Os Garotos Perdidos Print
Written by Administrator   
Wednesday, 25 April 2012 05:14

 

 

Olá fãs do automobilismo,

 

Na semana passada eu me lembrei de um filme que assisti numa daquelas tardes de férias chuvosas do meio do ano. O título em inglês era “Lost Boys” (em português, Garotos Perdidos). Ao ler as notícias nos sites de automobilismo sobre o fim da Fórmula Futuro achei que deveria escrever sobre isso na coluna desta quinzena.

 

Acho que ninguém pode criticar, muito pelo contrário, temos mais que elogiar a atitude do Felipe Massa em procurar estruturar uma categoria de monopostos para que o meninos do Brasil tivessem seu primeiro contato com os carros de corrida que poderiam ser seu segundo passo rumo à sonhada F1.

 

Após dois anos de insistência, grids magros e uma conta que não fechava, foi o próprio Felipe quem teve o dissabor – mais um, neste ano de resultados desastrosos de uma desastrosa Ferrari – de comunida que não haveria a terceira temporada da categoria em 2012.

 

Lançada em 2010 propalando-se como grande atrativo para o início da carreira nos monopostos com a importante vantagem  de ser mais barata que a outra categoria de monopostos instalada no país – a F3 Sudam – a F-Futuro custava ao piloto que lá corresse cerca de 280 mil Reais pela temporada completa. Para o ano seguinte – 2011 – o pelo de Felipe Massa, anunciou um barateamento dos custos, com o ‘bugget’ caindo para 250 mil. Para a temporrada de 2012, a fantástica redução de custo – essa ‘mágica’ a gente tem que aprender – seria ainda maior, com o valor da temporada caindo para 220 mil, ainda podendo ser negociado!

 

 

25 anos atrás, o filme "Os Garotos Perdidos" foi lançado nos EUA. Hoje, os garotos perdidos parecem ser os nossos kartistas.

 

Durante seus dois anos de atividade, a F-Futuro procurou cumprir seu objetivo, apresentando-se aos kartistas como a grande opção para o passo seguinte. Além disso, em 2011, a RM Racing Events, do promotor Carlos Romagnoli, ofereceu ‘bolsas de estudo, como tínhamos nos tempos que fiz o ensino médio, para os atletas e bons alunos. No Campeonato Brasileiro e na Copa Brasil de Kart. Os prêmios foram descontos de 70%, 50% e 30% para os três melhores pilotos com idade compreendida entre 15 e 20 anos no Brasileiro. Na Copa Brasil, dois premiados, com 50% e 30%, respectivamente.

 

Com as perspectivas sombrias, a Copa das Federações, disputada em março último no kartódromo de Serra-ES foi alçada à condição de elegível para a conquista de descontos para a disputa da F Futuro. Os três primeiros colocados também teriam direito a descontos de 70%, 50% e 30%. Contudo, se o dinheiro está deixando de entrar de um lado, tem – necessariamente – que entrar pelo outro, certo?

 

 

Titônio Massa (a dir) e Dilson Motta (a esq) não conseguem fazer decolar as categorias de monopostos. Os Massa desistiram! 

 

Este outro seria uma ajudinha governamental. Acontece que a não aprovação do projeto de incentivo ao esporte pelo Governo Federal (que despeja e recebe cachoeiras de milhões em recursos de fonte duvidosa), somada ao baixo número de pilotos que manifestaram interesse em correr a temporada de 2012 decretaram o fim da categoria antes mesmo do final do contrato de Felipe Massa com a Ferrari (lembremo-nos que a Ferrari é uma empresa do grupo FIAT e, caso Felipe Massa saísse da equipe italiana e fosse correr em um outro time, com outro motor, seria – no mínimo – estranho que a categoria, assim como toda a estrutura do Racing Festival, agora Copa FIAT, continuasse para 2013.

 

Assim, a opção restante aqui no Brasil para os pilotos recém saídos do kart ingressarem no mundo dos monopostos seria a F3 Sudam, certo? Bem, é aí que o problema se torna mais complexo! Com um custo “quase europeu”, a categoria conduzida por Dilson Motta realizou, mais uma vez, o “Brazil Open” de F3. Assim como no ano anterior, o comparecimento de pilotos para participar do festival foi pequeno. Apenas 11 jovens alinharam e alguns destes já estão correndo em categorias europeias.

 

 

Depois de dois anos de grids magros e sem incentivo (que o governo federal dá para diversos esportes) a F. Futuro é passado!

 

Até o fechamento desta coluna, a categoria, nomeada como continental, mas sem o verdadeiro apelo – e comprometimento – do restante do continente, não havia um calendário divulgado, pré-lista de pilotos inscritos, absolutamente nada. No ano passado, a etapa uruguaia foi cancelada, substituída por uma prova em Campo Grande, depois da última data do calendário, para cumprir o número pré agendado de etapas(?)

 

Será que nosso destino é voltarmos no tempo, aos anos 60, dos nossos queridos Nobres do Grid, onde o cenário internacional era algo distante e as disputas se limitavam as corridas em território nacional? Se alguém achar que serve de consolo (para mim não serve), os argentinos correm seus campeonatos, com autódromos cheios, com apoio das montadoras e não parecem estar preocupados com o que acontece na Europa e nos Estados Unidos.

 

 

Após o "Brazil Open", nenhum comunicado foi feito sobre o calendario da categoria, pilotos inscritos, regulamento... nada. 

 

O mais triste desta história é o legado para uma enorme geração de garotos – e garotas – que estão há anos correndo de kart, de norte a sul do país. Eles que tem vídeos do Ayrton Senna, que viram Rubens Barrichello e Felipe Massa na F1, que podem ainda vir a ver Luiz Razia ou Felipe Nasr conquistar um lugar na categoria top do automobilismo mundial, terão seu sonho de um dia ser como eles cada vez mais distantes, como um dia foi no passado.  

 

 

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares 

 

 

Last Updated ( Wednesday, 02 May 2012 01:12 )