A busca do entendimento Print
Written by Administrator   
Wednesday, 04 April 2018 22:51

Caros Amigos, há muito tempo venho acompanhando o automobilismo e há oito anos estou envolvido com o Projeto Nobres do Grid, do qual me tornei gestor em 2014. Um desafio que me fez procurar aprofundar meus conhecimentos, estudar, tentar compreender o funcionamento dos mecanismos que envolvem o automobilismo além das pistas e das corridas.

 

O fato de ser formado em Administração de Empresas, em Análise de Sistemas e ter feito MBA em Economia, ajuda a entender melhor as coisas com as quais eu trabalho, e – de alguma forma – ajuda, ou pelo menos deveria ajudar, a entender as coisas que dizem respeito ao automobilismo nesta área que vai além da competição.

 

Um dos grandes desafios que eu sempre observei foi a confecção dos calendários de uma categoria e as coisas que eu, no meu amadorismo em termos automobilísticos, achava que deveriam ser levados em conta para que um calendário atendesse da melhor forma possível os interesses daquela categoria e de seu promotor e que, proporcionasse a melhor perspectiva de retorno para ele, para os patrocinadores da categoria e das equipes, uma vez que eles investem na categoria buscando a visibilidade de suas marcas.

 

Na elaboração destes calendários algumas coisas são observadas. Evita-se realizar corridas em feriadões, em datas festivas como a Páscoa, dia das mães, dia dos pais, Carnaval, etc. Uma outra coisa que também se evita são os conflitos de datas com grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo. Em 2016, com os Jogos Olímpicos no Brasil, também se evitou o período. Além disso, no caso do Brasil, costuma-se evitar as datas onde há transmissão de corridas da Fórmula 1, especialmente quando o evento nacional é transmitido pela mesma detentora dos direitos de transmissão em sinal de TV aberta da categoria mais relevante do mundo e que também detém os direitos da Stock Car.

 

A Confederação Brasileira de Automobilismo, nestes anos em que passei a me envolver diretamente com o automobilismo, sempre se mostrou “excessivamente permissiva”, para não dizer omissa, com relação a questão dos calendários, permitindo que as maiores categorias nacionais conflitassem datas – em alguns casos de forma nitidamente intencional – e praticassem um verdadeiro canibalismo entre elas, tentando tirar público dos autódromos e audiência da televisão umas dos eventos das outras.

 

Durante três anos, encaminhamos para os promotores das principais categorias do Brasil, em um deles incluindo o promotor de motociclismo, uma proposta de calendário onde colocávamos as datas de todos os eventos que estas categorias utilizavam distribuídas de forma que não houvesse conflito entre elas, que não houvesse conflito com datas especiais e feriados prolongados, que não conflitassem com eventos internacionais e que não conflitasse com a transmissão da Fórmula 1. Na época, alguns dos promotores chegaram a agradecer nosso trabalho, mas ainda assim, insistiam em conflitar datas enquanto a CBA, que tem no seu estatuto o fomento do automobilismo, não reunia os promotores para tentar elaborar um calendário sem conflitos de datas.

 

Hoje, com a categoria dos caminhões tentando se reencontrar com seu público e estando sob o mesmo “guardachuva” do contrato de transmissão, através do canal por assinatura ligado à mesma emissora que detém os direitos de transmissão da Stock Car, o conflito de datas não aconteceu em 2018, mesmo com uma copa do mundo para consumir cerca de 45 dias de calendário do ano.

 

Posto isso, causou-me enorme estranheza a confirmação da etapa da Stock Car em Curitiba para este próximo final de semana, com as corridas acontecendo no dia 8 de abril, no mesmo horário do GP do Bahrain de Fórmula 1. A primeira corrida está marcada para as 11 horas da manhã e a segunda para 12:05, cinco minutos antes da largada da prova barenita. Irão os fãs de automobilismo colocar uma televisão ao lado da outra para assistir as duas provas? Não creio!

 

Na abertura da temporada a categoria fez uma aposta, realizando a corrida de duplas, com pilotos convidados, em um sábado. A corrida foi ótima, as disputas excelentes, mas as arquibancadas estavam vazias. Pensando como alguém que quer vender um produto, expor sua marca, mesmo que haja uma resposta boa em termos de televisões ligadas no momento da corrida, a imagem de uma arquibancada vazia transmite uma imagem de desinteresse por parte de fãs do automobilismo em comparecer ao local da prova.

 

Confesso-me curioso para tentar entender o motivo da marcação da corrida de Curitiba para o mesmo dia e mesmo horário de uma corrida da Fórmula 1, algo que em todos os anos de transmissão da Stock Car pela emissora que detém seus direitos de imagem jamais aconteceu. Inclusive, esta é uma das pautas que nosso enviado ao evento terá que fazer junto ao Diretor Executivo da VICAR, Rodrigo Mathias.

 

Seria um “teste” por parte da emissora de televisão que quer verificar algo com a audiência na televisão agora que a Fórmula 1 não tem mais um piloto brasileiro no grid? Se for isso confirmarei o que escrevi algumas semanas atrás quando disse que a categoria era prisioneira de uma grade de programação e dos interesses da emissora que detém seus direitos de transmissão.

 

Espero que minhas especulações estejam erradas e que meu temor em ver as arquibancadas do Autódromo Internacional de Curitiba vazias não se confirme.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva