Mark Webber, a Fênix de Stutgart Print
Written by Administrator   
Friday, 28 June 2013 14:56

Olá fãs do automobilismo,

 

Ao contrário do que aconteceu em algumas colunas este ano, onde sempre coincidia a data de publicação com o final de uma “rodada dupla” de corridas de fórmula 1 ou de uma prova no final da semana, desta feita ocorreu exatamente o oposto, com um intervalo de três semanas exatamente antes da publicação.

 

Não pensem, contudo, que a agenda do consultório diminuiu. Pelo contrário, aumentou! Gente que eu nunca pensava em ver por aqui, apareceu, mas de todas as consultas que tive, entre pacientes regulares ou novos, escolhi para relatar uma que me tocou de forma muito especial.

 

Se tem uma coisa que faz bem para um terapeuta é ver um paciente chegar a uma conclusão e tomar decisões capazes de mudar a sua vida. Nesta última semana, foi exatamente o que aconteceu como o Mark, sobre quem fiz uma coluna um tempo atrás quando ele esteve aqui pela primeira vez, após mais uma de suas lutas internas contra os ‘moinhos de vento’ instalados na Áustria.

 

Vindo aqui regularmente, acompanhei em segredo – afinal, existe a relação terapeuta-paciente que não pode ser revelada – todo o processo de negociação entre Mark e a Porsche para que ele voltasse a disputar as provas do Mundial de Endurance como um dia disputou pela equipe Mercedes.

 

 

Em uma de nossas conversas, ele contou o quanto foi impressionante aquele acidente em 1999 na reta Mulsanne, quando ele viu o mundo, literalmente, de rodas para o ar. Lembrei do episódio ocorrido no GP de Valência, com um Fórmula 1, que não é carenado, mas ele falou que os F1 são tão seguros nos dias de hoje que, analisando bem, o risco fui muito maior naquele protótipo.

 

Riscos são coisas inerentes na vida de um piloto de corridas, e Mark – como todos os outros – sabe muito bem disso, mas como eles todos dizem, é algo que faz parte do trabalho, que está ali o tempo todo, mas que eles não tem tempo nem possibilidade de pensar nisso. No dia que isso acontecer, é hora de parar!

 

 

Mark enfrentou vários riscos ao longo da vida nas pistas pelas equipes onde passou, mas talvez o maior deles tenha sido o dos últimos anos, nos tempos de Red Bull e, por mais estranho que possa parecer, um risco fora da pista.

 

Quando a equipe Jaguar foi comprada pela Red Bull, houve todo um projeto de reestruturação do time que ficara fora do campeonato por duas temporadas. Mark era piloto oriundo do time até 2004, antes de ir correr na Williams Assim, já se tinha um conhecimento a respeito da capacidade de Mark como piloto, além do “aval” dado por David Couthard, que tinha um grande respeito por ele. Se não entrou logo de início, a volta à “antiga-nova casa” deu-se pouco depois.

 

A fórmula parecia ser uma fórmula de sucesso. Não havia limite orçamentário, pouco depois contrataram o melhor projetista da Fórmula 1... andar na frente era uma questão de tempo e Mark, que já tinha uma boa quilometragem na categoria via que a hora estava chegando.

 

 

O problema é que, quando David Couthard aposentou-se, veio para o time Sebastian Vettel. Aposta de todas as fichas por parte do patrão, Dietrich e por parte do membro do time que viria a ser o grande protagonista do calvário que Mark viveria nos anos seguintes: o ‘consultor’ Helmut Marko.

 

Este era um paciente que eu gostaria de ter no meu divã. Um desafio para a análise comportamental do ser humano na mais pura essência. Pensem comigo: se eu sou consultor de uma equipe e “equipe” quer dizer grupo, e não indivíduo, meu trabalho seria para fortalecer todos os elos da corrente que formam este grupo, correto?

 

 

Acontece que, em diversas oportunidade, Helmut Marko fazia exatamente o contrário no que dizia respeito à Mark Webber, tentando miná-lo, diminuí-lo diante da estrela ascendente de Sebastian Vettel, como se um talento nato como o alemão precisasse daquele tipo de recurso para destacar-se e conquistar seu espaço.

 

Durante mais de quatro anos Mark precisou suportar uma dura condição de – por vezes – um “boicote velado” dentro da equipe para continuar tendo forças de manter-se brigando por um campeonato... que poderia ter sido conquistado em 2010, antes do estabelecimento do ‘reinado’ de seu companheiro de equipe. Aquele momento foi o ápice da pressão.

 

No ano passado, Mark começou o ano melhor que o já então bicampeão companheiro de time. Com seu sucesso, as pressões, que amainaram em 2011, voltaram com tudo e as condições na equipe mudaram de tal forma que, mais uma vez, ele teve que assistir o companheiro de equipe sagrar-se campeão.

 

 

Uma das piores coisas que uma pessoa pode sentir é o desânimo em relação àquilo que ama e faz. Quando chega-se ao ponto de se questionar se “tudo aquilo vale a pena”, é hora de se tomar uma decisão: ou para-se o muda-se! E quantos não apostaram que Mark, “o fraco”, pararia...

 

Mas só você sabe realmente o quanto você é forte, o quanto você é capaz e o quanto ainda ama o que faz e nesta semana você deu a prova disso a todos, mesmo que isso não fosse necessário, ao dizer, não literalmente, que não precisava mais ficar lutando contra moinhos de vento como um D. Quixote da vida.

 

 

Sua ida para a Porsche, para a disputa do campeonato mundial de endurance em 2014, onde um novo regulamento estará entrando em vigor, o que poderá alterar o equilíbrio de forças da categoria, tanto você como a nova equipe terão no sangue a vontade e a força, além de uma bagagem histórica para juntos se reinventarem e escreverem uma página de glória.

 

Seu momento ainda estar por vir, Mark. É hora de renascer e conquistarmos o mundo juntos.

 

Beijos do Meu divã,

 

Catarina Soares 

 

 

 

Last Updated ( Friday, 28 June 2013 15:22 )