Reinventar-se Print
Written by Administrator   
Wednesday, 20 September 2017 23:14

Caros Amigos, há algumas semanas em uma das minhas colunas alertei para o que teríamos pela frente em termos de perspectivas – ou incertezas – em relação ao Campeonato Mundial de Endurance, que de Meca para novos pilotos e projetos há pouco menos de cinco anos passou a uma condição de “nau sem rumo” diante da velocidade das mudanças no mundo do automobilismo.

 

A inesperada saída da Porsche após apenas quatro temporadas completas no campeonato de carros de protótipos precipitou uma crise de efeito extremamente preocupante até mesmo para o futuro da categoria. O grau de preocupação com a decisão da marca de Stuttgart e a necessidade de tomarem decisões rápidas, sem margem para erros tem preocupado todo o meio esportivo.

 

Apenas um ano depois da saída da Audi, que por fazer parte do Grupo Volkswagen, foi também atingida pelo escândalo do mascaramento e adulteração de performance dos motores turbodiesel dos carros alemães (o que gerou um prejuízo bilionário), atingindo também o programa da Volkswagen no Campeonato Mundial de Rally, a saída da Porsche deixou a Toyota como a única montadora a continuar na categoria com um projeto de desenvolvimento de motores híbridos. Mas até quando os japoneses se disporiam a “correr contra o vento”?

 

No início do mês o Presidente da Federação Internacional de Automobilismo, o francês Jean Todt, esteve presente na etapa do México e de forma bastante consciente disse que era preciso “começar novamente” a categoria, após a mesma viver anos de crescimento e criar conflitos de interesses com a Fórmula 1 dos tempos de Bernie Ecclestone.

 

Quando os estimados leitores estiverem lendo esta coluna, o Conselho Mundial da FIA estará referendando uma série de medidas para que a categoria gerida pelo francês Gérard Neveu consiga criar uma base para a partir desta tomar um rumo de reestruturação. O pior dos cenários, que seria o fim do campeonato mundial e a permanência apenas dos campeonatos europeu e asiático seriam um duro golpe na organização e também nos promotores de eventos, especialmente no Automóvel Clube d'Oeste (ACO), responsável pela promoção e organização das 24 Horas de Le Mans, que é presidido pelo sempre solícito Pierre Fillon, com quem temos ótimos laços de cooperação e estima.

 

Entre as decisões que serão comunicadas a mais importante – e na humilde opinião deste colunista, a mais controversa – é o plano da FIA de fortalecer a LMP1. Para tal, a mudança mais importante é que haverá apenas uma categoria na LMP1, diferente do que tivemos nos últimos anos com uma grande diferença entre os carros híbridos e não híbridos. Para incentivar a inscrição de LMP1, o nível dos protótipos não-híbridos vai ser igualado aos híbridos por meio do chamado Equilíbrio de Performance. Cada protótipo da LMP1 vai ter o mesmo potencial de performance, independente do motor usado. Os motores híbridos só vão ter uma vantagem no que diz respeito ao consumo de combustível. E para facilitar o acesso ao LMP1, o regulamento dos chassis vai sofrer uma mudança e ampliar o leque de opção de motores, permitindo tanto propulsores turbo como também os aspirados.

 

Tal movimento vai gerar um desafio extra para a Toyota, montadora remanescente da era dos carros com sistema híbrido. A pergunta que fica é: será que vale a pena todo o investimento no desenvolvimento de um sistema híbrido e competir contra carros com sistemas convencionais e possivelmente com um custo mais baixo? Se vencer, não estaria fazendo mais do que sua obrigação. Se perder, vai estar perdendo para um esquema com menos recursos tecnológicos. A Toyota só tem a perder!

 

Outro impacto decorrente das mudanças é a radical mudança no calendário, com uma “temporada” de praticamente 18 meses para o biênio 2018/2019, com diversas corridas que vinham fazendo parte do calendário do WEC deixando de acontecer, como as 6 Horas do México, Estados Unidos e Silverstone, com duas edições das 24 Horas de Le Mans fazendo parte deste calendário.

 

Um retorno que acaba sendo bem vindo são as 12 Horas de Sebring. A tradicional corrida que faz parte do calendário do IMSA volta ao calendário do WEC, de onde fez parte em 2012. As corridas ocorrerão no mesmo final de semana, mas não significa que WEC e o SportsCar, categoria na qual a prova vem sendo disputada nos últimos anos, vão se fundir. Na prática, vão acontecer duas 12 Horas de Sebring: a categoria americana corre das 10h às 22h, enquanto a largada da etapa do Mundial de Endurance acontece à meia-noite de 16 de março de 2019.

 

O calendário que já é de conhecimento geral, bastando apenas ser confirmado, há uma data sem evento marcado, no final de semana de 15 a 17 de fevereiro de 2019. Embora considere a próxima temporada como um período de transição, o planejamento da FIA é que a temporada seguinte também seja bianual, como já acontece desde a primeira temporada da F-E. Em 2019/2020, o calendário tende a ser mais enxuto, com sete etapas, início em outubro e encerramento em junho, também com a disputa das 24 Horas de Le Mans.

 

É preciso reinventar-se. O automobilismo mundial não pode perder uma categoria com a importância que o WEC alcançou.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva