Hulk ainda tem lugar no grid Print
Written by Administrator   
Wednesday, 12 August 2020 14:54

Olá Fãs do esporte a motor,

 

Como todos sabem, a maioria dos meus pacientes regulares são pilotos, apesar de eu ter também outros esportistas. Mas tenho também alguns ex-pilotos, gente que já deixou as pistas e que continuou trabalhando comigo, porque o processo terapêutico  é uma busca evolutiva para nossas vidas, independente das etapas na vida que estamos vivenciando.

 

Um bom exemplo é o do Michael, que veio me procurar quando estava pilotando para a Mercedes e continuou trabalhando comigo depois de parar de correr. Nico fez o mesmo, continuou comigo por dois anos após a conquista do título da Fórmula 1.

 

Este também foi o caso de outro Nico, também alemão, que deixou a Fórmula 1 no ano passado com um background que não dizia respeito à sua capacidade como piloto.

 

 Chamado de última hora para pilotar o segundo carro da Racing Point, Nico Hulkemberg voltou para o grid da Fórmula 1.

 

Injustamente as pessoas não lembram que antes de chegar à Fórmula 1 ele  ganhou os títulos da Fórmula BMW ADAC, A1GP, Fórmula 3 Euro Series e GP2 de forma indiscutíveis e, se ele não fosse bom, não teria permanecido por uma década – nove anos correndo e um ano como piloto de testes – antes de perder seu lugar no grid de 2020. Aposentadoria? Isso passava e passa longe de sua cabeça e sempre falamos disso nas nossas sessões quinzenais.

 

Nossas duas últimas sessões foram bem diferentes das anteriores. A primeira, ao invés de ser de sua casa foi de um quarto de hotel, na Inglaterra. Ele telefonou para mim no dia anterior para me avisar que estava viajando para substituis Sérgio Perez na Racing Point por causa do diagnóstico de COVID-19 do mexicano. Depois que o teste COVID-19 de Sergio Perez acabou sendo inconclusivo, Racing Point entrou em ação imediatamente. O chefe da equipe Otmar Szafnauer estava se preparando para o pior e começou a selecionar as opções de substituição de Perez.

 

 Seguindo essa tendência atual, lógico que Nico ia fazer uma selfie para colocar em suas redes sociais.

 

Nico gosta de repetir a frase “sorte de campeão” que eu falei para ele algumas vezes e contou como a Racing Point chegou até ele. Os dois nomes óbvios na lista restrita eram Stoffel Vandoorne e Esteban Gutierrez. Ambos os motoristas são os motoristas reservas oficiais da Mercedes e de sua “equipe cliente”, a Racing Point. Mas o belga não estava disponível porque estava ocupado com os compromissos da Fórmula E. Mas Esteban estava disponível, então por que Otmar e companhia não deram preferência a ele? A superlicença do Gutierrez havia expirado há muito tempo (ele correu pela última vez na F1 em 2016) e não foi possível renová-la para que o mexicano.

 

Otmar Szafnauer partiu para a escolha mais óbvia uma vez que Nico já tinha um passado na antiga Force India, dos tempos de Vijay Mallya e Subrata Roy. Depois de chegar ao Reino Unido, ele fez o teste COVID e foi direto para a fábrica de Racing Point perto de Silverstone. Agora é hora de chegar ao circuito, por volta das 8 horas locais, horas antes ele se sentou em um assento do Racing Point para FP1.

 

 Sem o prepari físico dos anos que foi piloto titular na categoria, Nico Hulkenberg sabia que teria que fazer um esforço extra.

 

Nico vinha trabalhando como comentarista das corridas da categoria para a RTL, grupo de mídia alemão que transmite as corridas da Fórmula 1 e naquele final de semana estaria em Nürburgring para outro projeto de corrida, onde participaria de um evento com carros de Gran Turismo na categoria GT4. Mas diante de um convite para sentar no RP20 de Racing Point, um carro rápido, bem construído e praticamente com garantias de pontos e, pelas características de Silverstone, até mesmo de pódio, quem não iria?

 

A grande preocupação de Nico era o condicionamento físico, que por mais que um piloto treine fora do que a categoria exige hoje de um piloto de Fórmula 1, resistir aos 100 minutos de corrida em plenas condições físicas seriam um desafio e tanto, mas Nico saiu-se muito bem nos treinos, mostrando-se mais rápido que o outro piloto da equipe, Lance Stroll, entretanto, o problema – surreal – da embreagem com um parafuso solto que o impediu de largar foi bem frustrante.

 

 Na pista, o alemão não decepcionou, sendo rápido e constante, andando à frente dos concorrentes nos treinos.

 

Mas como seriam duas corridas em sequência, na semana seguinte Nico teve como mostrar um melhor preparo, um melhor conhecimento do carro e um ótimo entrosamento com a equipe. Nico é uma pessoa mentalmente muito obstinada. Ele não faz o tipo que diz “poderia, seria, deveria, porque já passou”. Tampouco é uma pessoa amarga, especialmente com o indesejado recorde de – agora – 179 corridas sem nenhum pódio na Fórmula 1. Como qualquer pessoa, ele diz que entende as situações que, “caso pudesse revivê-las, teria tomado outras decisões”, mas que no geral, está feliz com as decisões que tomou ao longo da vida.

 

Nico está pronto para qualquer desafio, enquanto ele se esforça na busca por um cockpit para a categoria em 2021 (sim, ele não desistiu), e ele mostrou que tem capacidade e velocidade para estar no grid.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares