Um desvio perigoso Print
Written by Administrator   
Wednesday, 07 February 2018 22:23

Caros Amigos, os – não muitos – fãs brasileiros de automobilismo (sim, reconhecida e infelizmente somos poucos) estão vivendo uma desagradável experiência desde o final de 2017, quando ficou consumado o fato de que o Brasil não teria um representante na Fórmula 1, algo que não acontecia desde 1972 e que, inicialmente, talvez tivesse apenas um piloto na Fórmula Indy, onde já tivemos sete pilotos no grid. Acabamos brindados pela excelente notícia da assinatura de contrato do jovem Matheus Leist com a A.J. Foyt, que terá também o experiente Tony Kanaan.

 

Nesta semana os sites de notícias e portais de automobilismo celebraram a chegada de Pietro Fittipaldi à categoria, com um contrato assinado para disputar algumas etapas do campeonato (7 das 17 corridas, entre elas as 500 Milhas de Indianápolis). Apesar de ver um piloto brasileiro ter a chance em uma categoria top do automobilismo, eu vejo esta notícia com alguns ‘senões’.

 

Os estimados leitores mais atentos devem lembrar que Pietro Fittipaldi chamou a atenção da mídia brasileira ao vencer o campeonato de uma das categorias regionais de acesso da NASCAR, correndo em pequenos ovais com carros de turismo. Um meio bastante diverso dos Fórmulas. No qual foi inserido em 2013 por um projeto desenhado para levá-lo à Fórmula 1 com o patrocínio do grupo de telecomunicações do bilionário mexicano, Carlos Slim, que tem no leque de suas empresas a Embratel e a Claro.

 

Pietro nunca tinha sido um piloto de fórmulas antes de mudar-se para a Europa e começar a trilhar o caminho em direção à Fórmula 1 correndo na Fórmula Renault na Inglaterra, na qual sagrou-se campeão em 2014. O passo seguinte foi a competitiva Fórmula 3 Europeia onde o calouro Pietro terminou em 16º lugar, com 32 pontos em 33 corridas e tendo dois 6º lugares em Portugal como seus melhores resultados.

 

Pietro e seu staff arriscaram indo para a F. V8 3.5 no ano seguinte. Um carro bem mais potente e difícil de controlar. Após uma primeira temporada onde foi “descobrindo o caminho” até conseguir – na última etapa da temporada – um terceiro lugar. No ano passado, foi o dominador do campeonato e poderia tê-lo vencido com alguma antecedência, derrotando diversos dos adversários que no ano anterior pontuaram mais do que ele.

 

O ano de 2018 precisa ser o ano de afirmação total de Pietro. Devido a perda de status da F. V8 3.5 – categoria que acabou tendo suas atividades encerradas no final de 2017 – a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) reduziu o número de “pontos” computáveis para que um piloto possa obter a “superlicença”, podendo assim pilotar um Fórmula 1. Critério estabelecido após a entrada de Max Verstappen na categoria e que a FIA estabeleceu para que o pilotos chegassem na categoria máxima com mais “milhagem” e também com mais capacidade, evitando que pilotos meramente pagantes “comprassem um lugar” em alguma equipe.

 

Pelo critério criado, o piloto precisa obter 40 pontos no intervalo dos três anos anteriores para obter a “superlicença”. A F. V8 3.5 deu 20 pontos a Pietro Fittipaldi, que não obteve pontos no ano anterior e nem em 2015. Portanto, ao contrário do que diversos jornalistas em diversos veículos de comunicação andaram falando no final do ano passado, não, Pietro não obteve a “superlicença” e precisaria conseguir neste ano os 20 pontos restantes. Para isso, a participação em uma categoria de ponta e uma boa classificação seria compulsória.

 

Pietro teria que ficar entre os 5 primeiros numa disputa da Fórmula 2, entre os 3 primeiros na Fórmula Indy, Fórmula E, WEC ou mesmo Fórmula 3 Europeia e também ser um dos dois primeiros na GP3. Os 20 pontos de Pietro são “válidos” para 2018 e 2019. Até o momento o que temos para o piloto brasileiro são 7 etapas na Fórmula Indy, um campeonato onde todos pontuam e que com apenas sete corridas dificilmente Pietro ficará entre os três primeiros do campeonato.

 

Não consigo deixar de questionar-me e questionar porque, depois de conquistar a F. V8 3.5 os empresários do Pietro e principalmente seu avô, Emerson Fittipaldi, com todo o peso de sua biografia e influência, não conseguiram um lugar em uma boa equipe ou mesmo uma equipe “de média para grande” na Fórmula 2 para que o “projeto da Fórmula 1” tivesse o seguimento natural... a menos que o plano tenha mudado e nada tenha sido divulgado para o público ou mesmo para os veículos de mídia.

 

A equipe Dale Coyne, onde Pietro correrá é uma equipe com limitações de orçamento. Contudo, este fator não tem o peso que uma distância entre uma equipe grande tem em relação em relação a uma pequena nas categorias de fórmula na Europa. Um desempenho sólido pode abrir mais portas do que uma categoria em decadência como estava a F. V8 3.5 poderia abrir. Talvez esta seja a aposta, mas desviar-se da Europa pode ser uma manobra arriscada.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva