Além do horizonte da F1 Print
Written by Administrator   
Wednesday, 18 September 2019 21:20

Caros Amigos, quando fiz o meu mestrado em administração, uma das principais abordagens do meu orientador na tese era de como o gestor atual tinha que olhar para o futuro, interpretar os movimento do mercado e da economia para tomar decisões corretas naquele momento e que iriam trazer benefícios futuros.

 

Este princípio é algo que se aplica a qualquer seguimento. Ter visão futura é visualizar onde a empresa pode chegar se tiver planejamento, foco e dedicação aos seus objetivos e metas de longo prazo. Com certeza, isto é algo completamente tangível e que tem levado muitas instituições no Brasil e no mundo, a terem uma vida longa e próspera em seus ramos de atuação e construir um grande legado.

 

O gestor pode traçar estratégias mais efetivas para alcançar os resultados esperados e eliminar os problemas e “dificultadores” que podem interferir no alcance dos alvos da empresa. Para crescer além de olhar para dentro, é importante olhar para fora, conhecer bem os concorrentes, o mercado, se antecipar e criar e aproveitar as diversas possibilidades de crescimento.

 

A mudança que se desenha cenário da Fórmula 1 para o ano de 2021 (isso caso as equipes, promotores, construtores e dirigentes cheguem a algo racionalmente praticável e mercadologicamente adequado) pode tomar uma direção correta ou uma direção errada para o futuro da maior categoria do automobilismo mundial e essa visão de futuro do gestor precisa ser desempenhada em primeiro plano pelo corpo diretivo do Grupo Liberty Media e da Federação Internacional de Automobilismo.

 

A diferença de competitividade e a falta de perspectivas de sequer alcançar um lugar no pódio, salvo uma hecatombe entre os carros das equipes mais poderosas ou fatores externos extremos como vimos no GP da Alemanha, somados ao elevado investimento que os pilotos precisam fazer nas equipes, levando patrocinadores para conseguir um cockpit, uma corrida fora das pistas muitas vezes mais desigual do que as disputadas no asfalto, e não se ver em condições de mostrar sua capacidade.

 

Os gestores da Fórmula 1 deveriam ter mais atenção sobre o que está acontecendo não apenas à sua volta, mas também dentro de seus domínios. A recente apresentação da equipe Mercedes para o campeonato da Fórmula E foi, por si só, extremamente chamativo, mas o anúncio da dupla de pilotos foi tão ou mais impactante como mensagem do que a apresentação do carro.

 

Ao longo da temporada 2018/2019 da categoria promovida por Alejandro Agag a chegada da Mercedes Benz, juntando-se à Porsche, Audi e a BMW nesta que está vindo como a força motriz dos veículos de um futuro cada vez mais próximo foi cercada de comentários, entre outros, sobre qual seria a dupla de pilotos onde os nomes de Nico Rosberg e Felipe Massa, dois pilotos vitoriosos na Fórmula 1 colocariam em alto nível a condução da equipe nas ruas das cidades que recebem o campeonato.

 

Contudo, ao longo deste ano as coisas foram mudando. Inicialmente com a “desistência oficial” do campeão mundial da Fórmula 1 de 2016 e com a performance certamente abaixo das expectativas do piloto brasileiro, a montadora alemã decidiu apostar no novo, anunciando Stoffel Vandoorne e o virtual campeão da Fórmula 2, Nick De Vries.

 

Situações semelhantes envolvem os dois pilotos além do fato de serem vizinhos de fronteira (Vandoorne é belga e De Vries é holandês). Ambos foram pilotos do programa de jovens pilotos da McLaren. Vandoorne chegou à Fórmula 1, disputando 42 GPs em três temporadas carregando o fardo de ser companheiro de equipe de Fernando Alonso e terminou injustamente “crucificado” pela baixa performance do conjunto McLaren-Honda. Nick De Vries também era piloto da McLaren, mas teve seu caminho ofuscado pelo inglês Lando Norris, que mesmo sem conquistar o título da Fórmula 2 em 2018 – algo que Vandoorne conseguiu quando a categoria ainda se chamava GP2 – conseguiu um lugar na equipe para a temporada deste ano enquanto De Vries foi dispensado do programa de jovens pilotos.

 

A pergunta que, certamente, muitos dos meus estimados leitores devem se fazer é se vale a até onde vale a pena chegar na Fórmula 1 como o campeão da Fórmula 2 no ano passado, George Russel, e ficar tomando voltas de desvantagem ou seguir para uma categoria com potencial de crescimento e exposição como a Fórmula E, onde os valores envolvidos – ainda – são bem menores e que o piloto não precisa levar patrocinadores com investimentos de mais de 10 milhões de euros na temporada.

 

Em 2021, a aprovação do controle de gastos das equipes é o aspecto mais controverso e, ao mesmo tempo, pode vir a ser o mais importante para a continuidade do sucesso e do protagonismo da Fórmula 1 ante as demais categorias no mundo, com uma aproximação das equipes menores e um aumento da competitividade entre os times, algo que vemos na Fórmula E.

 

Estamos nos últimos momentos das negociações entre as partes para que tenhamos uma Fórmula 1 mais interessante para todos na próxima década. Resta ver se as pessoas que tem o poder de decidir irão tomar as decisões corretas. Eu consigo enxergar na decisão da Mercedes em relação à Fórmula E uma mensagem. Resta-nos ver se outros fizeram a mesma leitura.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva