É preciso mudar! Print
Written by Administrator   
Thursday, 18 December 2014 03:09

 

Caros amigos, ao longo da história da humanidade, o mundo foi passando por mudanças e estas mudanças foram acontecendo de forma cada vez mais veloz. O que era novo ontem já tornou-se velho amanhã e – sem exageros – parece que estamos fadados a girar como loucos no meio deste turbilhão.

 

No esporte a motor de uma forma geral e no automobilismo em particular, temos sido testemunhas nos últimos cinco anos de mudanças nem tão rápidas quanto são os carros, mas de uma profundidade que – em alguns casos – mudou consideravelmente a face do esporte.

 

O problema é que, no caso do automobilismo, o esporte não é apenas “esporte”. Ele é um negócio... e um negócio que move dezenas, centenas de milhões de dólares todos os anos. Dinheiro que parece cada vez mais difícil de ser conseguido e que tem o poder de mover ou parar o esporte.

 

Vimos no final deste ano a bancarrota de duas equipes que disputaram (disputaram é um certo exagero, não? Então vamos corrigir: Participaram) o mundial de Fórmula 1: Catheram e Marrusia. Equipes que, ao longo de sua curta existência não fariam falta no grid... como não farão em 2014.

 

Outras três equipes estão – declaradamente – em meio a uma crise financeira e sabe-se lá como Sauber, Force Índia e a ‘Nega Genii’ conseguirão continuar participando do campeonato mundial da categoria se medidas drásticas não forem tomadas para reduzir os custos da categoria.

 

Além disso, as principais categorias que disputam campeonatos de provas de velocidade sob a chancela da FIA passaram por mudanças profundas com relação a motorização dos carros que delas participam, com a adoção de sistemas de recuperação de energia, motores menores e o uso dos sistemas de turbo compressão. Foi assim no Mundial de Endurance, foi assim no Mundial de Rally, foi assim no mundial de Carros de Turismo... e teria que ser assim na Fórmula 1!

 

Desde que a categoria começou, em 1950, a relação entre construtores de carros, chefes e donos de equipe e fornecedores de motores foi muito clara: apenas as equipes que eram das próprias montadoras possuíam motor próprio, como eram no início Ferrari, Alfa Romeo e Mercedes. Equipes que vieram depois como a Lotus, a BRM, a March, a McLaren, estas compravam motores de fabricantes como a Climax e a Cosworth.

 

A maravilhosa Lotus dos tempos de Colin Chapman nunca teve um “motor Lotus”, assim como a Tyrrel de Ken Tyrrel ou a Brabham de Sir. Jack. A única equipe que está no campeonato desde o seu início e que por ser uma fabricante de carros sempre usou seus próprios motores foi a Ferrari. E mesmo ela, nas últimas décadas, precisou se adaptar, mudando de seu histórico V12 para motores V6 Turbo e V8 aspirados.

 

A Temporada de 2014 expôs uma série de conflitos entre fãs, Bernie Ecclestone, Donos de equipes, promotores de GPs, meios de mídia e FIA.

 

A insatisfação por parte dos torcedores com os carros mais feios das últimas décadas e a falta de um “barulho de motor” deu muinção para que Bernie Ecclestone – que desde os primeiros anúncios e posteriormente testes como os motores deste ano – atirasse ainda mais pesadamente contra a FIA sobre a “política ambientalmente correta” da entidade, afirmando que a F1 estava descaracterizada (e ele não deixa de ter razão nisso), mas no regulamento técnico que a FOM e seu grupo escreveu para ser homologado – e que a FIA apenas aprova – está a permissividade para a estética destes carros horrorosos. Então, o Bernie não pode dizer que é tudo culpa alheia.

 

As marcas (exceção da Ferrari, que é uma marca de grife) envolvidas hoje na construção de motores para a F1 (Mercedes, Renault e Honda) olham a categoria como um local para desenvolvimentos de produtos ou ao menos componentes para seus carros atuais. Motores V8, barulhentos e beberrões, não tem espaço comercial e, consequentemente, não tem nenhum atrativo para estes construtores.

 

Pior que isso é a “atual proposta” dele de “renomear os motores”! É falta de assunto pra ‘Silly Season’? Só pode ser! Uma empresa invste dezenas de milhões de Euros no desenvolvimento de um motor e coloca o nome de uma equipe ou grupo com o qual não tem nenhuma ou quase nenhum ligação acionária, apenas um contrato de fornecimento.

 

A “forçação de barra” que Bernie Ecclestone está tentando conduzir é através do famigerado ‘Grupo de Estratégia’, formado pea FOM, pela FIA e por seis equipes (Ferrari; McLaren: Red Bull; Mercedes; Williams; e ‘Nega Genii’). A FOM tem 6 votos e precisaria de mais 4 para mudar a regra dos motores. O problema – do Bernie – é que 3 das 6 equipes usam motores Mercedes e estão “na vantagem” agora. Além disso, buscar uma solução através de um novo motor iria custar mais um investimento de dezenas de milhões de Euros... e sem retorno comercial! A Renault, fornecedora da Red Bull faria isso? A Honda faria isso?

 

A solução tem que partir por outras vias... e até a CVC andou buscando isso, encontrando alguém para diminuir os poderes de Bernie Ecclestone na F1. Contudo, o grande “candidato” – Paul Walsh, ex-executivo da Diageo – desistiu de encarar o desafio.

 

Mudar é preciso, mas a mudança tem que seguir na direção certa. Talvez seja a hora de mudar radicalmente o gerenciamento do negócio como um dia fizeram a NASCAR e a NBA.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva