O dever do profissional Print
Written by Administrator   
Wednesday, 24 October 2018 23:21

Caros Amigos, desde muito jovem eu sempre ouvi do meu pai conselhos sobre a importância de estar preparado para os desafios que o futuro me reservaria e sobre a como eu seria cobrado sempre que me colocasse eu uma situação de decisão, poder ou interlocução.

 

Ele costumava ter conversas sobre estes e outros assuntos relevantes e referentes à vida comigo e meus irmãos e, confesso, na adolescência, nem sempre este tipo de conversa é aquela coisa “mais interessante”, mas com o tempo, passamos a dar valor àqueles momentos.

 

Quando estou com a minha equipe de trabalho, procuro motivá-los a partilhar suas experiências e a aprofundar conhecimentos para que se tornem profissionais cada vez melhores. É um processo semelhante: separar alguns minutos do dia para se promover esta passagem e esta troca de experiências. Isso aprimora o ser humano e o profissional.

 

Neste último final de semana acompanhei pelo canal pago da emissora que detém os direitos de transmissão de quase todas as categorias do esporte a motor no país os eventos que foram acontecendo, desde o sábado, com os treinamentos e classificações. Particularmente, prefiro quando acontece este tipo de conflito de horários com o futebol – exibido no canal de sinal aberto – por termos a oportunidade de vermos o “antes” e o “depois”, com discussões, reprises históricas, entrevistas, etc.

 

Contudo, preciso tentar transmitir um recado aos membros da equipe da emissora por terem – obviamente não de forma proposital, quero crer – deixado de “fazer o dever de casa” e – aos ouvidos mais atentos – não terem dado a devida atenção ao trabalho jornalístico, algo que lhes é obrigatório uma vez que são profissionais e remunerados para estar ali, diante de câmeras e microfones para passar informações aos telespectadores.

 

Uma vez que são profissionais que trabalham com o esporte a motor em uma emissora com o poderio da qual trabalham, com grande audiência, espera-se um nível de conhecimento acima do razoável quando se vai prestar informações para a sua audiência e, lamentavelmente, a transmissão deste último final de semana mostrou um desconhecimento tamanho sobre o que acontece fora da Fórmula 1 e suas categorias satélite inacreditável, especialmente quando passaram a falar sobre coisas do automobilismo norte americano. Não chegaram ao extremo do que dois comentaristas de uma das redes locais que ao mencionar a conquista do sétimo título na F1 por Michael Schumacher em 2004 disse que já tinha ouvido falar sobre ele e que ele era tão bom quanto o Tony Stewart (sic).

 

Comentando sobre a futura Fórmula W, eles tentaram mostrar algum conhecimento sobre a Danica Patrick, mas não sabiam onde ela estava correndo, que já tinha se aposentado, se havia vencido na Fórmula Indy... mesmo ela não sendo o Michael Schumacher, as corridas das categorias onde a recém aposentada piloto corria são transmitidas regularmente para o Brasil há muitos anos e, mesmo que não fosse, seria dever de um jornalista estar informado.

 

Contudo, o que realmente me decepcionou foi os comentários sobre a Fórmula 4 norte americana e nesta hora incluo toda a equipe, tanto a que transmitiu a Fórmula 1 quanto a que transmitiu a Stock Car. A abordagem (se é que posso chamar de abordagem o que foi feito) foi simplesmente deprimente. Lembrou-me a cobertura da Fórmula 3 Inglesa em 1978, quando os feitos de Nelson Piquet na Inglaterra eram praticamente ignorados e até corridas que ele vencia tinham como manchete – em uma época que ainda se publicavam notícias sobre automobilismo de categorias de acesso nos jornais brasileiros – outro piloto brasileiro, que tinha influência na mídia. Diga-se a verdade, vi isso acontecer ao longo deste ano com dois pilotos da mesma equipe na F4 europeia (Itália e Alemanha) onde os feitos de um piloto eram noticiados e do outro – que terminou os campeonatos à frente do primeiro – raramente foi mencionado, mesmo tendo ele o sobrenome que tem, o que corrobora com os diversos emails que recebemos dizendo que há “veículos de mídia” que só publicam notícias caso sejam pagos para isso.

 

Não acredito que tenha sido este o caso, o de doloso esquecimento ou desprezo por parte dos narradores e comentaristas do referido canal, mas sim de desconhecimento do que aconteceu na espetacular Fórmula 4 norte americana, que em várias corridas teve um grid de mais de 30 carros e normalmente mais de 25 onde não apenas Eduardo (Dudu) Barrichello disputou o campeonato inteiro. Além dele, o gaúcho Arthur Leist igualmente disputou a temporada e, depois de ter completado a idade mínima, passaram a ter a companhia do pernambucano Francisco (Kiko) Porto, que disputou as 4 etapas finais.

 

Ao longo do final de semana, os comentaristas, narradores e repórteres de pista concentraram-se em comentar os feitos do filho de Rubens Barrichello, que conquistou a décima primeira posição nas duas corridas da rodada dupla realizada na programação de eventos preliminares da Fórmula 1. Em todo o final de semana o nome de Arthur Leist foi meramente mencionado uma vez, sendo que foi o gaúcho o piloto brasileiro a conquistar os melhore resultados entre os três na temporada, com a conquista de dois pódios. Francisco Porto teve a sua presença simplesmente ignorada, apesar de ter marcado pontos em 6 das 8 corridas que disputou (4 rodadas duplas) e sido o único brasileiro a marcar pontos no final de semana passado, chegando à frente de Eduardo Barrichello na corrida do domingo. Arthur Leist tecebeu o troféu de piloto que mais evoluiu na temporada, mas isso também não foi mencionado.

 

Uma vez que estamos todos torcendo para que surjam novos pilotos em condições de chegar à Fórmula 1, dar a mesma atenção e divulgação a todos os jovens que estão enfrentando este desafio é o mínimo que a mídia especializada deve fazer e nós fazemos isso, através da Coluna “Radar”, assinada pelo dedicado membro da nossa equipe, Genilson Santos. Um bom exemplo a ser seguido.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva