Halo: o herói da resistência Print
Written by Administrator   
Wednesday, 16 May 2018 22:37

Caros Amigos, por mais que o mundo esteja globalizado e, devido às diversas plataformas de comunicação e interação pelas redes sociais, ao invés de ver isso criar uma sociedade mais solidária e fraterna, vejo o mundo mais crítico e mesquinho do que nos meus tempos de criança, adolescente e jovem universitário. Será que sou só eu que está tendo esta percepção?

 

A expressão “admirável mundo novo” está mais atual do que nunca, com o novo cada vez mais novo, cada vez mais rápido e cada vez mais admirável. Contudo, a resistência às mudanças tem sido tão grande que em alguns casos chega a me assustar. Mas faço o meu ‘mea culpa’: em muitos aspectos, também tenho sido cético com algumas “novidades”, mas uma delas eu acho que todos que eu conheço ou não conheço foram: o ‘halo’!

 

Eu acho que mesmo em meu desagrado do elemento de segurança, fui bem comedido em minhas críticas. Li com muita atenção a coluna do nosso PhD em resistência de materiais, Luiz Mariano, que ao criticar o halo, foi buscar no motivo que levou à sua criação os fundamentos para mostrar que, ao menos naquele caso – o estúpido acidente que veio a tirar a vida do jovem e promissor Jules Bianchi – assim como no caso do acidente do brasileiro Felipe Massa, o halo não surtiria efeito algum.

 

Lembro-me que Em fevereiro os pilotos, em peso, rejeitaram o uso do halo e uma alternativa – o “shield” – provocou uma discussão em torno de qual seria a melhor alternativa. O Shield, que acabou rejeitado depois de um teste onde o tetra campeão, Sebastian Vettel, disse ter sentido vertigens e mesmo pediu para parar o carro no meio da volta, funcionava como um “parabrisas” na frente dos pilotos para desviar todos os tipos de detritos. Contudo, pouco antes do início da temporada de Fórmula 1, o jovem piloto espanhol Carlos Sainz Jr. foi profético ao dizer: “Se ele salvar uma vida em dez anos, todos ficarão gratos”. 

 

Não precisamos esperar dez anos – nem sequer dez meses, mas algo como dez semanas – para ver o halo fazer jus à sua instalação. Na corrida do domingo da Fórmula 2, uma disputa entre dois pilotos japoneses – Nirei Fukuzumi, da equipe Arden, e Tadasuke Makino, da equipe Russian Time – poderia ter resultado em consequências trágicas quando o o carro de Fukuzumi saiu do controle e a traseira esquerda enganchada com a traseira direita do carro de Makino. A Arden, de Fukuzumi, levantou-se e bateu primeiro no lado direito do carro de Makino e depois no halo, depois caindo na brita da área de escape onde os carros foram parar.

 

As fotos que circulavam na internet mostravam como Makino poderia ter sofrido consequências mais sérias se não tivesse sido protegido pelo halo. As marcas de pneus na lateral da cobertura do motor, estendendo-se até o halo e também os arranhões provocados pelo assoalho do carro levam qualquer um com bom senso a pensar que mesmo que não tenha sido questão de salvar uma vida, eu diria que seria um acidente bem feio sem o halo, julgando pelas marcas de pneus. Definitivamente o halo demonstrou a utilidade do novo dispositivo para proteger a cabeça do piloto.

 

O visual do dispositivo de segurança foi altamente criticado, principalmente em comparação com soluções como o Aeroscreen, testado recentemente na Fórmula Indy. Uma proposta indiscutivelmente mais harmoniosa que a da Fórmula 1, e tem até um background histórico se você considerar a semelhança com os defletores dos carros do passado. O dispositivo é produzido pela PPG Aerospace, e usa um material chamado Opticore, que é um tipo de policarbonato usado em nas carlingas de aviões militares (como o F-16), para-brisas e janelas de helicópteros e aviões civis.

 

Não sei dizer se foi o mesmo material utilizado nos testes com os carros da Fórmula 1, onde Sebastian Vettel disse que ficou um pouco tonto, possivelmente devido à refração ou algum tipo de distorção causada pela lente no aparato que foi instalado na Ferrari no ano passado em Silverstone. No caso do equipamento instalado no carro da Fórmula Indy os resultados aparentemente foram positivos, e agradaram tanto o piloto quanto os organizadores da Indy. Na entrevista após o teste, Scott Dixon, um dos pilotos mais vitoriosos e experientes da categoria, disse que “é um pouco diferente pilotar atrás de algo tão espesso” e que não percebeu nenhuma distorção nem teve problemas com reflexos.

 

A minha dúvida reside em saber a capacidade de resistência do Aeroscreen em um golpe de cima para baixo como foi o caso do carro caindo sobre o outro no acidente entre os pilotos nipônicos na Fórmula 2. Terei que cobrar isso para ser o assunto de uma próxima coluna do nosso especialista no assunto.

 

Em todo caso, se antes havia uma resistência a permanência do halo para o futuro das categorias de fórmula da FIA, depois do ocorrido no último domingo, os argumentos para sua manutenção serão maiores do que a resistência mecânica a impactos do equipamento.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva