Os moinhos de vento de Zandvoort Print
Written by Administrator   
Wednesday, 21 August 2019 19:42

Caros Amigos, em meio ao deserto de informações, comunicados, notícias ou mesmo boatos sobre o pouco crível seguimento do projeto da construção do autódromo no Rio de Janeiro, aquele que – supostamente, caso construído – passará a sediar a Fórmula 1 no Brasil a partir de 2021, decidi debruçar-me sobre fatos recentes ligados aos autódromos que recebem, receberam e receberão a categoria nos próximos anos.

 

Desde que retornou ao calendário, em 2015, o GP mexicano é um dos que tem propiciado grandes corridas e uma interação com o público de forma mais intensa entre as etapas do campeonato. Com apoio do governo, que pagava a FOM pelo direito de realizar a prova, foram quatro anos de sucesso, tendo o mesmo sido eleito o melhor do ano em uma das temporadas, mas que com a mudança do governo, o contrato não seria mais custeado pelo governo, mesmo com toda a vantagem re arrecadação de impostos e o fomento da economia e do turismo. Foi justamente visando o turismo, com a construção de uma ferrovia que interligará os sítios arqueológicos da civilização Maia que o governo eleito no México decidiu redirecionar este investimento.

 

O promotor do evento e a prefeita da cidade, Claudia Sheinbaum, confirmou a assinatura de um contrato de três anos (2020 a 2022) graças a uma parceria com um grupo de empresários e sem uso de fundos públicos (um excelente exemplo para a cidade de São Paulo, para não depender dos casuísmos políticos de um cidadão que por, interesses outros, deixou de ver o autódromo como um bem alienável para se tornar um elemento de demonstração de força em suas aspirações futuras).

 

Do outro lado do mundo, o circuito de Hanói, no Vietnã, onde o governo tem grande interesse e está investindo algumas centenas de milhões de dólares na construção de um circuito semipermanente e que vai ter, a partis de 2020, um contrato de 5 anos com a categoria deve ficar pronto no início do ano, com cerca de três meses de antecedência em relação a provável data da prova, no final de abril.

 

Começar uma obra “do zero”, de uma área sem estruturas pode ser mais prático para se erguer algo do que uma reforma. Dependendo da obra, esta lógica pode não seguir este caminho. Contudo, apesar de todo o entusiasmo que temos visto com as “invasões holandesas” pelos autódromos da Europa para apoiar Max Verstappen e o já anunciado retorno do circuito de Zandvoort, que tem uma história desde os anos 50 na categoria, para figurar no calendário de 2020 está provocando uma incômoda sensação neste humilde colunista.

 

A Holanda é um país “suis-generis”. A principal dentre as particularidades holandesas começa justamente no nome. Diferente do que se costuma ensinar em muitas escolas, não existe um único país chamado “Holanda”. No idioma local, o neerlandês (e não holandês), o nome do país é Nederland, que traduzindo fica País Baixo, ou como o resto do mundo prefere chamar: Países Baixos. O Reino dos Países Baixos é a união de 12 províncias locais, incluindo a Holanda do Norte e a Holanda do Sul. No século XVII, essas duas províncias aproveitaram sua favorável localização próxima ao mar para desenvolver um forte poder marítimo e econômico, tornando-as conhecida no mundo todo. Já que é um nome que soa mais acolhedor do que o nome oficial, resolveram assim que se utilizaria “Holanda”.

 

O nome do país é autoexplicativo. Além de ser um país plano (a montanha mais alta possui apenas 323 metros), aproximadamente um terço das terras holandesas está no “negativo”, sendo que o ponto mais baixo está quase 7 metros abaixo do nível da água e a relação com a água é bem especial. Além de terem sido ótimos exploradores marítimos, os holandeses também tiveram que desenvolver técnicas incríveis para se proteger de inundações. Nos últimos 900 anos, eles construíram milhares de diques e barragens para impedir o avanço das águas do mar e dos rios que atravessam o país.

 

A palavra “dique” vem do neerlandês diijk, que nada mais é do que uma obra de engenharia hidráulica com o incrível poder de manter determinadas porções de terra secas por meio do represamento de águas correntes. Antigamente na Holanda, para se escoar as águas, eram utilizados moinhos de ventos, outro grande símbolo do país. Por todo o país, 1.000 ainda resistem ao tempo e aos avanços da tecnologia. Só na linda região de Zaanse Schans, bem próximo de Amsterdã, são 13. Historicamente os moinhos serviram para diversos propósitos: além de drenar água, cerrar madeira, moer grãos. Há décadas também se tornaram uma atração turística.

 

Para um povo que construiu um país, reformar um autódromo não deve ser um trabalho tão complexo, contudo, com a corrida estando – provavelmente – a menos de um ano de seu redentor e esperado final de semana (que conta com mais de um milhão de intenções compra de ingresso) tem chamado a minha atenção o fato de não haver em nenhum portal de notícias do seguimento automobilismo uma matéria sequer com o projeto de reforma do circuito.

 

O traçado de 4,3 Km deixou de receber a categoria em 1985. A maior reta, a atual reta dos boxes, tem apenas 649 metros, algo que mesmo com as mudanças (caso estas sejam integralmente aprovadas) para a temporada de 2021, é uma extensão muito curta para permitir aproximação e ultrapassagens. Além disso, assisti recentemente, pela internet, as etapas do DTM e da F4 Alemã que aconteceram no traçado atual, que não reúne a menor condição de receber carros com as velocidades desenvolvidas na Fórmula 1, assim como as instalações de boxes, vide a obra que está sendo feita em Interlagos.

 

Talvez fosse interessante por parte dos promotores da corrida apresentar algo para o público e para a mídia. Acredito que não sou o único a ter feito este questionamento, mas talvez o primeiro a expô-lo.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva