Uma pizza de 3 sabores Print
Written by Administrator   
Wednesday, 05 July 2017 22:10

Caros Amigos, Foi difícil escolher o tema para a coluna desta semana. Tão difícil quanto decidir os sabores da pizza da família no final de semana numa casa, algo que acredito ser muito comum de norte a sul do país. Assim sendo, usei o mesmo método da pizza: dividi-la em mais de um sabor e tentar agradar a todos. No caso da coluna, em mais de um tema.

 

A primeira parte da nossa pizza tem calabresa picante. Afinal, a o assinto é controverso e promete fazer arder e causar transpiração de muitos dos envolvidos devido a decisão acordada entre a Prefeitura de São Paulo e o Ministério Público para permitir o uso do Autódromo de Interlagos para corridas de carros e motos organizadas por ligas independentes.

 

A essência do acordo é algo que faz todo o sentido quando olhamos a questão da segurança nas vias públicas, uma vez que recentemente três graves acidentes ocorreram na região metropolitana devido a “corridas paralelas”, os “rachas”, nas avenidas durante a madrugada, mas partir do projeto para sua efetiva aplicação não será nada fácil.

 

Apesar de “independentes”, estas ligas devem seguir as mesmas regras que um clube ou uma federação deve seguir e isso implica nas especificações técnicas previstas, assumir responsabilidade, civil e criminal, a qualquer tempo, pela realização, fiscalização, gestão, supervisão e/ou quaisquer outras atividades necessárias.

 

Mesmo sendo um espaço público, a SPTuris, órgão da prefeitura que é o responsável pela gestão do autódromo tem uma série de eventos – financeiramente rentáveis – que nada tem a ver com a atividade fim daquele milhão de metros quadrados. Não bastasse isso, sempre tem o período de preparação do autódromo para a etapa do Brasil do mundial de Fórmula 1.

 

Correr em Interlagos é o sonho de muitas pessoas apaixonadas pelo automobilismo. A questão do fato do automobilismo não ser um esporte barato sempre foi um complicador. Para o promotor, o custo da locação do autódromo, pagamento de fiscais, comissários, diretor de prova, médico, ambulância, etc. e para os pilotos, além da preparação do carro, o pagamento das taxas de filiação junto à Liga, Clube ou Federação e a inscrição para a corrida. As ligas independentes prometem praticar preços mais baixos, mas será que apenas isso será suficiente para atrair aqueles que fazem racha nas ruas? O autódromo de Tarumã, no Rio Grande do Sul promove o “Racha Tarumã”. Seria interessante se as ligas que surgirem com este propósito de tirar os “pilotos de rua” das ruas entrarem em contato com os gaúchos para saber como eles fazem.

 

A segunda parte da nossa pizza terá o gosto (sem gosto) de catupiry e champingnon, que é nisso que penso que os dirigentes do automobilismo tem como objetivo na vida: deixar o automobilismo sem graça!

 

Na última sexta-feira, em um britânico e protocolar comunicado de imprensa o Grupo McLaren comunicou que Ron Dennis não fazia mais parte dele, tendo vendido suas últimas ações, encerrando uma história que começou em 1980, quando o então dono da Project 4, que tinha equipe de Fórmula 2 e Fórmula 3, comprou o controle acionário da equipe fundada nos anos 60 por Bruce McLaren.

 

Foi a recém-criada holding Grupo McLaren quem comprou as ações que eram de Ron Dennis na McLaren Technology Group e McLaren Automotive, duas das empresas que fazem parte do grupo. Além da venda das ações, Ron Dennis também desligou-se da diretoria de ambas. Segundo a companhia, a Bahrain Mumtakalat e a TAG irão continuar sendo as acionistas majoritárias da McLaren, com Mohammed bin Essa Al Khalifa passando a ser o presidente-executivo do Grupo McLaren.

 

Uma página importante da história foi virada. Ao longo de efetivamente três décadas Ron Dennis foi a “cara da McLaren”, com seu estilo sisudo, de raros sorrisos e linha de raciocínio pragmática, estabeleceu parcerias vitoriosas com a Porsche, Honda e Mercedes Benz como fornecedora de motores para seus carros, sempre identificados como MP4/..., de McLaren-Project 4, vencendo nove Mundiais de Pilotos com Niki Lauda, Alain Prost, Ayrton Senna, Mika Häkkinen e Lewis Hamilton e sete Mundiais de Construtores.

 

As declarações das partes envolvidas são aquilo que melhor caracteriza o termo “para inglês ver”. Palavras afáveis e elogiosas entre as partes envolvidas. Desde o acionista majoritário, Mansour Ojjeh, parceiro de Ron Dennis desde 1984, que tornou-se orgulhoso pelo sucesso da equipe e seu crescimento nos negócios. O novo presidente, Mohammed bin Essa Al Khalifa não economizou palavras para agradecer o homem que alavancou a McLaren para ela chegar onde chegou, mas a verdade é que o ambiente era o pior possível. Com conflitos constantes e que não havia mais como se conciliar as linhas de pensamento.

 

Nos últimos anos Ron Dennis era uma incômoda presença tanto em Woking como no paddock, de onde foi afastado como diretor da equipe de Fórmula 1 em 2009, após a crise entre Fernando Alonso e Lewis Hamilton e o escândalo da compra de planos da Ferrari, num caso de espionagem industrial explícita. Voltou em 2013, mas foi novamente afastado no ano passado... e o caminho para a porta da rua não teve mais volta. Apesar de não ter sido confirmado o valor da venda, fala-se na fortuna de 273 milhões de Libras.

 

E a última parte da nossa pizza tem o gosto amargo da rúcula, pois não foi fácil engolir o que a emissora de televisão que detém os direitos de transmissão fez com a promotora do evento – a VICAR - o público presente no autódromo, que há tempos não era tão grande, e principalmente aos telespectadores, que mal viram o final da corrida, expondo o narrador a não saber o resultado final do pódio e simplesmente não exibir a cerimônia.

 

A corrida, em edições normais, tem duas baterias de 40 minutos e a Corrida do Milhão, que premia o vencedor com um milhão de reais, já teve durações maiores, de 50, 60 e até 70 minutos, mas pelo visto, a falta de capacidade da emissora em promover o evento em sua grade de publicidade ao longo dos anos que transmite reduziram a disputa a uma “única bateria”, em um horário de sua conveniência, fazendo o público que vai ao autódromo, no inverno da gelada Curitiba a sair de casa cedo para a largada pouco depois das 10:30 da manhã.

 

Não bastasse o fato de ter cortado a transmissão para consegui encaixar todas as “atrações” de seu programa de esportes dominical, seria até compreensível se o horário estivesse espremido por uma transmissão ao vivo de um evento com potencial capacidade de prender a atenção dos telespectadores, mas o que veio a seguir foi uma matéria gravada sobre atletismo. Definitivamente, o pedaço mais difícil de digerir.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva