Um caminho sem volta Print
Written by Administrator   
Wednesday, 07 November 2018 22:46

Caros Amigos, as mudanças pelas quais o mundo vem passando está adquirindo uma velocidade e uma intensidade cada vez maior, exigindo de nós, que estamos no meio do processo, uma capacidade de adaptação cada vez maior.

 

Acredito que todos nós já ouvimos a expressão “choque de gerações”. Quando eu era adolescente, ela traduzia bem a diferença de pensamento entre pais e filhos. Se pararmos para analisar bem o que vivemos nos dias de hoje, a realidade é um choque de gerações entre irmãos. Atualmente, cinco anos tem praticamente o mesmo efeito na forma como o mundo, o pensamento e as práticas mudaram que tinham em um intervalo de 20 ou trinta anos.

 

Algumas coisas que se viu no mundo da Fórmula 1 no passado é uma prática comum nos dias de hoje, inclusive já foi algo mais evidente, mas que nos dias de hoje parece ter sofrido uma mudança de postura por parte de alguns protagonistas. O funcionamento do mundo é mesmo incrível na sua busca fazer o melhor de forma cada vez melhor.

 

Nos anos 70 a parceria entre a montadora francesa Renault e petrolífera Elf produziu uma geração de grandes pilotos para o país. Todos chegaram à Fórmula 1 e, apesar de apenas um deles ter conseguido conquistar títulos (Alain Prost), a geração encabeçada por Jean-Pierre Jabouille que teve Rene Arnoux, Didier Pironi, Patrick Tambay, Patrick Depailler, Jacques Laffite ocupou posições em algumas das principais equipes da categoria.

 

A geração seguinte teve um pouco menos de êxito. Olivier Grouillard, Paul Belmondo, Eric Bernard, Erik Comas, Jean Alesi e Olivier Panis não conseguiram repetir a quantidade de vitórias e nem o protagonismo da geração anterior, mas o modelo francês mostrou que valia a pena se montar um programa de formação e aperfeiçoamento de pilotos para, quem sabe, produzir um campeão do mundo. A Mercedes fez isso na Alemanha no final dos anos 80 e seus “Mercedes boys”, que se destacaram no campeonato mundial de protótipos, chegaram à Fórmula 1. Entre eles, o heptacampeão Michael Schumacher.

 

Nesta semana recebemos a confirmação de que Sergio Sette Câmara passa a ser piloto do programa da McLaren, que já revelou Lewis Hamilton, Reiki Kovalainen, Stoffel Vandoorne, Nick De Vries e Lando Norris. Com isso, o nosso piloto poderá participar de testes com o carro de Fórmula 1 da equipe, além de sessões de simulador, algo que muitos dos seus adversários na Fórmula 2 tiveram acesso este ano. 

 

Esta não é a primeira participação de Sergio Sette Câmara em um programa como este. Nestes tempos mais recentes o programa da Red Bull, que revelou Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo, Jean-Eric Vergne, Daniil Kvyat, Carlos Sainz Jr e Max Verstappen, entre outros, dirante o ano de 2016, mas a metodologia de trabalho chefiada pelo ex-piloto Helmut Marko não parece ser algo com o qual os pilotos Brasileiros tenha conseguido lidar muito bem. Antes de Sette Câmara, Pedro Bianchini e Felipe Fraga chegaram a ir para a Europa depois do kart, mas acabaram não tendo continuidade.

 

O Red Bull Junior Team foi lançado em 2001, quando a empresa ainda patrocinava a equipe Sauber. Era um plano ousado, mas criado com bases muito sólidas. Os talentos receberiam atenção e tratamento dignos de pilotos consagrados, principalmente no que diz respeito à preparação física e psicológica. Incluindo acesso ao Red Bull Diagnostic & Training Center. As possibilidades se mostraram tão grandes que de patrocinadora a Red Bull comprou uma equipe (a Jaguar), que tornou-se a Red Bull e depois uma segunda (a Minardi).

 

Todo o processo vai além do que é mais um centro de treinamento. Assim como outros atletas patrocinados pela Red Bull, os jovens pilotos, selecionados na faixa entre 14 e 16 anos, passam por uma série de avaliações de resistência e do lado psicológico, com o intuito de traçar um perfil completo, mostrando pontos fortes e fracos.

 

Sergio Sette Câmara entrou com um ano a mais, aos 17, no final de 2015 e em abril de 2016 teve a oportunidade de guiar um carro de Fórmula 1 pela primeira vez já neste fim de semana, no circuito de Aragón, na Espanha, dentro da programação do World Series by Renault. Ele chamou a atenção da marca depois de ótimas exibições na temporada de estreia no automobilismo europeu, tendo feito a pole e subido no pódio no Masters de Fórmula 3 em Zandvoort, na Holanda, e quebrado o recorde da pista de Macau. Contudo, a má temporada de 2016 na F3 europeia, estando na mesma equipe que Pierre Gasly, Sette Câmara foi desligado do Programa.

 

No início do ano a Petrobras assinou contrato com a McLaren, para ser a fornecedora de combustível a partir de 2019. Com a entrada da empresa brasileira, Sergio Sette Câmara passa a ter um outro status entre os aspirantes a um lugar na Fórmula 1 em um dado futuro. Contudo, apesar da boa notícia, isso não é garantia de que Sergio vá sentar em um carro de Fórmula 1 como piloto titular de alguma equipe. Davide Valsecchi, que foi campeão da então GP2, ficou alguns anos como piloto de testes até que desistiu de ficar esperando e mudou sua vida.

 

O que não podemos deixar de compreender é que mesmo sem a fora que um dia a Renault e a Red Bull tiveram com seus programas, é muito difícil para um piloto conseguir chegar na Fórmula 1 apenas por seu talento. Ou tem que ter uma estrutura como estes programas para ampará-los ou um aporte financeiro cada vez maior para empurrá-lo, sendo que isso pode não dar garantia. Um exemplo é o caso de Marcus Ericsson na Sauber, que vai “virar embaixador”, uma vez que o investimento da Ferrari para manter dois pilotos na equipe foi maior do que seu patrocínio.

 

Temos alguns bons valores no horizonte, como Caio Collet, Enzo Fittipaldi e Gianluca Petecof, mas sem o suporte devido, podemos acabar não os vendo na Fórmula 1. Este caminho dos programas de jovens pilotos tem se mostrado um caminho sem volta.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva