As (in)decisões de Rubinho Print
Written by Administrator   
Sunday, 16 December 2012 00:52

 

 

Olá fãs do automobilismo,

 

Embora venha acompanhando o Rubens há bastante tempo e sempre achando que ele tinha e tem potencial para disputar qualquer categoria de ponta em qualquer parte do mundo, inclusive a Fórmula 1, precisei conversar muito com ele para tentar entender suas razões em optar por abrir mão da possibilidade de continuar correndo fora do país para correr a temporada completa da Stock Car em 2013.

 

O Rubens é uma pessoa de uma humildade enorme, apesar do status de grande estrela do nosso “automobilismo pós-Senna”. Um talento reconhecido em todas as partes do mundo e muito mais respeitado fora do país do que dentro de nossas fronteiras, um “fenômeno” relativamente comum no Brasil.

 

Contudo, além deste “não reconhecimento” dois fatores pesaram por demasiado na construção da imagem de Rubens Barrichello perante a mídia e perante o público brasileiro – gostasse este ou não de automobilismo: o primeiro foi ter sido elevado, injusta e precocemente, à condição de “salvador da pátria”, “herdeiro do legado de Ayrton Senna” ou “nosso próximo campeão”.

 

Se formos analisar a história, não apenas do automobilismo, mas de todos os esportes, em uma geração de competidores, quantos conseguem conquistar um título de campeão do mundo? Aqui no Brasil criou-se uma espécie de “cobrança compulsória” para nossos pilotos após as conquistas de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Rubens foi o piloto que despontou logo a seguir.

 

Apesar dos 30 anos entre uma foto e outra, o sorriso e o brilho nos olhos de Rubinho Barrichello não mudaram. É a paixão pela velocidade.

 

Embora esta cobrança seja cruel e algo distante do controle do atleta – piloto – em questão, Rubens também tem a sua parcela de culpa. Uma culpa inocente, fruto de uma virtude de caráter que raramente combina com pessoas que se expõem publicamente.

 

Rubens sempre se mostrou uma pessoa de coração aberto, quase inocente, e de poucas medidas em suas palavras, geralmente usadas por muitos profissionais de mídia para detratá-lo durante as semanas de intervalo entre as corridas. Em outros casos, uma simples peça publicitária de seus patrocinadores poderia ser o estopim para uma campanha difamatória, como uma em que ele é seguidamente derrotado por uma criança num jogo de videogame.

 

Na Ferrari, a contradição em ter a melhor chance de ser campeão do mundo e não poder brigar diretamente pelo título, por contrato. 

 

Durante anos vivendo um conflito – interno e externo – dentro da Ferrari, comandada e bem mandada por Michael Schumacher, exposto a um contrato que não lhe dava o direito de vencer, a menos quando fosse interessante para a equipe, o jovem puro, de boa criação familiar poderia perfeitamente passar por um processo de endurecimento, revés após revés, chacota após chacota, mas não: apesar de, momentaneamente se ver uma feição pálida e sem brilho, não demorava muito a vir aquela “imagem de Rubinho” que todos que o aplaudem adoram: o sorriso fácil e o brilho nos olhos de quem olha para o carro como sendo o seu brinquedo favorito.

 

Rubens é como um menino grande, que cresceu sonhando com um brinquedo chamado Fórmula 1. O golpe de ser “saído” de seu sonho mostrou, por diversas vezes, não ter sido assimilado, mesmo com tantos sonhos possíveis de ser realizados, como um título no mundial de endurance ou uma vitória em Le Mans pareceram nunca ter tocado a sua alma.

 

A Fórmula Indy poderia ser uma estrada que, bem pavimentada, poderia levar Rubinho a um título de uma categoria top internacional.

 

2012 foi um ano de uma experiência nova: o automobilismo americano através da Fórmula Indy. Um carro novo, com regras novas, um caminho e um desafio novo que poderia se tornar uma extensão natural de sua carreira internacional. Contudo, apesar do corpo estar ali, a alma de Rubens parecia vagar em um lugar qualquer do oceano atlântico norte, entre a América e a Europa. Apesar fe ter conseguido alguns bons resultados no terço final do campeonato, algo parecia perdido.

 

Esta perda pareceu ter se dissipado na etapa de estréia na Stock Car em Curitiba. Rubens fez o autódromo lotar como nunca havia acontecido desde que a categoria adotou o esdrúxulo horário das 09:30 da manhã e reduzido a corrida para 40 minutos para atender as exigências da televisão, efeito que repetiu-se em Brasília e São Paulo. Foi aplaudido, teve o nome gritado pela torcida... e os olhos dele brilharam.

 

Se certa ou errada, a decisão de correr em 2013 na Stock Car é uma aposta alta. Foi aqui "em casa" que Rubinho reuniu seus maiores críticos.

 

Rubens Barrichello não tem que provar nada para ninguém. Foi duas vezes vice campeão do mundo de Fórmula 1, vencendo 11 corridas. Foi campeão em tudo que disputou antes, tem um nome respeitado no cenário automobilístico internacional. Caso quisesse, poderia perfeitamente ir pra casa e cuidar da carreira dos filhos, que para um aparentemente desespero controlado da mãe, seguirão a carreira do pai, dos tios e primos do lado Giaffone.

 

Embora tudo isso passe na cabeça de Rubens, é preciso considerar uma possibilidade: o risco que ele está assumindo correndo toda uma temporada da Stock Car. No próximo ano não será mais festa, será competição e – não duvide – vão cobrar desempenho e resultados... certamente aquelas mesmas vozes que o detrataram e chacotearam poderão vir a se fazer ouvidas. Tomara que não, Rubens. Tomara que não... mas esteja pronto para tudo.

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares

 

 

 

 

Last Updated ( Sunday, 16 December 2012 01:24 )