Um passo adiante Print
Written by Administrator   
Wednesday, 01 November 2017 21:58

Caros Amigos, três semanas atrás eu escrevi aqui nesta coluna sobre as expectativas que todos aqueles que respiram automobilismo em geral e Fórmula 1 em particular sobre o que virá – ou poderá vir – para o próximo “pacto da concórdia”, a vigorar a partir de 2021. Nesta semana, como eu havia escrito, aconteceu mais uma reunião.

 

Como eu já havia abordado anteriormente, os assuntos relativos a mudanças são sempre complicados para serem efetivados e alguns dos aspectos que estavam sendo colocados já foram contestados, como, por exemplo, a adoção de um motor biturbo, algo que, a princípio, continuará com o uso do motor V6, turbo, mas com duas mudanças que pode dar “alguma alegria aos mais puristas”: fazer os motores trabalharem com 3000 rotações por minuto a mais, passando de 15 mil para 18 mil RPM pode dar aos torcedores um som mais alto.

 

Eu não sou engenheiro mecânico ou tenho diploma de qualquer engenharia, mas algo que, acredito, não exija nenhuma graduação específica é o raciocínio lógico de que, girando com três mil RPM a mais, as forças no interior destes motores e seus componentes será maior, a temperatura por conta do atrito será maior e o risco de problemas relativos à resistência dos mesmos pode ser um problema maior do que se deseje, ainda mais com a redução de quatro para três motores a ser utilizados para o próximo ano. Quantos serão em 2021?

 

Diminuindo a complexidade do sistema, a remoção da MGU-H, o sistema gerador de energia do motor pela conversão de energia térmica para gerar potência vai contribuir por um outro lado a termos uma unidade de força um pouco menos complexa, o que – indiretamente – deverá impactar numa redução de custo para as fabricantes de motores e que isso, por conseguinte, pode diminuir o valor da venda de motores para as equipes clientes.

 

Evidentemente que os motores precisarão ser reconstruídos em boa parte para atender o que for decidido para a próxima década. Contudo, o começo do projeto e desenvolvimento das novas unidades de potência em si não vai ser possível até que todos os parâmetros sejam definidos pelas partes (no caso a FIA, a FOM e os representantes das equipes). Uma discussão que deve durar mais um ano. Embora caso as partes cheguem a um entendimento antes disso vai dar um prazo extra a quem já está fornecendo motores para a categoria bem como os potenciais candidatos a fornecedores como a Porsche e a Aston Martin.

 

Dentro da louvável postura que o Grupo Liberty Media vem adotando, foram abertos canais para que os fãs da categoria se manifestassem sobre o que eles gostariam de ver – e ouvir – nos carros da categoria. Isso gerou um problema: a quantidade de pessoas pedindo a volta dos motores aspirados, fossem eles V8, V10 ou V12. Tecnologicamente este seria um retrocesso e iria de encontro ao projeto da FIA que é desenvolver tecnologia ecológica para seus carros de série, algo que é interesse direto das montadoras.

 

Um dos projetos do Grupo Liberty Media é algo que atende o interesse das equipes menores e este é o ponto da conversa que vai se prolongar pelos próximos meses que eu chamo de “vespeiro”. Afinal, vai invadir a “zona de conforto” das grandes equipes e quem está “por cima” não quer ver sua condição ameaçada.

 

Todas as equipes falam que seria importante haver uma redução de custos, que deveriam “fazer uma Fórmula 1 mais barata”. Acontece que equipes Ferrari, Mercedes e Red Bull não gastam menos do que 300 milhões de Euros por temporada, em alguns casos mais de seis vezes o que as equipes menores podem investir. Daí volta à mesa de discussão não apenas a criação de um “teto” para limitar os gastos das equipes, mas também em como a FOM distribui o montante repassado para as equipes. A Ferrari, por exemplo, recebe 70 milhões de Euros por ser uma equipe histórica, sendo a única que esteve presente em todos os mundiais, desde 1950. Honestamente, duvido muito que os italianos venham a abrir mão deste montante ou de uma parte considerável em benefício das equipes menores.

 

Um outro aspecto evidente, este por parte do Grupo Liberty Media, é fazer com que novas equipes venham a fazer parte da Fórmula 1. Se o custo de uma equipe para que ela não apenas faça figuração no grid, mas que possa ter chances reais de vitória é hoje um horizonte inalcançável diante da atual “distribuição de renda”, caso haja uma redistribuição mais equilibrada dos valores, não só poderia propiciar que as equipes que hoje estão no grid diminuam a diferença para as equipes mais ricas como isso também pode fazer com que estruturas como a Prema e a Carlin (apenas para citar dois exemplos) possam se sentir estimuladas a dar um passo adiante.

 

Apenas para lembrar, em 2009 quando Max Mosley tentou impor um teto de gastos para as equipes e incentivou novos times a vir fazer parte da Fórmula 1, foi um projeto que, imposto, acabou não dando certo, com a Manor/Marussia tendo sido a última das três equipes sendo a última a deixar a categoria em 2016. Na época, o conflito de interesses acabou fadando a proposta ao fracasso. No caso do que os dirigentes do Grupo Liberty Media parecem projetar para os próximos anos, criar condições para que mais do que duas ou três equipes possam não apenas vencer, mas disputar o campeonato.

 

Na próxima semana teremos mais uma rodada de discussões e estarei acompanhando os progresso – ou não – deste interessante processo de mudanças na Fórmula 1.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva