Drogas na Pista! Print
Written by Administrator   
Wednesday, 01 October 2014 22:05

Caros amigos, há pouco mais de um mês e meio, um dos maiores ídolos do automobilismo norte americano, Tony Stewart, teve seu nome arrastado para a sarjeta por conta de um atropelamento com morte de outro piloto – Kevin Ward Jr. – em uma corrida numa categoria destas “sem noção” que os americanos fazem de leste a oeste do país, num oval de terra de curta metragem (ou milhagem, no caso) na cidade de Canandaigua – alguém já tinha ouvido falar? – no estado de Nova York.

 

Um típico “evento classe B” (para não ir até a última letra do alfabeto) onde os pilotos corriam com uma “coisa”, equipada com um motor de mais de 800cv e dois aerofólios gigantes no teto que deixavam o carro com cara de qualquer coisa... menos de carro, cujo os pilotos que nela correm são, na melhor das hipóteses, semi-profissionais.

 

O que um piloto com o currículo do tricampeão da NASCAR estava fazendo numa “corrida de programação de quermesse” dessas é algo que não consigo parar de me perguntar. Tentando traçar um parâmetro com a nossa realidade, é como se um piloto “top” da nossa Stock Car fosse disputar uma corrida no campeonato metropolitano de velocidade na terra em Quixeramobim (pelo amor de Deus, Roberio Lessa, nada contra o Ceará e parabéns pela Miss)!

 

Durante a corrida, numa disputa de posição com Kevin Ward Jr, o experiente piloto deu aquela “espalhada técnica”, típica de um piloto experiente que sabe o que está fazendo para defender seu posto ou ganhar uma posição e acabou empurrando o inexperiente Kevin Ward Jr – de apenas 20 anos e muita grama pra pastar ainda na vida – em direção ao muro.

 

Na NASCAR o piloto saberia como se defender, recuar e voltar a atacar algumas voltas depois caso estivesse mais rápido, ou saberia como defender melhor sua posição se estivesse sendo atacado. Como não era o caso do jovem piloto, ele acabou batendo e foi acionada a bandeira amarela... e aí veio o inusitado. O inacreditável.

 

Acredito que todos nós já vimos pilotos em diversas categorias, até na Moto GP e Na Fórmula 1, na beira da pista xingando um adversário por uma manobra que ele considerou ilegal, imoral, desonesta. Mas ir para dentro da pista eu, sinceramente, não lembro de nenhum caso e foi justamente o que Kevim Ward Jr. fez.

 

Na volta seguinte, no meio da curva, lá estava o “menino”, furioso, destemperado, gesticulando e esbravejando contra o adversário. Um carro que estava à frente de Tony Stewart desviou do insano colega, mas deixou a encrenca para o tricampeão, que não conseguiu desviar, atropelando Kevin Ward Jr, levando-o à morte.

 

Existe um princípio no direito que diz que, “todo acusado é inocente até que se prove o contrário”. Na verdade, deveria ser: “todo acusado é culpado até provar sua inocência”! Principalmente em se tratando de Estados Unidos, onde um acusado de alguma coisa vê sua vida virar um inferno, todas as portas se fechar e o teto desabar sobre a cabeça.

 

Tony Stewart estava sendo processado por assassinato devido ao atropelamento do piloto que foi a pé para o meio de uma pista de terra, onde o controle dos carros é completamente diferente do que é numa pista de asfalto. A reviravolta do caso e a salvação do pescoço e da reputação do consegrado piloto americano, que – na visão dos comentaristas americanos – uma década atrás era “tão bom quanto o Michael Schumacher” veio de uma forma surreendente, chocante... e triste.

 

Depois do massacre da imprensa e com o pai do falecido piloto vociferando contra a “atitude criminosa” do consagrado Tony Stewart, o promotor do caso (que é o advogado de acusação), Michael Tantillo, revelou que o exame toxicológico ao qual o corpo de Kevin Ward Jr. foi submetido (exumação do cadáver) apontou indícios de consumo de maconha pouco antes da corrida!

 

Tal revelação foi o suficiente para que o julgamento de Tony Stewart fosse “comprometido”, deixando de haver base para incriminar o reu. Esta foi a decisão do juri popular: "comprometer o julgamento". Segundo o promotor, "não existia base para incriminar Tony Stewart" e esta foi a conclusão do júri popular do processo que correu em apenas seis semanas (bem diferente do que acontece aqui no Brasil ou mesmo na Alemanha, Bernie Ecclestone que o diga).

 

Agradecido e aliviado, Tony Stewart fez um counicado para falar do que chamou de “o período mais difícil e emocional de sua vida”. Se formos analisar com alguma frieza, talvez por mais inexperiente ou exaltado esteja um piloto, ver um deles entrar na pista para “tirar satisfações” com o adversário não é coisa de quem esteja em seu juízo perfeito. Inclusive, quem assiste a NASCAR já viu algumas brigas nos pits, por vezes envolvendo as duas equipes praticamente inteiras, mas nunca viu ninguém entrar na pista de dedo em riste aos berros.

 

A constatação do uso de uma droga – a maconha neste caso – leva-me a convidá-los para expandir a questão, numa época onde aqui no Brasil tem-se feito uma enorme campanha para a “descriminalização”, mascarada de “liberação” do uso da maconha no Brasil. Não é uma questão de uso para fins medicinais, uma vez que certos princípios da planta são efetivamente comprovados. Querem mesmo o uso liberado geral!

 

Será que a legislação seria ou será tão dura quanto a hipócrita “tolerância zero” da chamada “lei seca” do Brasil, que é mais rigorosa do que em todo o mundo e que em assim deixamos de ser campeões de mortes e acidentes no trânsito e nas estradas? E nas nossas pistas, nas categorias onde correm nossos pilotos? Sendo a mesma liberada e descriminalizada, punições “abrandadas” como a imposta à Marcos Gomes (também pelo uso de maconha) deixarão de existir?

 

Em 2007, quando da morte do piloto Rafael Sperafico, ocorrida na etapa final da extinta categoria Stock Car Light no final da temporada, o piloto que bateu no seu carro em uma “colisão em T”, o multi campeão de Kart, Renato Russo,  que foi hospitalizado e passou por uma delicada cirurgia onde foi retirado parte de seu intestino, fez uma grave denúncia em relação ao procedimento de alguns companheiros de pista.

 

Ainda convalescendo da cirurgia, o Renato denunciou que pilotos da categoria (e falou no plural) iam para pista sob efeito de bebidas alcoólicas, maconha e cocaína. A notícia circulou em todos os meios da mídia em diversos portais de notícias. Na época não havia exame antidopagem no automobilismo brasileiro. Depois das declarações Renato passou a ter maiores dificuldades em conseguir patrocínio e acabou deixando de correr profissionalmente.

 

Que o ocorrido nos EUA sirva como duro exemplo. Para o esporte a motor e nossas vidas no dia a dia. Esta semana vai sem café... a reflexão requer serenidade e não taquicardia.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva