Kimi, o último autêntico Print
Written by Administrator   
Monday, 27 May 2013 14:03

Olá fãs do automobilismo,

 

Tem certas pessoas neste mundo que a gente vê e pensa: ah, esse cara (ou essa ‘cara’) é muito bem resolvido(a). Ou já fez muita sessão de análise na vida ou é do tipo que nunca vai pisar no consultório de um profissional da área.

 

Dentre os pilotos que nós acompanhamos por aqui pelo site dos Nobres do Grid e pelos outros sites e blogs que lemos, um destes personagens “inatingíveis” é, sem dúvidas, o Kimi Raikkonen. Não é a toa que ele carrega o apelido de “Iceman”, ou “Homem de Gelo”... mas será que por trás deste “gelo” todo não tem um ser sensível?

 

A relação de Kimi com a velocidade parece ter vindo desde o útero! Ou alguém acha que é normal uma criança com três anos de idade sentar num kart e acelerar quando a grande maioria – nesta idade – nem consegue andar de bicicleta?

 

Kimi foi precoce a vida inteira, desde seu início nos kartódromos finlandeses e mesmo fora dele, com a prática de esportes de velocidade na neve, como o snowmobile, uma espécie de motocicleta de andar na neve e que teve, no passado um outro praticante famoso: Gilles Villeneuve.

 

Não precisa ser psicólogo para ver nos olhos desta criança - Kimi - que ele era um 'arteiro em potencial'...

 

Neste último final de semana, de volta a mesma Mônaco que lhe traz lembranças desde a adolescência (aos 15 anos de idade. Durante a corria, a barra de direção quebrou, mas Kimi continuou correndo, informando seu mecânico chacoalhando freneticamente o volante ao passar pela reta principal do circuito. A corrida seguinte no principado foi ainda mais marcante: após uma daquelas batidas típicas dos kartistas ainda na primeira volta, foi atirado para o lado errado da área de escape. Sem perder o controle, evitou a barreira de pneus, levantou o kart, colocou-o de volta na pista e foi atrás do pelotão. Todos no box acharam que ele estava fora da prova, mas Kimi deu um show e ainda terminou em terceiro).

 

Foram atuações como, como o título no campeonato nórdico de kart em 1998 e o ano de 1999, na Super A que o levaram à Fórmula Ford e logo depois para a Fórmula Renault, onde venceu 13 das 23 provas que disputou e em 2000 foi o campeão da categoria na Inglaterra.

 

A vitóriosa carreira no kart e nas primeiras categorias de base o fizeram saltar para a Fórmula 1 pulando etapas.

 

Um talento precoce que chamou a atenção de gente importante, que viu naquele adolescente loirinho um potencial fora do normal. Peter Sauber não pensou duas vezes em contratá-lo e colocá-lo em um carro de Fórmula 1, primeiro como piloto de testes, ainda em 2000, e como titular para a temporada seguinte. Foi uma gritaria geral!

 

A questão não era apenas a precocidade do menino de Espoo, que chegava à categoria principal do automobilismo com somente 21 anos de idade, mas o fato de Kimi não ter passado pelos tradicionais degraus que o levariam até lá (Fórmula 3 e Fórmula 3000). A grande parte dos chefes de equipe consideravam um risco colocar alguém tão inexperiente na pista e tentaram até impedir que isso acontecesse.

 

Alheio a tudo isso – algo que, com um tempo, mostrou-se um forte traço da sua personalidade: ignorar o que o cercava e focar-se no que interessava, que era correr – Kimi mostrou, na pista, que ele estava certo, que Peter Sauber estava certo e que os “temerosos” estavam errados: na primeira prova do campeonato, na Austrália, um sexto lugar e o primeiro ponto marcado (na época só os seus primeiros pontuavam).

 

Visto com desconfiança pelo circo, em uma temporada de Sauber, calou os críticos, fez grandes corridas e assinou com a McLaren.

 

Mesmo tendo ficado atrás do seu companheiro de equipe, o alemão Nick Heidfeld, no final do campeonato, na horda dos arrependidos de não ter ‘laçado’ o finlandês antes de Peter Sauber, Ron Dennis despejou um caminhão de dinheiro para a equipe suíça e assim levar o piloto revelação da temporada para a McLaren, preterindo Nick Heidfeld – que já havia corrido para a equipe de Fórmula 3000 e conquistado o campeonato – e assinando um contrato de cinco anos.

 

Kimi não assume, mas talvez a forma como as coisas funcionavam na McLaren, com a sisudez britânica de Ron Dennis administrar a equipe, tenham potencializado a forma introvertida e séria que acabou tornando-se uma marca registrada de Kimi. Até um apelido ele recebeu: The Iceman! Ou, o Homem de Gelo. Melhor que o de troféu limão que deram ao Nelson Piquet, mas será que Kimi era – ou é – tão gelado assim?

 

Nos cinco anos de McLaren, Kimi confirmou tudo o que se esperava dele: um campeão em potencial! O problema foi coincidir este período com os melhores anos da Ferrari na história da Fórmula 1, ainda por cima com um fora de série como Michael Schumacher. Mesmo assim, seu nome estava sempre na lista dos favoritos ao título. Os dois vice-campeonatos foram pouco e com um novo adversário – Fernando Alonso – surgindo, era preciso mais... e Kimi foi para a Ferrari.

 

Na McLaren, apesar dos dois vice-campeonatos, era difícil "quebrar o gelo"... e ali nascia o "homem de gelo".

 

Luca Di Montezemolo viu em Kimi um sucessor à altura para o ‘rei’ Michael Schumacher... e Kimi não desapontou ninguém: nem a cúpula da equipe, nem os fanáticos torcedores, que comemoraram ao final de 2007 o título de campeão do mundo quando Kimi derrotou os dois pilotos da sua antiga equipe... mas faltava algo.

 

Naquele ano, Kimi, que sempre foi chegado nas tradições de sua terra, desde o gosto por pescaria com o avô aos sabores do álcool, tão restrito em sua terra natal, foi flagrado vestido de gorila tomando todas com os amigos em Mônaco. O James Hunt bebia, fumava e foi campeão do mundo. Mas se ele perde aquele campeonato...

 

Na equipe italiana o sangue fervia, as emoções estavam à mostra, mas aquilo não era o perfil de Kimi, que guardava suas emoções para si, que via no trabalho um trabalho. Um trabalho que amava, como ama até hoje, mas em primeiro plano, o compromisso do trabalho. Aquilo destoava do ambiente latino, tão diferente do protocolar sistema da McLaren. Kimi ganhou o título, mas parecia não ter ganho o coração dos italianos.

 

Na Ferrari, foi campeão no primeiro ano no time, mas ser caçado pelos paparazi era algo desconfortável, mais que a roupa de gorila.

 

Se no ano do título, na reta final do campeonato, Kimi teve a valorosa ajuda de Felipe Massa, seu companheiro de Ferrari, que trabalhou como ‘escudeiro’ para sua conquista, no ano seguinte ele, campeão do mundo, teve que fazer este papel... e ele nunca tinha feito isso na vida. As coisas já não estavam boas... correr tinha perdido o sentido. Kimi cumpriu – profissionalmente – seu último ano de contrato na Ferrari e saiu da cena da Fórmula 1. Era preciso reencontrar a essência!

 

Seu país tem uma enorme tradição no Rally e entre uma temporada e outra, no meio da neve, este era um dos passatempos de Kimi... e porque não torná-lo ‘tempo integral’? Kimi sai dos circuitos e passa a enfrentar os desafios do mundial de Rally na equipe Junior da Citroen!

 

Longe da Fórmula 1, mas perto da velocidade, no Mundial de Rally, nem sempre foi simples ficar na pista e com rodas pra baixo.

 

Só que a vida nos Rallies é complicada e quando se dá uma saída de pista, não tem caixa de brita ou área de escape e não foram poucas vezes que apareceram cenas nos noticiários de acidentes com o ex-piloto de Fórmula 1. O que as pessoas pareciam não perceber, ou não queriam entender é que Kimi estava feliz!

 

Ali não tinha o controle rígido dos passos, das palavras ou dos atos como era na fórmula 1. Ali entrevistas eram espontâneas, sem palavras medidas, sem temas proibidos. Ali Kimi podia ser Kimi e muita gente ficou surpresa com suas fotos, tão diferentes das fotos dos tempos de Fórmula 1. Kimi sorria! Sim, Kimi sabia sorrir.

 

Quando, em algum momento de McLaren ou Ferrari alguém viu o Kimi assim: sentado no chão e com um sorriso deste tamanho.

 

Dois anos nos Rallies e até uma participação em uma prova – em oval – na Truck Series, uma das categorias de acesso para a NASCAR Kimi disputou, mas foi o convite de Eric Boullier, diretor esportivo e engenheiro da Nega Genni (a Lotus que não é Lotus) para voltar para a Fórmula 1 acabou convencendo Kimi a voltar para o meio. Um exemplo negativo estava à mostra. Michael, que voltara um ano antes, não era sombra do que foi no passado e muitos questionaram se Kimi passaria pelo mesmo problema... ele respondeu na pista, vencendo o GP de Abu Dhabi!

 

Kimi não perdeu a velocidade, não perdeu o prazer pelo automobilismo, não perdeu a capacidade de vencer e nem o hábito de primeiro dar um belo gole no espumante, antes de chacoalhar a garrafa para o público. Assim é Kimi: autêntico. Como deveriam ser todos os demais pilotos desta ‘pasteurizada’ Fórmula 1.

 

De volta à Fórmula 1, voltou e venceu. É hoje tão ou mais respeitado que antes, independente dos seus gostos pessoais.

 

Nesta última edição do GP de Mônaco, Kimi fez o que pode, andou tudo que podia, foi acertado pelo Sergio e teve um pneu furado. Depois disso, voou na pista, ainda marcou um ponto e teve o rádio censurado pela transmissão da FOM (sabe-se lá porque). Depois daquele domingo, só tomando muita vodka. Tequila? Nem pensar!

 

Beijos embriagados do meu divã,*

 

Catarina Soares

 

* Kimi trouxe, de presente, uma garrafa de Salmiakki Koskenkorva, um licor de sua terra que, misturado com vodka o drink fica preto, suave e com 76GL de álcool que a gente não sente... uhuuuu! Quero aproveitar para também dividir com os queridos leitores a alegria que tivemos, eu e o Tony, pela vitória nas 500 milhas. Valeu o papo da quinzena passada ou não, Tony?

 

Last Updated ( Monday, 27 May 2013 21:33 )