O poder do Status Quo Print
Written by Administrator   
Wednesday, 06 December 2017 21:59

Caros Amigos, enquanto escrevo a coluna desta semana está em curso mais uma assembleia geral da Federação Internacional de Automobilismo. No caso desta, a última do ano, além dos assunto em pauta das reuniões mensais, há o fechamento, o balanço, a avaliação do ano que termina e a apresentação de ideias para não apenas 2018, mas também os anos seguintes.

 

Estamos as vésperas da eleição para os novos mandatários do automobilismo mundial e o atual presidente da FIA, o francês Jean Todt é candidato único, apesar de todas as controvérsias sobre qual seria o melhor caminho para o futuro do esporte a motor sobre mais do que duas rodas, que diga-se de passagem passa longe das discórdias, enchem os seus lugares de competição com dezenas de milhares de espectadores e tem cada vez mais audiência nas transmissões, seja pela TV, seja pela internet.

 

Focando nas questões do automobilismo em geral e da Fórmula 1 em particular, nem tudo são pétalas na relação entre FIA, Grupo Liberty Media e as equipes da categoria, pelo menos as mais poderosas. A questão é até onde vai o nível de discordância entre as partes e até onde cada uma está disposta a negociar sobre como deverá ser o futuro da categoria mais importante do mundo.

 

Na visão de qualquer um com bom senso e algum conhecimento sobre o que representa a Fórmula 1, a categoria precisa continuar a ser o topo da tecnologia e a melhor competição. Contudo, quando falamos sobre competição, estamos falando de quantos carros? Quantos pilotos? Quantas equipes? Com o distanciamento técnico que existe entre as equipes mais poderosas financeiramente (Mercedes, Ferrari e Red Bull) para as demais, existe perda de competitividade.

 

Há – com uma boa dose de razão – uma oposição à algumas ideias que vem sendo apresentadas sobre especificações padronizadas para todos os carros e componentes comuns com o intuito de diminuir as diferenças entre os desempenhos dos carros. Uma ideia que pode ser boa em outras categorias, mas que vai de encontro ao “espírito da Fórmula 1”, onde o trabalho, o desenvolvimento e as ideias próprias são o DNA da categoria.

 

Por outro lado, a atual situação em que os benefícios a quem tem conseguido melhores resultados e vem deixando as equipes com menos recursos cada vez mais distantes do pódio ou da vitória é também um problema de graves proporções. Quando a Ferrari – e mais recentemente a Mercedes – “ameaçam” deixar a categoria por acharem que a mesma está “perdendo seu espírito” ou por não concordarem com uma proposta da FIA ou do Grupo Liberty Media dá o direito de vermos as equipes que não tem uma grande montadora a financiar seus projetos pensarem que seria melhor ter uma equipe no WEC, no mundial GT ou no WTCC.

 

As ideias promocionais do Grupo Liberty Media não devem se confundir com as necessidades de soluções técnicas para tornar a categoria mais atraente. A questão do volume a ser investido é um exemplo disso. Há uma forte discussão sobre os custos com motores. Enquanto uma corrente critica a necessidade de investimento em tecnologias e resistência de materiais para que um carro consiga fazer uma temporada de 21 corridas com apenas três motores, por outro lado, para quem compra, se fossem liberados o número de motores, as fabricantes poderiam usar dezenas deles, ao contrário de quem os compra. Não haveria orçamento que chegasse.

 

Acontece que, quando a FIA, pela voz de seu presidente, vem com uma proposta de que a Fórmula 1 e o Mundial de Endurance deveriam compartilhar uma mesma linha de desenvolvimento tecnológico, um plano que Jean Todt vem tentando implementar desde que foram padronizadas as especificações de motores no Rally e no Mundial de Turismo, uma “convergência técnica”  a partir de 2021, quando a Fórmula 1 vai ter um novo “Pacto da Concórdia” e pode vir a adotar novas regras para a construção e desenvolvimento da sua unidade de potência, acaba colocando mais combustível na fogueira.

 

Se por um lado a adoção de uma configuração única de motor como a solução ideal para o Mundial de Endurance e a Fórmula 1 pode vir a ser uma forma de atrair novas montadoras para a principal categoria do automobilismo mundial – algo que poderia pulverizar o poder de barganha que hoje Ferrari e Mercedes tem – aumentando a competição e, quem sabe, atraindo novas equipes e equipes fortes para o grid, poderia fazer com que, por exemplo, tivéssemos a volta da Ferrari competindo em Le Mans com uma equipe na categoria principal como já teve nos anos 60/70.

 

Ainda há muito para ser discutido entre as partes e 2018 será um ano crucial nesta disputa onde nenhuma das partes parece disposta a abrir mão de seu ‘Status Quo’.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva