Atire a segunda pedra Print
Written by Administrator   
Wednesday, 19 April 2017 21:43

Caros amigos, desde há algum tempo, é comum vermos empresas aqui no Brasil – e no mundo – levando seus funcionários a participar de apresentações e palestras motivacionais. O objetivo das mesmas, logicamente, é buscar de alguma forma aumentar o nível de comprometimento destes funcionários com os objetivos e metas das empresas.

 

Há também os casos de pessoas que buscam em profissionais que atuam neste seguimento para se automotivar em seu dia a dia, em sua rotina de trabalho, buscando um melhor desempenho esportivo ou outra área qualquer. Sentir-se motivado para desempenhar seu trabalho e fazê-lo de uma maneira cada vez melhor é algo fundamental, especialmente no mundo competitivo em que vivemos.

 

Passada uma semana do surpreendente anúncio do piloto espanhol Fernando Alonso de que abriria mão de disputar o GP de Mônaco para competir na 102ª edição das 500 Milhas de Indianápolis, chocando o mundo do esporte a motor, eu gostaria de tecer alguns comentários sobre a decisão do piloto – que eu apoio totalmente – e sobre como o meio a sua volta reagiu.

 

Comecemos falando sobre motivação. Fernando Alonso é um profissional de primeira linha do automobilismo mundial. Obstinado – obcecado até – perfeccionista, incansável na busca de seus objetivos. Objetivos estes que não conseguiu realizar. Afinal, não é segredo para ninguém que o desejo do piloto espanhol era alcançar e superar os feitos de Michael Schumacher, o que não conseguiu.

 

A personalidade forte e por vezes desagregadora de Fernando Alonso acabaram por sabotar seu tricampeonato em 2007, quando foi correr na McLaren e entrou em rota de colisão com o chefão Ron Dennis e praticamente toda a equipe, maravilhada com o desempenho do jovem prodígio e prata da casa desde os tempos de kart, Lewis Hamilton.

 

Alonso amargou “dois anos de purgatório” de volta à Renault até conseguir um lugar na Ferrari, onde tinha o sonho de viver um período dominante e de glórias como viveu Schumacher. Ao invés de anos de glória foram anos de frustração após frustração e, com sua personalidade crítica, em dado momento o ambiente ficou insuportável e a saída era inevitável.

 

Fernando não tinha opções para onde ir, mesmo sendo – reconhecidamente – o melhor piloto do grid. A salvação foi a Honda, que ao estabelecer uma parceria com a McLaren, apontou Fernando Alonso como o piloto capaz de levar a parceria de volta as vitórias. Assim, um contrato de três anos foi assinado e todos os lados se mostraram confiantes que o projeto conjunto daria certo. Não está dando.

 

A evidente frustração de Fernando Alonso ao longo dos dois primeiros anos de contrato foi enorme. No ano passado, no GP do Japão, aos berros de “Motor de GP2”, na transmissão da corrida seria motivo para um divórcio, para uma antecipação de fim de contrato. Mas para onde ir? A esperança se deu na mudança radical que carros e motores passariam para a temporada deste ano e o espanhol preparou-se como nunca para encarar um carro mais rápido em curvas, com mais força G, com mais potência e velocidade.

 

O MCL30, carro deste ano mostrou-se um fiasco! Um motor problemático, um carro com alto nível de vibração, capaz de quebrar as ligações dos componentes eletrônicos e as conversas de Fernando Alonso com os engenheiros durante treinos e corridas foram lacônicas. Como manter um profissional motivado para fazer seu trabalho sem dar um motivo para ele se sentir estimulado?

 

O anúncio antes do GP do Bahrein sacudiu os alicerces da maior categoria do mundo. Outros pilotos europeus, inclusive campeões mundiais como Jim Clark e Graham Hill não apenas correram as 500 Milhas de Indianápolis como venceram a corrida, em um tempo em que as corridas não aconteciam na mesma data, algo que vem se repetindo há mais de 20 anos, com certeza.

 

Fernando Alonso deixou claro o que quer: seu nome na história do automobilismo mundial! Se inicialmente seu sonho era conquistar 8 títulos mundiais e superar as vitórias de Michael Schumacher, algo que ele disse em entrevista coletiva não ser possível de conquistar, ele quer repetir o feito de Graham Hill, que seria vencer o GP de Mônaco, as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans.

 

De forma inteligente, vendo como uma forma de manter seu piloto motivado diante da sucessão de fracassos na Fórmula 1 a Honda, que vem se mostrando muito forte nesta temporada da Fórmula Indy, poderia proporcionar não apenas esta nova experiência para Fernando Alonso, mas proporcionar uma chance de vitória. Honda e McLaren trabalharam juntas para motivar o seu piloto e estão fazendo a coisa certa.

 

A McLaren já venceu em Indianápolis, algo que poucos sabem. Johnny Ruterford venceu com um McLaren as 500 Milhas de 1974 e, no final do ano, o bicampeão mundial, Emerson Fittipaldi, após o final da temporada, andou por dois dias no mítico circuito com o carro vencedor. Sendo assim, ver um carro com as cores da McLaren (o carro terá as cores do carro da Fórmula 1) não será novidade.

 

Até agora o Grupo Liberty Media não se manifestou, mas não duvido que o caso de Fernando Alonso vir a ter um bom desempenho na corrida sirva para um arranjo de datas no GP de Mônaco para que não haja coincidência entre as datas das corridas e mais pilotos da Fórmula 1 possam se aventurar na corrida mais importante dos Estados Unidos. Seria uma maneira de aumentar a visualização da Fórmula 1 no meio automobilístico americano. Afinal, um bicampeão do mundo vai disputar a corrida e, certamente, durante algumas semanas os comentaristas das TVs falarão muito em Fórmula 1, tentando “apresentar” Fernando Alonso ao público local.

 

Presente no GP do Bahrein, Bernie Ecclestone posicionou-se contrário a ida de Fernando Alonso para as 500 Milhas de Indianápolis, dizendo que, se estivesse à frente da categoria, vetaria a ida do piloto para a corrida. É bom lembrar que, após Nico Hulkenberg vencer nas 24 Horas de Le Mans, o antigo mandatário da Fórmula 1 colocou o GP da Europa, no Azerbaijão, no mesmo final de semana das 24 Horas de Le Mans, o que já não ocorrerá este ano.

 

Estamos há mais de um mês da realização da corrida e, até o momento, a exceção de Bernie Ecclestone, ninguém se manifestou contrariamente a decisão de Fernando Alonso. Se alguém o for, “atire a segunda pedra”. Bernie Ecclestone, até agora, está sozinho na multidão.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva