Atrás das grades... da programação Print
Written by Administrator   
Wednesday, 27 December 2017 22:04

Caros Amigos, durante alguns anos a equipe da redação do Site dos Nobres do Grid fez, ao longo de algumas semanas no segundo semestre, um grande exercício para a montagem de propostas de um calendário unificado para o automobilismo brasileiro.

 

Nosso esforço tinha como princípio fazer com que os principais eventos de automobilismo do país não tivessem datas coincidentes entre eles e com os eventos transmitidos – em particular os da TV aberta – como a Fórmula 1 e a Fórmula Indy. Caso tivéssemos êxito, seria possível para os diversos profissionais de imprensa (jornalistas, fotógrafos, assessores, etc) atender melhor seus clientes, fazer uma melhor cobertura dos eventos, estando nos autódromos.

 

Depois de três anos fazendo isso, eu, que era o maior incentivador deste trabalho passei a ser o maior opositor. Demandava tempo, criava discussões e, no final, pouco ou nada do que fazíamos era levado em conta. Algumas assessorias de imprensa ainda se dignavam a agradecer e responder nossos emails explicando detalhes de seus calendários. Outros, nem o “obrigado” era postado.

 

Esta é a última coluna de 2017 e todos os calendários das principais categorias mundiais já foram anunciados. Até mesmo a excrescência do calendário bianual do Campeonato Mundial de Endurance – fruto das radicais mudanças na categoria principal do evento – e o novo WTCR, que vem buscar manter vivo um certame mundial para carros de turismo, já foram divulgados.

 

Enquanto pelo mundo as datas dos campeonatos vem sendo anunciadas desde setembro passado, aqui no Brasil a principal categoria do país está encerrando o ano sem anunciar seu calendário para 2018. Sim, a Stock Car ainda não tem as suas 12 datas definidas para um ano que vem acompanhado de grandes anúncios, como a vinda para a categoria de dois novos pilotos com passagem pela Fórmula 1 – Nelson Piquet Jr. e Felipe Nasr – e, para a corrida de duplas, com pilotos convidados, a participação de Felipe Massa.

 

As informações que chegaram até nós é de que a promotora do evento, a VICAR, está negociando para a abertura do campeonato, com a corrida dos convidados, acontecer em Interlagos e, diferente do que vem acontecendo há décadas, a corrida ser disputada no sábado, em um horário mais “interessante” tanto para a categoria e sendo uma alternativa à engessada grade de programação da detentora dos direitos de transmissão.

 

Estes direitos geram idiossincrasias, como a realização de corridas nos domingos Às 10 horas da manhã para atender a grade da rede de televisão de sinal aberto, apesar da mesma ter um programa dominical de esportes que vai até às 13 horas. A emissora de sinal aberto transmite três etapas por ano, deixando outras nove para ser exibida por um de seus canais de esportes por assinatura, que racionalmente tem as corridas após as 13 horas. Na última etapa em Interlagos, a visitação aos boxes foi das oito às nove da manhã. Um absurdo!

 

Contudo, não de pode crucificar a VICAR. As equipes e pilotos tem como apelo para atrair os seus patrocinadores justamente o fato de a emissora de maior audiência no país ser a emissora que transmite as corridas ao vivo. Caso não fosse assim, possivelmente os valores negociados não seriam os mesmos. Da mesma forma, se por um lado realizar uma corrida às 10 horas da manhã pode causar um impacto na quantidade de público no autódromo, segundo profissionais da emissora, este horário traz mais visibilidade na televisão e mais pessoas vendo na televisão implica em mais exibição das marcas dos patrocinadores. Há alguns anos o IBOPE informou que 1 ponto era o equivalente a 56 mil televisores ligados na região de São Paulo. Considerando um telespectador por aparelho, isso já é mais pessoas do que o número de presentes no autódromo.

 

Assistindo ontem (terça-feira) o ótimo programa do Celso Miranda, o atual Diretor Executivo da VICAR, Rodrigo Mathias, comentou que nos planos da categoria a questão do calendário está levando em conta evitar o choque de datas com categorias internacionais como o WEC, o WTCR e a Fórmula E para atrair pilotos – brasileiros e estrangeiros – para a categoria, apresentando-se como uma opção para estes pilotos de virem correr no Brasil.

 

Se for para dar certo, ótimo. O “X” da questão continua sendo o contrato com a televisão. Que a emissora não comprometa os planos da VICAR... ou que a categoria consiga crescer a um ponto de ser vista com outros olhos, ou ainda quem sabe, consiga projetar-se sem ficar preso às grades da TV com a qual tem contrato e assine com uma outra emissora.

 

Feliz ano novo e até a próxima,

 

Fernando Paiva