A dissimulação prateada Print
Written by Administrator   
Thursday, 17 April 2014 03:36

Caros amigos, no mundo da fórmula 1, os segredos são “guardados a sete chaves”. Sujeito a falhas, é verdade... a Ferrari que o diga, mas a forma de guardar segredos de projetos bem sucedidos podem ser “escondidos” de outras maneiras.

 

Quando Colin Chapman fez o revolucionário Lotus 88, que foi acusado de ter partes móveis em sua estrutura (proibidas pelo regulamento) e que conseguiriam refazer o “efeito solo”, que havia sido banido por questões de segurança. O carro – segundo as queixas da concorrência – era muito mais rápido que os das suas equipes e nunca correu. Em treino, no GP da Inglaterra, Nigel Mansell estabeleceu o 5º melhor tempo, mas as outras equipes disseram que o piloto “dissimulou”, não tirando tudo que o carro podia dar.

 

O resgate desta passagem na história da categoria – ocorrida na temporada de 1981 – serviria como referência para o que está acontecendo nesta temporada com o que a Mercedes está fazendo com as outras equipes nesta temporada desde os primeiros testes coletivos em Jerez de la Frontera. A diferença é que, no caso da equipe alemã, não há questionamentos referentes a possíveis desvios no regulamento.

 

O caríssimo leitor vai estar lendo esta coluna no mesmo dia em que os carros da categoria estarão indo para a pista na China, onde ocorrerá a quarta etapa do campeonato mundial de 2014 (considerem o fuso horário) e onde, dificilmente, o enredo da corrida terá um final diferente, a menos que os carros prateados sofram problemas mecânicos.

 

Mas qual o motivo pelo qual estou afirmando que os carros da Mercedes estariam “escondendo o jogo”, andando em um ritmo mais lento do que o que realmente pode? As 11 voltas finais do GP do Bahrein foram emblemáticas, assustadoras e reveladoras... talvez indo até mesmo contra um “posicionamento estratégico” da equipe.

 

Em um número de voltas que equivaleria a algo próximo do “número redondo” de 20% da distância, disputando posição ferrenhamente, o que normalmente faz com que o ritmo de volta do piloto que está sendo atacado diminua, devido à sua necessidade de fazer linhas mais defensivas, fora do que seria o traçado ideal, os dois carros da equipe abriram mais de 24 segundos para o terceiro colocado.

 

Tamanha vantagem acabou sendo vista novamente nos dois dias de treinos coletivos que aconteceram no circuito do oriente médio, com Lewis Hamilton e Nico Rosberg deixaram os outros carros e seus pilotos em meio a uma “tempestade de areia psicológica” capaz de fazer com que o campeonato – caso uma verdadeira revolução não aconteça – termine bem antes do fim para as demais equipes e tenhamos algo parecido com o que foi visto em 1988, onde a McLaren venceu 15 das 16 corridas da temporada e só não venceu todas por um erro de avaliação cometido por Ayrton Senna no GP da Itália.

 

Impressionantemente, caso não fosse a radical mudança no regulamento da Fórmula 1, a permanência da Mercedes na categoria estaria com os dias contados segundo declarou Thomas Weber, membro do Conselho da Daimler, proprietária da montadora alemã à revista inglesa ‘Autosport’.

 

Como todo membro de um time que está vencendo o executivo alemão defendeu as novas regras da categoria, afirmando que a redução do motor, o turbo, a tecnologia híbrida – todas vantagens de carros modernos e com aplicações comerciais – voltaram a ser parte do jogo da F1, como um dia a categoria foi.

 

Herr Weber ressaltou que é importante esclarecer aos fãs a razão pela qual o Mundial da principal categoria mundial – através da FIA – está adotando novas regras que permitem a economia de combustível e que esta é, sem dívida a direção mais correta a ser seguida e que não há alternativa se a humanidade quiser proteger o futuro das próximas gerações.

 

Tecnicamente, ele está certo. Daí a concorrência e o Bernie Ecclestone concordar com isso...

 

Enquanto isso, no balcão do cafezinho...

 

Pelo menos para alguns de nós, brasileiros, a grande notícia desta semana foi a renovação do contrato de Interlagos com a FOM, válido agora até 2020. A assinatura do contrato aconteceu no gabinete da prefeitura, no Viaduto do Chá, região central da capital paulista, onde o prefeito Fernando Haddad e a vice, Nádia Campeão, estiveram presentes com outras autoridades e representantes da etapa brasileira da F1.

 

A grande mudança no cenário é que a caríssima obra de fazer outras instalações para melhor receber a categoria na região da reta oposta foi colocada de lado como nós informamos em primeira mão no final de dezembro. O bom velhinho aceitou a reforma nos boxes atuais e um projeto de ampliação da área atrás dos mesmos. Agora é ver se elas ficarão prontas para o GP deste ano ou se serão como as obras da copa do mundo.

 

Três novas temporadas estão para começar e completar o calendário do ano: o DTM, os campeonatos da Blancpain e o WEC, todos eles com brasileiros na pista.

 

A temporada 2014 do DTM, que começa no próximo dia 4 de maio com a etapa de Hockenheim, trará uma série de importantes novidades no regulamento técnico e esportivo.

 

 Visando facilitar a compreensão do público, Hans Werner Aufrecht, presidente da ITR – organizadora do campeonato – se reuniu com as montadoras e optou por simplificações nas regras. Neste ano haverá apenas um pit-stop obrigatório (eram dois). Quando o safety-car estiver na pista, a parada será proibida. Caso ele entre, após a saída os pilotos podem parar nos boxes em até seis voltas, mesmo que fora da janela de pit-stops.

 

Os pneus macios só poderão ser utilizados no máximo durante 50% da distância da corrida. Caso o safety-car estiver na pista no período da janela de troca de compostos, estes poderão ser utilizados por no máximo mais seis voltas após o retorno do Safety Car ao pit-lane – mesmo que isso signifique superar o limite de 50%.

 

Não vai ter maos o “Q4”, que era disputado pelos 4 mais rápidos do Q3. Com isso, a tomada de tempos terá o Q1 – 13 minutos, eliminando os cinco mais lentos –, o Q2 – 11 minutos, excluindo os dez piores – e o Q3, que definirá o dono da pole-position entre os oito mais rápidos da sessão. 

 

Mas é tudo para simplificar, tá... assim como é fácil aprender alemão! O que eu gostei foi a introdução da asa móvel. Isso vai permitir mais ultrapassagens.

 

No Blancpain Series, o batalhador Cesar Ramos conseguiu um acordo para defender a equipe oficial da Audi nas corridas de GT, a WRT, e está determinado a impressionar a montadora alemã a partir deste fim de semana, na Itália.

 

Em 2014, Ramos vai disputar dois campeonatos com a WRT: o Endurance Series e a Sprint Series - nova versão do que foi a GT Series no ano passado. A primeira etapa do Blancpain Endurance Series aconteceu domingo passado, em Monza, junto com a World Series, enquanto a outra categoria dará a largada nos próximos dias 20 e 21, em Nogaro, na França

 

Cesar Ramos não é um piloto oficial da marca Alemã. Mas pretende usar a oportunidade de pilotar um carro da marca dos quatro anéis para convencer os chefões de Ingolstadt de que tem capacidade para fazer parte de seu grupo de pilotos. Serão 12 etapas na temporada 2014, sendo cinco de endurance e sete da Sprint Series. No final do ano, o piloto também concorrerá ao troféu Blancpain GT, que será entregue a quem obtiver os melhores resultados dos dois campeonatos somados.

 

Na Sprint Series, com o time definido, a equipe de Antonio Hermann conseguiu fechar seu patrocínio principal com o Banco do Brasil e o carro será mais verde e amarelo do que jamais foi. Agora é a pilotada andar além do limite, não fazer bobagem na pista e fazer com que ao menos este Brasil não pague os micos que o país vem pagando e ainda pagará na Copa do Mundo.

 

Mas já que falamos em “questões nacionais”, em termos de automobilismo nem um país é tão passional quanto a Itália e usando um termo bem atual, “a casa – de Maranello – caiu”! A crise meteu o pé na porta de vez pelos lados de lá e quem capitulou diante das pressões foi Stefano Domenicali.

 

A renúncia do homem forte que ocupava o cargo de líder da equipe vermelha desde 2008 (sem ganhar um título sequer) foi notícia em toda a imprensa italiana na segunda-feira... mas a Ferrari só confirmou na terça-feira, com uma nota três linhas e sem maiores detalhes sobre quais as razões para a renúncia. O substituto é Marco Mattiacci, diretor-executivo da Ferrari para América do Norte, que já deve estar na China, para a quarta etapa do mundial de Fórmula 1.

 

Não adianta, mas vou repetir: depois que a equipe desmanchou o “dream team”, que tinha o Alemão Schumacher, o Francês Jean Todt, o Inglês Ross Brawn e o Sul Africano Rory Bryne (e nada de italiano mandando pra fazer bobagens) a equipe funcionou, Ainda colheu um fruto em 2007, com o Kimi. Depois disso, foi ladeira abaixo!

 

Mas além de ter uma encrenca pra cuidar, os italianos ainda estão buscando mais uma sarna pra se coçar, com o apoio amplo, geral e irrestrito ao projeto romeno da equipe de Fórmula 1 que se chamará “Forza Rossa”. No fim, vai acabar sendo projeto semelhante ao da Toro Rosso para a Red Bull, onde pilotos da casa chegarão à F1 sem o peso sobre os ombros de estrear na Ferrari. Isso pode fazer com que tenhamos de volta um piloto italiano no grid, quem sabe.

 

Por falar nas novas equipes da categoria (ou ao menos pretendentes), A FIA deu o aval para que a equipe americana ingressar na categoria, mas agora o dono do projeto, Gene Haas, admitiu que ainda não sabe quando seu time terá condições de ingressar na F1. Haas explicou que a ideia inicial é começar a trajetória na F1 já no ano que vem, mas que não sabe se isto será possível.

 

Há muitas questões técnicas para serem resolvidas. A Ferrari seria a mais cotada para fornecer motores ao novo time, ainda existe a possibilidade da Mercedes ser a escolhida... mas em ambos os casos, o custo dos motores estão pesando. Na questão dos chassis. A Dallara – que conduz o trabalho de construção dos chassis da Indy – pode ser escolhida para colaborar com o desenvolvimento do futuro carro, apesar de serem projetos bem distintos.

 

O tão veloz quanto folclórico piloto Juan Pablo ‘Gordito’ Montoya disse que esse projeto do Gene Hass é uma loucura, especialmente se ele quiser basear a equipe nos Estados Unidos ao invés Europa. O argumento que o colombiano usou em uma entrevista durante o final de semana do GP de Long Beach não foi o melhor, mas o efeito é o mesmo: as coisa da F1 acontecem na Europa. Pode ter mais dinheiro em outras partes, mas as coisas acontecem mesmo é no velho mundo. O cowboy pode cair mesmo do cavalo.

 

Quem também caiu – não do cavalo – foi o touro... o touro vermelho. O Tribunal Internacional da FIA rejeitou o apelo da Red Bull contra a desclassificação de Daniel Ricciardo no GP da Austrália, realizado no dia 16 de março. Em Melbourne, o piloto foi punido com a perda do segundo lugar do pódio, porque o carro número 3 excedeu “consistentemente” o limite de 100 kg/h de fluxo de combustível.

 

A equipe austríaca tentou provar que estava competindo dentro do regulamento, ressaltando que não violou o artigo 5.1.4 do Regulamento Técnico, segundo o qual o “fluxo de combustível não deve ultrapassar 100 kg/h”. E argumentou ainda que o fluxômetro, que forneceu informações diferentes com configurações de motores idênticos entre os treinos livres, não era confiável, contrariando a diretiva técnica aplicada em 1º de março, que falava que todos deveriam seguir os dados recomendados pela FIA. A esquadra também questionou a diretiva técnica imposta pelos delegados-técnicos, afirmando que se tratavam de opiniões dos comissários e não regras.  Não teve jeito: os juízes decidiram por manter a exclusão.

 

Em nota, a equipe declarou que aceitava a decisão do Tribunal de Apelação, mas que isso não diminuía a decepção com o resultado e não teriam apelado se não achassem que era um caso forte e que estavam dentro do Regulamento Técnico durante o GP da Austrália de 2014. A nota  ainda lamentava por Daniel Ricciardo, que não receberá os 18 pontos da corrida. Mas que a equipe vai continuar a trabalhar muito duro para acumular o máximo possível de pontos para a equipe, seguindo em frente e concentrando-se no GP da China.

 

Quem pode acabar caindo, no final da temporada, é o primeiro piloto da McLaren, Jenson Button. Seu contrato com a equipe termina este ano e o carrancudo Ron Dennis, que chutou porta a fora o promissor e rápido Sergio Perez (junto com o patrocínio das empresas de Carlos Slim, o “Imperador do México”) e promovendo o dinamarquês Kevin Magnussen.

 

Sem nenhum sinal de arrependimento (se é que esta palavra existe no vocabulário dele), Ron Dennis assumiu que foi uma decisão sua dispensar Perez e trazer Magnussen e que, no final do ano, não descarta a possibilidade de alinhar no grid de 2015 com outro jovem piloto ao lado do dinamarquês.

 

Este piloto seria o belga Stoffel Vandoome. Um ano mais velho que Kevin Magnussen, o piloto foi colocado pela McLaren na GP2... e venceu com sobras ecategoria a prova de abertura da temporada no Bahrein, corre pela ART, equipe que além do acordo com o time de Woking, também vai contar com motores Honda a partir de 2015. Dennis acredita que ele será um piloto cobiçado no final da temporada.

 

O chefão da McLaren não deixa de elogiar seu experiente piloto, dizendo que ele está fazendo um ótimo trabalho, que ele é rápido e dedicado e que não haveria nenhuma razão para não ficarmos com ele... mas que ainda tem toda a temporada deste ano pela frente. Parece aquela coisa do “técnico está prestigiado” que conhecemos do futebol aqui no Brasil.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva