Os micos da bola e das argolas Print
Written by Administrator   
Wednesday, 11 January 2017 19:33

Caros Amigos, a coluna da semana passada rendeu mais de 200 emails entre elogios e questionamentos. Aos que elogiaram, meu muito obrigado. Aos questionamentos, em sua grande maioria perguntando o porque da CBA não fazer nada, só posso dizer que, não espero de nenhum dos dois candidatos uma mudança radical neste sentido. Nenhum deles fará nascer uma categoria de turismo nacional ou um campeonato de carros de Gran Turismo. Isso precisa partir de um promotor. Alguém que enxergue uma forma de ganhar dinheiro com isso e invista num projeto assim.

 

O assunto investimento vai nos levar ao tema da coluna desta semana, uma vez que no final do seu mandato, o Prefeito do Rio de Janeiro (agora ex-prefeito), Eduardo Paes, deixou para os cidadãos do município aquilo que ao longo dos anos de construção e preparação para os jogos olímpicos nós chamávamos de o Parque dos Elefantes Brancos, referência ao “legado” de instalações olímpicas que tomaram o lugar do então Autódromo Nelson Piquet no então bairro de Jacarepaguá, hoje Barra da Tijuca.

 

O custo de construção das arenas para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, apenas na região do antigo autódromo passou da casa dos 7 bilhões de reais e o cidadão carioca ainda vai pagar por muito tempo pelos equipamentos deixados pelos Jogos Olímpicos. Sem contar as obras de Deodoro e as reformas em outras instalações, o “Parque Olímpico da Barra” deve gerar um custo de pelo menos um bilhão e meio de reais pelos próximos 25 anos.

 

A propaganda do então prefeito Eduardo Paes (PMDB) era transferir a operação e manutenção dos equipamentos permanentes (alguns foram desmontados e levados para outras cidades) para consórcios da iniciativa privada, desonerando o município de arcar com os pesados custos de manutenção dos mesmos. A licitação apresentada foi um verdadeiro “coração de mãe”. Eduardo Paes, ciente de que o interesse por administrar estes espaços (Velódromo, o Centro Olímpico de Tênis, a Via Olímpica, o Live Site e as Arenas Cariocas 1, 2 e 3) poderia não ser tão atrativo, não apenas prometeu bancar a maior parte dos custos com dinheiro público, entrando com 32,8 milhões de reais anuais onde foi calculado um custo final de 37,2 milhões, o contrato ainda “blinda” uma eventual concessionária contra prejuízos.

 

Mas esta é apenas uma das duas licitações. A outra refere-se a área onde deverão ser construídos os edifícios comerciais e residenciais e que corresponde a 40% da área desapropriada, bastante valorizada pela nova infraestrutura e pelo acesso facilitado pelo novo BRT (corredores exclusivos de ônibus), interligação com o metrô, acessos para veículos, etc.

 

Com um contrato assinado ainda em 2012, o consórcio “Rio Mais”, formado pela Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken, foi o único a participar da concorrência. Na construção, a prefeitura cedeu terrenos avaliados em 850 milhões de reais e investiu outros R$ 385 milhões nas obras das instalações esportivas para os Jogos. As construtoras projetaram – e certamente terão – retorno com os empreendimentos imobiliários a cobrir os valores investidos... com sobras!

 

Vendo algumas fotos do que ficou no terreno e nas vias de acesso, em torno das arenas, seria possível – e mais barato – fazer um circuito como foi feito em Sochi. Talvez não tão longo, talvez não para a Fórmula 1, mas um autódromo capaz de atender o automobilismo nacional, regional e reaquecer o esporte a motor no estado do Rio de Janeiro. Contudo, daí a isso acontecer...

 

Enquanto isso, na capital federal, o estádio mais caro da Copa do Mundo de 2014, que custou quase dois bilhões de reais, e que em 2016 foi palco de 68 eventos – os quais não cobriram os custos de manutenção e deu ao GDF um prejuízo de R$ 6,7 milhões – não tem nenhum evento programado para 2017. Duas secretarias que funcionavam lá dentro, para poupar o aluguel do orçamento do governo, deixaram o espaço no final do ano.

 

Eu gostaria muito de ouvir a opinião dos juízes e procuradores do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) sobre o assunto. Afinal, estamos falando de bilhões de reais e não de algumas dezenas de milhões (não muitas) para que sejam retomadas as obras de recuperação do Autódromo Internacional Nelson Piquet em Brasília.

 

A licitação lançada no semestre passado visando a contratar uma empresa disposta a dar sequência às obras no circuito, iniciadas em 2014 e paralisadas poucos meses depois, foi suspensa por este tribunal que considerou “exigências excessivas para participar da concorrência” e questão de pouca importância quando o texto do edital colocou como sendo necessária a experiência da empresa contratada em serviços de drenagem.

 

Assim, volta-se a estaca zero no processo até qe ou alguém seja capaz de explicar tecnicamente, mas com uma linguagem que um leigo consiga entender o quanto é importante a água de chuva não empoçar ou acumular-se no traçado e suas áreas de escape como é feito em um aeroporto onde, muitas vezes, uma aeronave não atinge a mesma velocidade para decolar que a de um carro da F. Indy, que faria corridas ali.

 

Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap), dona do terreno, afirmou que a reforma da pista do autódromo custaria cerca de 30 milhões de reais, mas nenhum diretor quis comentar o embargo por parte do TCDF, alegando caber à Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) se pronunciar. Novacap informou, por meio de nota, apenas que “recebeu a decisão do Tribunal de Contas do Distrito Federal e está elaborando respostas à solicitação realizada pelo órgão fiscalizador”.

 

E assim vai se empurrando as coisas, nada (para o automobilismo) acontece e nós vamos pagando a conta com os impostos que nos extorquem.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva