A punição da competência! Print
Written by Administrator   
Thursday, 21 January 2016 06:58

Caros amigos, a repetição deste “samba de uma nota só” (infelizmente não a música que João Gilberto imortalizou) e que de atual nada tem sobre a discussão que envolve os motores na Fórmula 1 e as declarações de Bernie Ecclestone e a dependência dos grandes fabricantes, as montadoras ou algumas delas, é algo irritantemente enfadonho.

 

Logicamente, se por um lado o dirigente quer tirar o seu “espetáculo” do marasmo que o mesmo tornou-se nas últimas décadas, há muito trabalho a se fazer, mas a questão dos motores e a dependência das equipes de quem os fabrica é algo que nunca deixou de existir. Na verdade, é assim desde os anos 50!

 

O grande problema dos campeonatos previsíveis, das corridas sonolentas e teria começado ainda nos anos 80, com o impressionante domínio da McLaren-Honda, que depois foi sucedida pela Williams-Renault no início dos anos 90. O problema foi que os períodos de domínio foram ficando longos, como o da Ferrari com Michael Schumacher e o da Red Bull com Sebastian Vettel. Agora “chegou a vez” da Mercedes, onde pelo menos não há uma orientação explícita para que um piloto não possa tentar superar o outro dentro do time.

 

Uma vez que estamos falando de carros de corrida, tirando o recente aparecimento da Fórmula-E e seus carros elétricos, as competições com automóveis tem nos mesmos motores de combustão interna para fazê-los se mexer e cada fabricante de motor ou construtor de carro, logicamente, busca o máximo de eficiência, como em qualquer negócio, inclusive o do Sr. Ecclestone, excelência é o objetivo.

 

Ao longo destes últimos 15 ou 16 anos, três fabricantes de motores tiveram longos períodos vitoriosos. A Ferrari, a Mercedes e entre elas a Renault, primeiro com sua equipe própria, depois com o harmônico casamento com os modelos projetados por Adrian Newey para a Red Bull. Em todos os casos, a supremacia trocou de mãos muito mais pela mudança dos regulamentos na categoria do que pela capacidade dos concorrentes em superar os então dominadores dentro de regras em vigor.

 

A mais recente tentativa de Bernie Ecclestone alterar este “desequilíbrio de forças”, fazendo com que a balança possa vir a pender para outro lado (e sem a garantia de que isso aconteça), foi querer introduzir um motor com uma configuração completamente diferente dos motores atuais, que são dotados de sistemas de recuperação de energia cinética. Um desejo da FIA e que apesar da fortuna gasta para seu desenvolvimento estes sistemas podem vir a ter utilidade comercial para os fabricantes e que foi importante para manter o interesse da Mercedes na categoria.

 

O ambíguo discurso de Bernie Ecclestone ao longo dos anos, num conflito de “empurra e puxa” com as empresas da indústria automotiva não é novo. Em 2007, depois de incentivadas e elogiadas anos antes, ele entrou em rota de colisão com as fábricas que chegaram a pensar em criar um campeonato à parte e que talvez tivesse se concretizado não fosse a crise econômica que explodiu no ano seguinte, tem novamente um embate com as duas equipes de montadoras que remanesceram: Mercedes e Ferrari (FIAT).

 

Voltando ao início do texto, foi num período de 20 anos, do final da década de 50 ao final da década de 70, que a maioria das equipes usaram motores de fabricantes independentes. Antes disso, nos primeiros anos da categoria, a Fórmula 1 era uma competição com equipes de fabricantes, como a Alfa Romeo, Masserati, Ferrari e Mercedes. No intervalo destes 20 anos, apenas a Honda teve um papel relevante, enquanto os motores Climax e posteriormente os Cosworth estabeleceram relações com as equipes. Contudo, a Ferrari nunca correu com um motor que não fosse de sua fabricação... e acredito que ninguém consegue imaginar os carros de Maranello com um “motor genérico”.

 

Em 2017 haverá uma nova mudança nas regras para “tentar salvar a Fórmula 1”, e apesar do aparente foco no carro, a questão dos motores continua sendo insistentemente mencionada como “um problema”.

 

Talvez a Fórmula 1 esteja precisando ser realmente salva, mas das ideias daqueles que em suas ideias de querer salvá-la acabam por punir a competência de quem faz seu trabalho bem feito.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva