste último domingo, com Joey Logano conquistando o título. Quantos dos nossos estimados leitores acharam esta conquista justa? O conceito do que é justo precisa partir de regras e se estas regras são pré-estabelecidas e todos aceitam as mesmas, o fruto do que acontece no processo – o resultado final – resultado daquelas regras não pode ser considerado injusto... ou pode?

 

Ao longo da temporada do ano passado, Martin Truex Jr. foi o amplo dominador da temporada, vencendo o que a NASCAR chamou – e foi traduzido aqui no Brasil – de seguimento e corridas no final. Depois de 26 etapas, chamadas de temporada regular, um grupo de pilotos, os mais bem colocados e os detentores de vitórias, seguiam na disputa do título recebendo um bônus de pontuação e fazendo uma disputa à parte nas 10 corridas finais. Era o chamado “chase”.

 

O sistema mudou em 2016 e passou-se a ter um formato de “playoffs”, onde a cada 3 corridas os pilotos piores colocados eram eliminados da disputa pelo título com apenas quatro deles chegando em condições de ser campeão na etapa final em Homestead, Miami. Esta foi a regra criada, este foi o sistema estabelecido e se não todos, mas a maioria votou e aprovou este sistema, portanto, precisam aceitar e trabalhar com ele. Não serei eu a questionar a justiça do título de Joey Logano, mas quem foi o piloto mais vencedor e mais eficiente da temporada? Será que Kevin Harvick se sentiu justiçado com a não conquista do título?

 

Nos Estados Unidos há este tipo de situação não apenas no esporte, mas também na política. Donald Trum, por exemplo, recebeu três milhões de votos populares do que a candidata Hillary Clinton. Contudo, no sistema de votação por indicação de “delegados”, os votantes em uma segunda rodada (um “chase” ou um “playoff”), Donald Trump tinha mais delegados eleitos e estes o colocaram na presidência.

 

Nós todos, amantes do automobilismo, que seguimos mais de perto e há mais tempo a Fórmula 1, já vimos mudanças na forma de se proclamar um campeão ao longo da história da categoria. E foram várias. Desde o sistema de pontuação, que durante alguns anos privilegiou o vencedor de corridas, quando a pontuação era no sistema 9-6-4-3-2-1 e que depois passou para 10-6-4-3-2-1, como quando a alteraram, dando mais valor à regularidade, com o 10-8-6-5-4-3-2-1, onde o numero de pilotos pontuando passou a serem oito e não seis, até chegarmos no sistema de pontuação atual, que o Grupo Liberty Media chegou a esboçar um esforço em alterar, querendo que todos os pilotos recebessem pontos, como na NASCAR, algo que foi rechaçado pelas equipes.

 

Houve também o período dos descartes, onde al longo da temporada os pilotos podiam descartar seus piores resultados e um número limitado de corridas contava pontos para a classificação final. Isso levou, em alguns casos, o piloto que fez mais pontos no campeonato como um todo, sendo o mais regular, não ficar com o título como foi o caso de Alain Prost em 1988, que perdeu o campeonato para Ayrton Senna pela regra dos descartes, algo que era regra e todos os pilotos e equipes eram cientes das mesmas e concordavam com elas.

 

Tivemos até mesmo algumas propostas excêntricas, como quando Bernie Ecclestone disse que queria dar medalhas aos pilotos no pódio e o piloto que tivesse mais medalhas de ouro no final do campeonato seria o campeão, independente da pontuação ao longo do ano. Até hoje não se sabe se ele usou deste expediente – como fez diversas vezes – para chamar os holofotes da mídia para si e para categoria ou estava falando sério.

 

Tivemos recentemente na Fórmula 1 a corrida final em Abu Dhabi com direito a pontuação dobrada, algo que poderia – ou não – mudar a pontuação do campeonato e o destino do título. Algo que temos na Stock Car aqui no Brasil há algum tempo com a etapa final em Interlagos, onde trabalhos que foram construídos ao longo de um ano podem mudar em 40 minutos.

 

Até onde isso é benéfico ou não para o esporte a motor? É uma questão de perspectiva, não?

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva