É muita falta de bom senso! Print
Written by Administrator   
Wednesday, 14 May 2014 17:19

Caros amigos, eu juro que tem certas horas que eu duvido da capacidade humana de tomar decisões sensatas. E em se tratando de automobilismo de uma forma geral e em automobilismo brasileiro em particular, minhas dúvidas se transformam em quase certezas!

 

Durante boa parte do ano até agora passado, os sites de três grandes categorias nacionais, sendo dois das duas maiores – a Stock Car e a Fórmula Truck – apontavam, inicialmente, para uma improvável e impossível divisão de espaço no autódromo de Goiânia, que parece que vai mesmo se tornar “o queridinho” dos promotores depois de sua reforma.

 

Indo além do insensato, em determinado período, o calendário da Copa Petrobras de Marcas e o da categoria dos caminhões indicavam o dia 8 de junho como palco de suas respectivas etapas no mesmíssimo local! Até onde eu lembro das aulas de física, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no mesmo instante de tempo. Dois egos então, muito menos!

 

Apesar disso, acho que seria até interessante se as duas categorias, de diferentes promotores e que contam com um grande patrocinador comum pudessem correr juntas. Seria um grande golpe de marketing juntar no mesmo espaço os dois maiores promotores do automobilismo brasileiro... quase um delírio da minha parte, não?

 

Como este arranjo não teria como dar certo, houve um rearranjo geral de datas em todas estas categorias... mas ainda assim, o bom senso continuou não prevalecendo, deixando evidente a falta de capacidade de planejamento de nossos promotores e a omissão da Confederação Brasileira de Automobilismo, que não coloca estes empresários dentro de uma sala e – na falta de um entendimento – determina que os calendários obedeçam uma lógica ao menos razoável.

 

A VICAR vai realizar duas corridas da Stock Car na capital goiana com apenas dois meses de intervalo entre elas e sendo as duas em sequência no campeonato! Olhando o restante do calendário do segundo semestre, opções melhores poderiam ser tomadas! Além disso, no intervalo entre elas, vai haver uma etapa da Copa Petrobras de Marcas, uma semana depois da primeira das duas corridas da Stock Car. Será que tanta exposição vai dar o retorno de público que daria caso houvesse um espaçamento mais racional? Esperarei por ver os fatos.

 

Dentre todas as mudanças ocorridas a mais controversa foi o retorno da etapa de Ribeirão Preto e sua corrida de rua ao calendário da Stock Car depois de todo o imbróglio (leia aqui), com direito a investigação do Ministério Público Federal, superfaturamento de peças publicitárias e um pouco mais.

 

Quando houve a mudança do calendário da Stock Car – provocado pelo atraso nas obras da recuperação do Autódromo de Goiânia, a corrida que seria disputada no interior paulista chegou mesmo a deixar de constar no calendário apresentado no site oficial da categoria. Contudo, a sua não realização implicaria em uma quebra de contrato e quebras de contrato não costumam sair barato. Afinal, as partes costumam colocar cláusulas de garantia de realização e com isso tentar garantir o retorno do investimento feito.

 

O resultado disso vai ser uma prova num sábado, em 15 de novembro. Lembro vagamente de corridas da Stock Car, num passado longínquo, acontecendo nos sábados, mas não por muito tempo. Em todo caso, o problema de fazer uma corrida num sábado ou não – neste caso – foi mais além do que qualquer questão esportiva.

 

Com o risco do desaparecimento de mais um autódromo (no caso, o AIC, em Pinhais-PR), a rica região de Ribeirão Preto, com sua pujança econômica, que poderia perfeitamente abrigar não só um autódromo, mas um complexo multiuso. Por conta destes problemas, a região pode estar perdendo uma ótima oportunidade de ter mais um polo de negócios.

 

Enquanto isso, no balcão do cafezinho...

 

Aquele assunto sobre controle de custos para a Fórmula 1, como bem disse na semana passada, iria ser retomado com força nos bastidores do GP da Espanha. E o foi... com a força de uma piada sem a menor graça, na visão de Jean Todt e de qualquer pessoa com bom senso.

 

As grandes equipes – e agregadas, como a ‘Nega Genii’ e a Williams – apresentaram à presidência da FIA uma proposta onde haveria o banimento dos aquecedores de pneus, a volta da suspensão ativa e introdução de mais peças padronizadas. Todt não gostou nem um pouco das ideias apresentadas e solicitou uma proposta diferente das equipes menores. Quem sabe estas, tomando seus próprios cofres como referência, proponham algo realmente efetivo.

 

O retorno da suspensão ativa certamente iria implicar em altos investimentos em pesquisa, materiais e tecnologia, surtindo exatamente o efeito contrário. Além disso, o presidente da FIA acredita que a categoria precisa de uma mudança radical e não de um processo lento e gradual de redução de custos.

 

Todt fala até em números, considerando que para haver realmente uma redução de custos é preciso se falar em reduzir de 30 a 40% para então a categoria ter uma relação normal e natural com a realidade econômica. O ‘chaveirinho francês’ disse ter ele mesmo “algumas ideias”, mas ainda deseja ver o que os times têm a dizer.

 

Um dos pontos que Jean Todt considera criticamente sensível é o tamanho que a Fórmula 1 e as equipes vieram tomando com o passar do tempo. Alguns times cresceram tanto que muitos contam com mais de 800 funcionários. Perto do que se via há 20 anos atrás, é uma “explosão demográfica e não se trata de mão de obra barata... é, para ele, é aí que está o maior custo da categoria hoje.

 

Às vésperas da copa do mundo, dois jovens pilotos brasileiros conseguiram – finalmente – soltar, digamos, “o grito de gol preso na garganta”. No caso, ambos em categorias de acesso direto para seus atuais projetos de categoria principal conquistaram a primeira vitória.

 

Na rodada dupla disputada no traçado misto de Indianápolis, Luiz Razia, que mudou seu foco e agora busca um lugar na Fórmula Indy (o que será muito bem vindo, visto que Tony Kanaan e Hélio Castro Neves já estão na casa dos 40 anos, com 15 anos de categoria e não conseguimos manter nenhum outro brasileiro em ritmo constante de performance nos monopostos dos Estados Unidos há muito tempo.

 

O Baiano de Barreiras poderia ter vencido as duas, mas o vencedor da corrida da sexta-feira – Matthew Brabham – conseguiu defender-se dos ataques do brasileiro e o relegou ao 2º lugar. Na segunda corrida, no sábado, não teve jeito: Razia mostrou seu talento, tomou a ponta e venceu sem contestação. Sem “pachequismos”, ele tem condições de ser campeão este ano. Daí, quem sabe, alguém não faz justiça ao talento desse menino?

 

O outro “artilheiro” do final de semana correu na GP2 e, assim como Luiz Razia, fez duas grandes corridas. No sábado, Felipe Nasr fez tudo certo e foi até onde deu, chegando na terceira posição da corrida do sábado. Mais importante do que isso, foi sentir que o carro estava bom.

 

No domingo, com o grid invertido e largando em sexto, Felipe fez uma grande largada e uma primeira volta excelente, saindo da terceira fila para a segunda posição. Logo tomou a ponta e abriu vantagem, numa corrida onde ele parecia ter trocado o estilo “economize no início para ter no fim” por um “Vou abrir vantagem e os outros que corram atrás”! Deu certo.

 

O que não está dando certo é a situação de dois pilotos que trocaram de equipe na F1 e estão penando nas mãos dos seus com seus respectivos companheiros de equipe – e não vou “passar a mão” na cabecinha de ninguém – para não dizer que já estão desapontando quem neles apostou. Se não chegou a este ponto, pelo menos um questionamento, mesmo que interior, se foi realmente um bom negócio suas respectivas contratações deve estar em curso.

 

O primeiro caso é o do Kimi “Tomotodas” , que foi contratado para colocar uma pressão no “Príncipe das Lamúrias” e até agora não conseguiu fazer muita coisa. Passadas as cinco primeiras corridas, o finlandês tem somente 17 pontos na tabela (Fernandinho tem 49). Isso é praticamente 40% da performance do espanhol e muito pouco para quem muitos acreditavam ser capaz de levá-lo à loucura.

 

Uma parte deste problema pode ser debitado na conta do “bagre vermelho”, o carro deste ano, que parece ser ainda pior do que o do ano passado... só que o carro é ruim para os dois pilotos e não só para um. Apesar de que, no caso do Kimi, o novo sistema de freio eletrônico parece que “não encaixou” com seu pé esquerdo. Nãosó o dele como o de boa parte do grid.

 

Dureza é ver, ler e ouvir gente “emitindo parecer” sobre o desempenho alheio e esquecendo-se de cuidar do seu. O “Macarroni” andou falando que “Para andar na frente do Alonso, tem que ter um carro perfeito e em que tudo funcione. Se não tiver, não vai ser fácil. É o que o Kimi está sofrendo”. E aí eu volto a falar: se um carro vai estar perfeito, o outro também vai estar. Estando os dois perfeitos, a diferença – em teoria – vai estar no desempenho dos pilotos. Baseado no escrito deste parágrafo, o que dizer do “Macarroni”?

 

Ele tem pouco mais de um terço dos pontos do seu companheiro de equipe, que não é nenhum campeão do mundo, mandachuva na equipe, piloto supertop. Diga-se de passagem, o “Frangote” reconheceu e agradeceu a referência do acerto do carro do brasileiro para acertar o seu... e colocar a Williams na 2ª fila, com o 4º tempo, para a largada na última corrida, com uma volta perfeita, sem erros. Já o “Macarroni”, errou na sua tentativa e largou em 9º.

 

Tudo bem, errar é humano, mas se o carro estava tão bom e o “Frangote” andou entre os 4 primeiros o tempo todo, brigando com as Red Bull e terminando em 5º, atrás das Mercedes e das Red Bull, o que deveríamos esperar do “Macarroni”? Lembrei-me de uma corrida na Hungria, ainda nos tempos de Ferrari, onde numa performance apagada, ele terminou em 13º... a mesma posição que terminou na Espanha.

 

Se formos ver a questão “pontos por pontos”, é claro que não dá pra ser simplista: o “Macarroni” tomou aquela porrada na traseira do “Kamikoba” na Austrália, mas como e o que dizer depois do que se viu (pra quem não cochilou) na pista de Barcelona? Se o “Darth” Vettel conseguiu sair de 15º pra 4º, o “Macarroni” tinha que ter um desempenho melhor. Afinal, carro pra isso ele tinha.

 

Durante esta semana está acontecendo mais uma rodada de testes coletivos em Barcelona. Todos que não colocaram novos componentes em seus carros na corrida ou mesmo aqueles que colocaram estão tendo a oportunidade de buscar ajustes, melhorias, pequenos milagres para tentar avançar em relação ao que conseguiram até o momento.

 

Contudo, duvido que alguém tenha dúvidas de que o campeonato deste ano já está decidido em favor das Mercedes, restando saber agora qual de seus pilotos será o campeão, se o “Neguin” ou o “Paquito”. Outra coisa que parece estar clara é que, carro a Red Bull tem, o problema é que o motor Mercedes é muito melhor que os da concorrência e por melhor que seja o carro, sem um motor competitivo, não tem milagre.

 

Milagre mesmo seria encontrarmos bom senso na Fórmula 1. Nos anos 70, em pleno regime do Apartheid, na África do Sul, quando o país era banido das olimpíadas e da Copa do Mundo, a categoria corria em Kayalami sem o menor constrangimento. Agora, em 2015, com toda a crise que está havendo criada pela Rússia em relação à Ucrânia, a FOM e a FIA continuam afirmando que não haverá nenhum problema em relação a realização da corrida marcada para o próximo mês de outubro.

 

Não bastasse isso, a possibilidade da volta do GP da Europa para 2015 ou 2016, com este sendo realizado nas ruas e avenidas da capital do Azerbaijão, Baku, reforça esta despreocupação em ser “politicamente correta” por parte das daqueles que regem a principal categoria do automobilismo mundial. Outro dia vi imagens de Baku, numa canal por assinatura, onde eram mostradas cenas locais, com avenidas, monumentos, praças, etc. antes de um torneio de judô. Tudo muito bonito... mas é só isso? Fachada?

 

Quem está trabalhando para “colocar a fachada abaixo” é a Corte de Munique. Chamado a depor no último dia 9 de maio, o ex-banqueiro Gerhard Gribkowsky abriu o verbo e não poupou o bom velhinho, dizendo que foi chantageado e aceitou o suborno oferecido por ele na negociação das ações da Fórmula 1. Isso sim é o que se chama “botar a boca no trombone”, não aquela coisa esdrúxula que enfiaram no escapamento do carro do “Paquito Rosberg” (logo no dele, heim?)

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva