A encruzilhada do WTCC Print
Written by Administrator   
Wednesday, 27 September 2017 22:53

Caros Amigos, na coluna da semana passada mencionei a reunião do Conselho Mundial da FIA que ocorreu na última quinta-feira. O tema da minha coluna era a crise que se abateu sobre o Campeonato Mundial de Endurance com as saídas da Audi este ano e da Porsche para 2018, na categoria LMP1 e da Nissan na categoria LMP2, que apesar da perda, conseguiu uma alternativa para inclusive ficar potencialmente mais forte. Contudo, a grande interrogação – e preocupação – ficou para o que vai acontecer com o WTCC, que h[a alguns anos vem passando por uma situação de grid enxuto, com orçamentos pequenos para as equipes, mesmo as oficiais das montadoras.

 

Recebi via contatos um sólido material enviado pelo jornalista argentino Eduardo Luis Angelelli, diretamente da capital argentina do automobilismo (Córdoba) e que trabalha diretamente com o Super TC 2000, a “Stock Car” dos nossos vizinhos, que pode vir a ser um espelho em termos de regulamento para a categoria que é transmitida para o mundo inteiro via Eurosport, emissora que é associada como promotora do evento e também de nosso correspondente na Alemanha, Ian Möller, que possui um forte contato com a Volvo.

 

A preocupação tem fundamento. Quando distribuído o comunicado da pauta deste encontro do Conselho Mundial da FIA falava sobre as mudanças para a Fórmula 1 em 2018, o calendário bianual do Mundial de Endurance, informou a prévia do calendário do Mundial de Rally e não fez uma menção sequer sobre o Mundial de Carros de Turismo. O fato é que a falta de notícias do WTCC no anúncio da FIA começou a se tornar a nova norma. E aí o mineiro, que já é desconfiado, fica mais desconfiado ainda. O documento último teve algumas conversas vagas sobre comissões de carros de turismo regionais e nacionais. Como está – sem confirmação de calendário, promotor ou regulamentação técnica – fica a expectativa para o final de setembro, quando normalmente o comunicado oficial do WTCC tem sido feito.

 

O WTCC está em um ponto decisivo: ou vai ou para! Apesar do grid pequeno, com 13 a 16 competidores por etapa, esta temporada, em termos de concorrência, provavelmente está sendo uma das melhores temporadas do WTCC desde meados da década de 1990. A saída da Citroen como equipe oficial deu um equilíbrio entre os postulantes pelo título. Os líderes do campeonato – Honda – estão comprometidos com o final desta temporada, enquanto a Volvo pode estar comprometida até 2019, mas salvaguardada com cláusulas de interrupção se não tiverem concorrência. Montadoras entram e saem do WTCC há tempos, mas não se vê um risco de comprometimento do futuro do certame como temos visto agora.

 

A pergunta que fica é: há futuro? Depende de qual direção os promotores ou mesmo sob uma interferência direta, a FIA, chancelar e/ou apoiar e existem algumas opções possíveis, mas que em qualquer dos casos vai levar a categoria a ter que se reinventar como  categoria, como evento para atrair patrocinadores e público e como negócio para dar retorno a quem a promove.

 

Uma opção seria engrossar fileiras com o DTM, que também sofreu um baque com a anunciada saída da Mercedes que vai concentrar esforços na Fórmula E. O lado bom seria a incorporação de novas marcas em um campeonato de alta tecnologia, mas quantos dos times do WTCC teriam saúde financeira para enfrentar um desafio deste tamanho. Talvez a Volvo e a Honda, com seus times e fábrica, mas o caminho inverso, com uma categoria de mais baixo custo poderia ser algo interessante para Audi, BMW, Nissan, Alfa Romeo...

 

O novo presidente do ITR, Gerhard Berger, foi muito direto quando perguntado sobre uma possível fusão de regras com o WTCC, dizendo que não era realmente o que ele estava focando, e também observou que eles são proprietários do IP (propriedade intelectual) aos seus regulamentos.

 

Outra opção seria o WTCC a entrar em uma direção de ajustar-se a ser uma categoria baixo custo. Eles poderiam apresentar sua própria fórmula, mas o problema agora talvez seja um pouco tarde. O TCN-2 (inicialmente baseado no conceito Argentino de Turismo Nacional) já era a tentativa da FIA em uma classe de carros de turismo de baixo custo, mas não havia aceitação. O antigo promotor da categoria, o italiano Marcello Lotti era baseado no regulamento do TC (Touring Car) 3. O atual regulamento, com as modificações feitas a partir de 2014, adotou o TC1, com carros mais elaborados e equipados com motores turbo 1.6 litros que tem pesado no orçamento das equipes, especialmente das privadas. Hoje existem algo em torno de 400 carros disputando campeonatos pelo mundo com o regulamento do TCN-2 ou algo próximo a ele, o que poderia atrair participantes.

 

A opção mais simples aponta na direção do TCR, mas isso não parece ser algo interessante para um campeonato mundial. O TCR funciona com uma fórmula muito diferente. Existe um limite de custo (isso funciona porque todos os carros são vendidos para clientes e não há entrada no fabricante). Os carros são todos fortemente baseados em seus homólogos de rua, e assim herdam todas as ineficiências aerodinâmicas que os acompanham. Nem todos os carros rodoviários são construídos para ser o melhor manuseio com o menor coeficiente de arrasto.  Na maioria das vezes, as prioridades são mais “espaço de inicialização líder no mercado”, uma aparência moderna, eficiência de combustível, conforto, espaço interno, porta malas, etc.

 

É por isso que um futuro com TCR e WTCC trabalhando em conjunto será uma tarefa muito difícil. Embora haja rumores de conversações entre Marcello Lotti e a FIA nas últimas semanas, o silêncio no comunicado do Conselho Mundial da FIA na semana passada mostra que ainda não há nada definido, e será muito interessante ver como esses dois conseguem um caminho a seguir que de alguma forma mantém a WTCC vivo, se possível sem destruir o progresso fantástico que a WSC, a promotora do TCR, criou na construção de uma das fórmulas de turismo de turismo de mais rápido crescimento nos últimos 20 anos.

 

Houve ainda uma conversa sobre um ano sabático, mas, assim como o Gerhard Berger da ITR criticou a ideia quando foi posto à frente dele sobre o futuro do DTM, a mesma conversa gentil ressoou em torno do paddock do WTCC: demore um ano e a perda matará um campeonato morto. Todos vão sair e encontrar um novo lugar para ficar.

 

Uma solução precisa ser encontrada em breve, senão a dura realidade é o próximo anúncio da FIA não será um calendário de 2018, mas que a 13ª temporada do WTCC será a última e depois de todo o trabalho que foi colocado no campeonato por todos os organizadores, os patrocinadores, as equipes na última década, que culminou com o que foi um brilhante espetáculo este ano. Isso seria realmente uma vergonha para o esporte a motor e uma mancha no currículo de Jean Todt.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva