Apagadas as luzes vermelhas na corrida da concessão de Interlagos Print
Written by Administrator   
Wednesday, 11 September 2019 23:21

Caros amigos, eu esperava levar mais de uma semana para voltar a abordar o assunto sobre a concessão de Interlagos. Diante do que temos visto com o autódromo de Brasília, onde o imbróglio se arrasta com “interferências extremamente suspeitas” nos bastidores do processo não nos deixa ver uma luz no fim do túnel.

 

São Paulo, pelo visto, neste processo parece estar sendo mais rápido do que outros processos de muito maior interesse e impacto para a cidade (ao menos em teoria) do que o autódromo, como o monotrilho que tem colunas gigantescas de concreto espalhada ao longo dos canteiros de diversas avenidas, de uma rede de metrô que atende um percentual pequeníssimo da população e que, nos horários de pico são proibitivos para pessoas com necessidades especiais como eu. Pelo visto, o autódromo tem algo mais interessante do que todas estas obras e outras.

 

Na última terça-feira a prefeitura publicou em sua pagina as regras para consultas e audiências públicas, assim como os parâmetros (edital) que os candidatos a novos gestores do autódromo deverão seguir para, nos próximos 35 anos, gerenciar o espaço que deve, prioritariamente, atender o automobilismo, mantendo-se como um autódromo FIA-1, continuando a poder receber o GP Brasil de Fórmula 1. O edital está acessível por este link.

 

Como tudo em São Paulo e sendo um espaço grandioso, grandiosos também são os números que envolvem o projeto. O documento prevê que a vencedora da licitação explore o Complexo de Interlagos por 35 anos, sendo o valor estimado de R$ 7.865.062.897,00 (sete bilhões, oitocentos e sessenta e cinco milhões, sessenta e dois mil e oitocentos e noventa e sete reais). Em uma conta simples, quem vencer a concorrência teria que pagar, por cada ano de concessão, R$ 224.716.082,77 (duzentos e vinte quatro milhões, setecentos e dezesseis mil, oitenta e dois reais e setenta e sete centavos) por cada ano da concessão.

 

Valores desta monta, técnica e praticamente inviabilizam a manutenção exclusiva do espaço físico de quase um milhão de metros quadrados como sendo exclusivamente um autódromo, que precisará, pelo edital, sofrer uma série de melhorias para que atinja o padrão FIM-B, o que permitirá o circuito receber eventos da Superbike, mas não da Moto GP, que requer o grau “A”.

 

Diferente do que havia no projeto inicial, que contava com o “desaparecimento” do kartódromo, no presente edital, além da reforma e manutenção do kartódromo, é colocado como “adequação de estrutura” existente no antigo retão a construção de uma arquibancada para 2000 lugares ou uma realocação para outro ponto, com a garantia de um trecho mínimo de 100 metros de pista, o que é uma medida controversa, visto que o antigo retão tem sido utilizado para eventos de arrancada e a construção de uma estrutura permanente, que requer manutenção, tiraria uma forte de locação de espaço para evento. Além disso, uma arquibancada para 2000 pessoas não faria muita diferença no público que se pode pensar em colocar em um final de semana de Fórmula 1.

 

Há uma série de compromissos interessantes como a Implantação, reforma e recuperação da “área perimetral”, contando com a instalação de pista de atletismo, ciclovia, quadras poliesportivas e mobiliário, o que atende o propósito de parque, estabelecido na lei ordinária de 1997, assinada pelo prefeito Celso Pitta, que desde a gestão João Dória, teve o acesso limitado para as áreas que seriam este denominado “parque”.

 

A questão da “saúde financeira” de quem vier a conseguir a concessão exige do consórcio que este esteja adequado às leis federais vigentes e apresente um capital social mínimo de R$ 37.200.000,00 (trinta e sete milhões e duzentos mil reais) e uma garantia de execução mínima de R$ 54.814.750,00 (cinquenta e quatro milhões, 814 mil, setecentos e cinquenta reais) quando da assinatura do contrato, podendo este valor de garantia ser reduzido à metade quando da comprovação das obras previstas no “Programa de Intervenção”.

 

Uma parte específica do edital trouxe-me uma preocupação: a possibilidade de, a partir do 4° ano da concessão o arrematador do contrato poder implantar um Shopping Center, para locação comercial com ABL de 106.560 m2, sendo previstas duas fases: (i) 79.920 m2 até o Ano 9, (ii) 106.560 m2 a partir do Ano 10. São previstas ainda 2.537 vagas de estacionamento. Deve-se notar que além da receita de aluguel, foi prevista uma receita de cessão de direitos referente ao valor pago pelo lojista para ingressar no shopping center, de tal maneira que este valor venha a ser pago em 5 parcelas anuais lineares. Um hotel com 450 quartos e, consequentemente, toda sua infraestrutura. Um centro logístico com galpões de 39.494 metros quadrados e outros, centrais, de 16.000 metros quadrados, com acesso privilegiado à pista de competição que podem ser utilizados tanto por usuários ligados ao automobilismo (montadoras, equipes de competição) como por outros players que necessitem de espaço de armazenamento. Quanto de espaço, especificamente e onde seriam implantados estes empreendimentos? O edital não especifica isso.

 

Um outro aspecto que chamou minha atenção e pode ser o ponto que já definiu quem é o vencedor do edital está no ponto que exige do consórcio a comprovação de experiência em operação, gestão ou estruturação de, pelo menos, uma prova oficial homologada pela FIA (e/ou) CBA ou FIM (e/ou CBM) realizada em Autódromo e/ou Kartódromo e de gestão/exploração de espaços multiuso ou eventos de, pelo menos, 10.000 pessoas. Pelos candidatos apresentados na minha coluna na semana passada, apenas a Time Four Fun, proprietária da VICAR, tem essa “credencial” de ter promovido eventos de automobilismo no padrão exigido entre os concorrentes.

 

A prefeitura agendou a audiência Pública para o dia 1º de outubro, às 10 horas da manhã, na Subprefeitura de Santo Amaro. Os integrantes do grupo “Interlagos Hoje”, cujo um dos líderes é o colunista do site dos Nobres do Grid e Diretor de provas, Sergio Berti. Vejamos o que será apresentado.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva