O dia seguinte Print
Written by Administrator   
Wednesday, 31 October 2018 23:39

Caros Amigos, na minha adolescência eu era um leitor ávido por todo o tipo de literatura que me caísse às mãos. Era também um cinéfilo e posso dizer que tive muita sorte, uma vez que minha namorada, com quem casei e estou casado até hoje, também era como eu. Bons livros, bons filmes e boas conversas.

 

Procuro incentivar esta prática aos meus filhos e, normalmente, nossas noites de segunda-feira são reservadas para vermos juntos algum filme. Nesta última, escolhi um filme que não pude ver no cinema, mas o vi anos depois, alugando-o em uma videolocadora. Chamava-se “The Day After” (O dia Seguinte), de 1983.

 

No filme, a família do Dr. Oakes (o protagonista) vivia em Lawrence, uma pequena cidade do Estado americano de Kansas. Ao mesmo tempo, uma crise diplomática se agrava entre os EUA e a URSS após esta ter invadido a parte ocidental de Berlim, Alemanha. Em resposta, a OTAN envia para a área de conflito todo seu arsenal. As forças contrárias iniciam então ações militares de combate que vão se intensificando e agravando a situação, até que é usada pela primeira vez arma nuclear de pequena potência sobre o QG da OTAN na Europa. A partir daí há o desencadeamento da guerra nuclear total entre os americanos e os soviéticos, com consequências desastrosas para ambos os lados. O filme teve forte impacto sobre a sociedade americana.

 

A escolha foi proposital. Um dia após a deplorável campanha eleitoral que vivemos, com um extremismo insano e absurdo e uma cegueira coletiva, fomentada por ódio, notícias falsas e numa demonstração explícita de despreparo da nossa sociedade, um presidente foi eleito muito mais por exclusão do que por opção. Agora, passado o processo eleitoral, é hora de avaliar as consequências da escolha feita.

 

Não vou transformar nossa coluna semanal em uma coluna política, mas levar as questões políticas que envolvem o esporte a motor e principalmente a as questões histórias de preservação da nossa memória esportiva, que é o objeto fim do Projeto Nobres do Grid. É preciso abrirmos os olhos para o desenrolar dos fatos políticos que podem ter implicação direta no futuro do nosso maior patrimônio físico, que é o Autódromo José Carlos Pace.

 

Lamentavelmente o candidato eleito para o governo do estado de São Paulo é o mesmo que há dois anos atrás foi eleito prefeito da capital paulista, e que durante boa parte do seu mandato, investiu pesados esforços na venda do principal autódromo brasileiro. Sua exclusão do cenário político seria um movimento a nosso favor nesta disputa que ainda tramita na câmara dos vereadores da maior cidade do país e nós continuamos acompanhando de perto este processo. Afinal, um dos nossos colunistas, Sergio Berti, é um dos líderes da Comissão Pró Autódromo.

 

Com a prefeitura nas mãos de Bruno Covas, o projeto da privatização do autódromo no âmbito da câmara de vereadores, através do projeto de lei 705/2017, que é um plano de privatização de alguns bens da cidade de São Paulo, entre eles o Autódromo, onde haveria uma mudança das normas de zoneamento através de um projeto de intervenção urbana que projeta a construção de mais uma via de deslocamento, chamado de Arco do Jurubatuba.

 

Na gestão de Bruno Covas a gestão do autódromo passou da SPTuris, autarquia ligado ao turismo, para a SPObras, que é responsável pelas obras, inclusive, é o órgão que executa as obras anuais para ajustes do autódromo para receber a Fórmula 1, que é importante lembrar, tem seu contrato com os gestores e proprietários da categoria até 2020, e como deixei claro nas últimas colunas sobre autódromos, tem os argentinos de olhos bem abertos na possibilidade de levar para Buenos Aires o GP do nosso continente.

 

Positivamente, o atual prefeito assinou contrato com o ACO, e com Gerard Neveu, além dos promotor brasileiro, Nicholas Duduch, para a realização das 6 horas de Interlagos até 2025, algo que é muito positivo para manutenção da estrutura de Interlagos, mas que não é garantia de que as etapas acontecerão. Afinal, o contrato do promotor anterior era para ocorrerem 5 corridas, e apenas 3 foram realizadas.

 

O governador eleito tem na presidência da câmara de vereadores, ocupada pelo vereador Milton Leite, um aliado em seu projeto de privatização do autódromo e não tenhamos a menor dúvida de que eles vão trabalhar juntos para levar o plano inicial adiante, contrapondo-se a possibilidade colocada de se fazer uma concessão do autódromo ao invés de privatizá-lo, algo que não interessa ao governador eleito e ao presidente da câmara de vereadores.

 

Para infelicidade do meio do esporte a motor, a eleição do ex-prefeito como governador do estado foi algo negativo para as comunidades do automobilismo e motociclismo, tanto quanto os movimentos finais do governador do Distrito Federal, que encerra o mandato no final do ano seguindo os passos de seu antecessor, que no final do mandato, quer fechar um negócio escuso para “revitalizar” o Autódromo de Brasília, deixando-o se degradar por 4 anos, através de uma parceria com empresas privadas que avançarão na área original do autódromo para especulação e exploração imobiliária. Ao menos na capital federal, talvez o novo governador não pense como o eleito em São Paulo.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva