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Written by Administrator   
Wednesday, 18 April 2018 22:09

Caros Amigos, todos devem ter percebido que vim tratando de diversos assuntos relativos ao automobilismo, mas em oito semanas eu evitei falar de Fórmula 1, o início da temporada, as especulações sobre quem seria capaz de fazer o que, etc. Tendo jornalistas com a capacidade de um Livio Oricchio, um Claudio Carsughi ou um Castilho de Andrade, apenas para mencionar três dos quais eu leio, acho que eles tem muito mais conhecimento da categoria do que eu, que não sou jornalista.

 

Mas passadas estas três primeiras corridas eu gostaria de abordar um assunto sobre a categoria com os meus estimados leitores, mas não para o que está acontecendo nas pistas hoje e sim para analisarmos o que pode ou talvez deva e certamente faz-se necessário para o futuro da categoria. Falo da proposta apresentada pelos donos dos direitos comerciais sobre o que pretendem para a F1 a partir de 2021.

 

O Grupo Liberty Media tem uma linha de pensamento sobre apesar de talvez ainda não tenha encontrado a melhor forma de como fazê-lo. Os novos gestores esbarram em alguns obstáculos. O último Pacto da Concórdia  criou o “Grupo de Estratégia”, composto por 5 equipes “tradicionais” (Mercedes, Ferrari, McLaren, Williams e Red Bull) e a melhor classificada no campeonato, atualmente a Force India. São 6 votos num conselho de 18 votos, onde o Grupo Liberty tem 6 votos e a FIA outros 6. A FIA poderia ser a parceira para garantir o 12x6 e estabelecer as mudanças, mas nem sempre Jean Todt tem comungado das mesmas ideias dos homens de negócio.

 

O Grupo Liberty Media tem deixado de uma forma razoavelmente evidente de que pretende, ao término da atual versão do Acordo da Concórdia, no fim de 2020, que os direitos e obrigações entre as três partes não mais sejam mais como agora, cheias de nuanças, restrições, em que qualquer revisão de seja lá o que for, mesmo do que não está funcionando e um novo modelo de acordo, como pensa o Grupo Liberty Media, tiraria das equipes uma série de poderes, lembrando-me de uma declaração de Bernie Ecclestone onde ele disse que não poderia haver democracia na Fórmula 1. Teria ele razão?

 

Mas se este ponto é delicado, o outro é ainda mais: o controle de orçamento! Uma ideia que o Grupo Liberty Media é encontrar uma forma mais eficiente de gerir o montante de dinheiro gerado pela categoria para trazer o máximo de benefícios para todas as equipes e não apenas para as equipes tradicionais, principalmente para a Ferrari, que recebe 70 milhões de dólares por estar na categoria desde a primeira temporada, em 1950.

 

Os dirigentes do Grupo Liberty Media querem que a Fórmula 1 se torne mais emocionante, menos previsível, custe menos e novas escuderias se interessem em disputá-la. Quanto às unidades motrizes, deverão também custar menos, produzir maior ruído, serem mais simples e confiáveis para que os pilotos não sejam punidos com a perda de posições no grid. Uma forma simples e direta de dizer o que querem não necessariamente quer dizer que será fácil conseguir.

 

A decisão da FIA em manter a capacidade em 1,6 L, V6 e o turbo híbrido, mas resolveram eliminar o MGU-H (sistema de recuperação de energia por calor dos gases de descarga) para os motores a partir de 2021, algo que foi um dos poucos pontos não questionado por pelo menos um dos representantes das equipes deve impactar diretamente na questão custo, mas não basta atacar apenas um ponto.

 

 

O conjunto de mudanças passa, compulsoriamente – em nome da redução de custos – pela padronização de alguns componentes do chassi e da unidade motriz, algo que está sendo chamado de “nascarização” ou “americanização” da categoria e que para os tradicionalistas e de certa forma vai de encontro ao que se passou a fazer dos anos 80 para cá. Apenas para lembrar, nos anos 70, quase todo o grid usava motores Cosworth de 8 cilindros e câmbio Hewland de 5 marchas para frente e uma à ré. Uma época em que a categoria tinha mais vencedores diferentes, mais disputas e uma distância menor entre as equipes, mas que não tem como voltar.

 

Se analisarmos de forma bem fria o que foram as três primeiras corridas, exceção ao que foi provocado pela entrada do Safety Car na China, teríamos três corridas com poucas possibilidades de mudança nas posições da frente, salvo algum erro de estratégia ou de operação nos boxes, quebra, acidente ou pneu furado. E o carro deste ano parece que está tornando as ultrapassagens ainda mais difíceis.

 

Evidentemente que no universo das equipes, a Ferrari – que vai sofrer no bolso – e a Mercedes – maior investidora em tecnologia dos motores – não estão muito felizes com a perspectiva de uma mudança. A Ferrari ainda por cima, por além de ter um bônus financeiro de 70 milhões de dólares anuais, tem um injusto – ao menos na visão deste humilde colunista – poder de veto para mudanças de regulamento com os quais eles não concordem. E isso é algo que o Grupo Liberty Media deve tentar tirar para 2021.

 

Este será um assunto que volta e meia retornará às nossas quintas-feiras e com o passar dos meses, poderemos ver como se delinearão as perspectivas sobre o futuro da Fórmula 1.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva