A força das monções Print
Written by Administrator   
Wednesday, 04 July 2018 20:19

Caros Amigos, antes de escrever esta coluna fiz uma consulta de ordem meteorológica com nosso Capitão dos sete mares, que parece ter um conhecimento sem fronteiras como o horizonte sobre o fenômeno natural das monções e como ele afeta a Índia. Segundo o nosso sábio dos mares, por ser a Índia um país de grandes dimensões, o fenômeno das monções afetam o país de maneiras muito distintas.

 

Variando de julho a setembro, este efeito tende a começar do lado ocidental, no estado de Kerala, e a deslocar-se para norte e para oriente à medida que as semanas vão passando. As monções podem ser mais ou menos fortes, consoante o local do país, mas podemos ter certeza de que elas estarão lá!

 

Durante o verão, as massas de ar úmido vindas do oceano propiciam a formação de nuvens que precipitam em forma de fortes tempestades durante boa parte do ano. Por esse motivo, na Índia – principal país afetado pelas monções –, foram registrados os maiores índices de chuvas de todos os tempos. Durante o inverno, a massas de ar passam a se deslocar rumo ao oceano, tornando o clima extremamente seco na região.

 

Estamos iniciando o mês de julho e o efeito das monções parece que vai se abater com força sobre este tão diverso e culturalmente rico país, fazendo mais estragos do que fez nos últimos anos se tomarmos como parâmetro o mundo da velocidade, que viu crescer nos últimos anos uma equipe que levava pelo mundo a bandeira indiana com seu verde e laranja vibrantes, com resultados cada vez mais consistentes a cada nova temporada na Fórmula 1, mas que todos os indícios apontam para um tempestuoso horizonte a curto prazo.

 

Há muitos anos o seu proprietário, o empresário Vijay Mallya, vive confinado ao território inglês, às voltas com um processo para tomar seus bens para o pagamento de dívidas em seu país natal e leva-lo para cadeia. Ao que tudo indica, as apelações e recursos estão no fim e o destino do empresário pode estar selado antes mesmo do final da temporada.

 

Uma das formas de Mallya salvar algum dinheiro, de alguma forma, através de transferências dos valores para terceiros de sua confiança e depois poder resgatar e fazer uso deste estaria na venda da equipe de Fórmula 1 e assim, mesmo que ele venha a ser preso, sua família teria como manter um padrão de vida elevado e ele, quando e se solto, teria como viver confortavelmente.

 

Segundo a imprensa britânica, o chefe da empresa de bebida energética Rich Energy, originária do Reino Unido, disse que chegou a um acordo “em princípio” para comprar a equipe que tem sua sede em Silverstone, colocando combustível na “fogueira das especulações” e, torno de um possível negócio. Ao mesmo tempo, há rumores de que o patrocinador principal, BWT, Mercedes, ou a equipe de Michael Andretti na Fórmula Indy, também estariam interessadas em assumir a Force Índia, com uma lógica troca de nome. Michael Andretti não negou isso.

 

É sabido que nos últimos dois anos a equipe pediu o adiantamento do prêmio dos pontos e da colocação conquistada no campeonato mundial de construtores (onde a Force Índia foi a quarta colocada), mas que não há garantias de que este dinheiro foi investido na equipe, que – surpreendentemente – consegue ser eficiente com um budget do tamanho da Sauber segundo se sabe na imprensa internacional. Este ano a equipe pediu novamente o adiantamento da premiação.

 

Como os rumores em torno deste assunto voltaram a ganhar força no final de semana passado, do GP da Áustria, fu buscar nos meus arquivos o comunicado oficial da equipe feito durante os testes pré-temporada: “Após recentes reportagens especulando sobre a venda da Force India, os acionistas da empresa querem esclarecer que não há nenhuma oferta de potenciais investidores sob consideração. A equipe está focada no início dos testes na próxima semana, onde o carro de 2018 será apresentado em Barcelona na segunda-feira, 26 de fevereiro.”

 

Contudo, o que se falou no paddock do Red Bull Ring foi que dificilmente a equipe chegaria ao Brasil ainda sob a mesma direção e até mesmo podendo estar sem o mesmo nome! O – ainda – proprietário da Force India, Vijay Mallya, disse no ano passado que a equipe estava considerando uma mudança de nome para ampliar seu apelo aos potenciais patrocinadores. De tudo isso, a única coisa certa a se afirmar é que a equipe e seu proprietário ainda darão algumas manchetes até o final do ano. Seja nas páginas esportivas, de economia ou policiais... talvez nas três!

 

A Índia é um país de fortes contrastes, de diferenças sociais mais impactantes que o Brasil, mas que ainda há uma casta de abonados que tem como investir no automobilismo assim como investe num parque tecnológico de feitos com relevância mundial e uma indústria cinematográfica de grandes produções que abastece o consumo da região, com mais de 1,5 bilhão de habitantes contando os países vizinhos.

 

Apesar disso e de todo o esforço de Bernie Ecclestone para “desbravar esta fronteira” a ida da Fórmula 1 para lá foi mais difícil do que se podia imaginar, mesmo com a construção de um autódromo moderno e assinado pelo “arquiteto dos autódromos”, Hermann Tilke.

 

Cerca de uma década atrás, o conglomerado indiano Jaypee Group havia estabelecido um plano ambicioso para levar seus negócios florescentes a maiores alturas. A ideia centrou-se na construção de um circuito de F1 na Grande Noida, onde o grupo conseguiu comprar enormes quantidades de terra a taxas mínimas.

 

Esperava-se que a corrida de F1 – que de longe, seria o maior evento esportivo do país – levaria a um aumento maciço nos preços dos imóveis na região, com Jaypee obtendo benefícios diretamente através da construção de uma série de municípios ao redor da pista. O aumento da demanda por habitação, por sua vez, aumentaria a demanda por energia e cimento, trazendo prosperidade geral para o grupo diversificado.

 

Apesar das condições econômicas desfavoráveis com a recessão pós 2008, a Jaypee decidiu manter seus planos e investiu cerca de 314 milhões de dólares na construção do Circuito Internacional de Buddh, nos arredores de Delhi. A empresa desembolsou ainda 31,1 milhões em taxa de licenciamento para a corrida inaugural, de acordo com as contas auditadas da Jaypee Sports International Limited (JPSI).

 

O número subiu acentuadamente para 39,1 milhões de dólares na terceira edição, indicando a presença de uma cláusula de escalonamento no contrato. Gastos operacionais adicionais de 19 milhões foram incorridos para a edição inaugural da corrida, levando o valor combinado bem acima de 47 milhões. Somando-se a isso todas as ameaças de autoridades e nas cortes colocando em risco a execução da prova ano após ano, o projeto parou e a categoria não mais voltou ao país.

 

As monções são mais fortes do que se imagina aqui no ocidente!

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva 
Last Updated ( Wednesday, 04 July 2018 22:06 )